Assim como há uma mudança ocorrendo nos segmentos de moda e beleza no que diz respeito à sustentabilidade e novos hábitos de produção e consumo, também vemos surgir uma nova tendência no ramo da joalheria: os diamantes feitos em laboratórios.
Essa pedra, que foi eternizada como “o melhor amigo da mulher” é também uma das principais frentes de marketing das joalherias. Sua imagem está associada a momentos inesquecíveis e laços de afeto especiais e duradouros.
Segundo a organização Diamonds Facts, cerca de US$ 13 bilhões em diamantes brutos são produzidos por ano, dos quais aproximadamente US$ 8,5 bilhões vem da África (aproximadamente 65%). A indústria de diamantes emprega aproximadamente dez milhões de pessoas em todo o mundo, direta e indiretamente, da mineração ao varejo.
Mas pouco o consumidor ouve falar sobre sua cadeia de produção e o impacto que a mineração deixa no planeta, ambiental e socialmente. Um dos principais impactos é a modificação da terra, pois as atividades de mineração podem levar à erosão em grande escala, o que é perigoso para a população local além de reduzir a biodiversidade da área.
Outro grande foco de atenção é o custo humano. Em muitos casos, as condições de trabalho são terríveis, com trabalho infantil e mineiros ganhando $ 1 por dia. De acordo com texto publicado pela Universidade de Ohio, essas crianças sofrem abuso físico e sexual e há também muitas doenças espalhadas entre os trabalhadores devido às más condições de saneamento e de vida. Em muitas regiões surgem o que ficou conhecido como diamantes de sangue, que são os produzidos em zonas de conflito para financiar guerras civis. O filme Blood Diamond, dirigido por Edward Zwick e com Leonardo DiCaprio no elenco, adereça esse assunto.
Foi a partir disso que surgiu o Processo Kimberly, um sistema de certificado de origem, emitido pelos governos participantes, que impede que diamantes de uma área de conflito entrem no cadeia de fornecimento de diamantes legítimos. Ele foi estabelecido em 2003 por uma resolução das Nações Unidas, após uma série de relatórios que expuseram a ligação entre o comércio de diamantes e o financiamento de conflitos. Na década de 1990, os blood diamonds representavam de 4% a 15% de todos os diamantes em circulação – hoje representam menos de 1%. Apesar de ser uma conquista, o Processo Kimberley previne apenas a distribuição de diamantes de conflito e não leva em consideração o trabalho infantil, forçado ou questões ambientais.
Joalherias tradicionais, como Chopard, Tiffany & Co e Cartier, não usam (ainda) pedras produzidas em laboratórios, mas promovem a mineração responsável, trabalhando com fontes conhecidas, materiais reciclados e minas certificadas.
Diamantes naturais x diamantes de laboratório
Agora, com os diamantes cultivados, entramos em uma nova era que pode causar uma revolução e estimular a indústria de joias como um todo, uma vez que o trabalho para a extração de ouro e outras pedras enfrentam as mesmas questões sócio-ambientais.
Os benefícios do diamante de laboratório são muitos. Para começar, especialistas afirmam que as diferenças entre eles e os diamantes naturais não podem ser vistas a olho nu. Os naturais têm pequenas quantidades de nitrogênio, enquanto os cultivados em laboratório não têm nitrogênio, um dos significantes que os gemologistas usam para identificar se um diamante é natural ou não. Depois, os processos de lapidação e corte podem atingir os mesmos resultados.
Hoje já existem muitas marcas que trabalham apenas com esses diamantes e atraem cada vez mais consumidores que já entendem e apoiam essa nova ideia, como é o caso da Kimai, que tem Meghan Markle como cliente . “Este é um mercado que está realmente maduro para a modernização”, diz a fundadora Jessica Warch.
Já a marca britânica Matilde usa diamantes de laboratório, ouro reciclado e trabalha de forma transparente, tornando sua cadeia de produção o mais sustentável possível. Há também a Oui by Jean Dousset, joalheria que pertence ao tataraneto de Louis Cartier. Seu slogn: a modern love deserves a modern diamond (um amor moderno merece um diamante moderno). No site da Oui, como também notamos em muitas outras marcas, há uma página que conta mais sobre o processo em laboratório para que o público entenda e passe a aderir a essas pedras.
O Brasil não fica de fora e por aqui temos a nova marca Tantum, criada por Nathan Gilbert, expert e apaixonado por joias há mais de 30 anos que, em uma nova empreitada, lançou uma grife de joias com diamantes 100% feitos em laboratórios. Em todos os casos, os fundadores reforçam que a experiência de uma joalheria tradicional é garantida, com cuidados especiais que vão do atendimento à embalagem.
Para o consumidor, há uma chance de fazer uma escolha que leve em conta o todo e não apenas o seu desejo por algo bonito e duradouro. É mais uma chance de conhecer melhor as grifes e suas missões e seguir perguntando: quem fez, como fez e onde fez?