Uma coisa é inquestionável: Paula Raia tem um estilo pessoal e autoral. Em um teste cego podemos reconhecer suas silhuetas, cumprimentos e, nos últimos tempos, inclusive suas texturas. Pontuo isso, pois Paula sempre procura materializar os sentimentos e sensações mais abstratos.
Dessa vez, não foi diferente: simultaneidades. Como torná-las presentes, tocáveis e vistas a olhos nus? Paradoxal. Mas a designer paulistana consegue nos dar as respostas entre o visual e o etéreo, tendo quase sempre os dois pés fincados no misticismo e no realismo mágico – os insetos em tamanho máxi são provas vivas.
A mesma lupa que os aumentou também serviu de instrumento para as texturas: felpudas, aconchegantes, infladas, repletas de matelassês… Roupas que tocam. A cartela soturna foi uma surpresa e pontuou, ao lado dos metalizados, os característicos terrosos com que estamos acostumados.
Apesar da languidez, nota-se um enrijecimento, são roupas-casulo para hibernar e sonhar com outras realidades, outros mundos, sem deixar de serem perfeitas para esse planeta que habitamos. Maximalista ao seu modo, Paula nos proporcionou uma epifania, um deslumbre… em meio a uma poética relva e intensa neblina.