Assim como dias atrás Pieter Mulier escolheu o conforto do seu próprio lar na Antuérpia para apresentar a última coleção da Alaïa, Francesco Risso também buscou esse sentimento de acolhimento, mas de uma forma um tanto apoteótica, digamos assim. O diretor criativo da Marni escolheu o Yoyogi National Gymnasium, construído para as Olimpíadas de 1964 de Tóquio, como seu local de fuga.
E tem sentido, o já conhecido senso de paciência, cuidado e cautela japonês, o fez entender que a coleção faria mais sentido sendo apresentada ali – claro que há o motivo financeiro e da Ásia permanecer como o mercado mais aquecido, porém vamos parar por aqui. Os 1.800 convidados foram surpreendidos pela Tokyo Chamber Orchestra, que transformou a apresentação em uma experiência – a trilha, inclusive, foi fator determinante para Risso, que revelou que a preocupação se deu justamente por ele ser músico e querer que todos entendessem a magnitude que a música pode causar.
Ao olhar para os 64 looks percebe-se que a divisão por blocos de cores (amarelo, vermelho, branco e preto) também remete aos atos de uma ópera. Do primeiro look monocromático e rente ao corpo até ao último com formas bold e padronagens, é como se a cada entrada todos ganhassem uma nova camada. Impossível não pensar em Rei Kawakubo, mas apesar dessa presença discreta (ou nem tanto), muitos elementos são bem Marni: suéteres com efeito fuzzy, texturas envernizadas, proporções milanesas nas peças planas.
O que me chamou atenção foi o release-manifesto escrito a mão por Risso em que pode-se ler: “Por que eu faço roupas? Por que elas são nossas companhias… Eu não sei se eu faço as roupas que as pessoas precisam ou se faço roupas para que as pessoas entendam que as roupas precisam urgentemente de pessoas… O que sei é: hoje precisamos cada vez menos de roupas desnecessárias”. Uma forma quase filosófica e bem poética que pode ser resumida em: essencial. Palavra que vem se fazendo cada vez mais presente na moda e entre criativos.