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    BOLSAS DE VALOR: COMO AS MARCAS ESTÃO ajustando seus preços

    Entre reajustes nos preços, falsificações e popularização, marcas procuram alternativas para se manterem relevantes e, claro, exclusivas

    BOLSAS DE VALOR: COMO AS MARCAS ESTÃO ajustando seus preços

    Entre reajustes nos preços, falsificações e popularização, marcas procuram alternativas para se manterem relevantes e, claro, exclusivas

    POR Vinicius Alencar

    Entre os inúmeros dilemas que a moda vem enfrentando, um deles em especial tem sido objeto de estudo de conglomerados e grandes marcas, especialmente as que possuem boa parte de suas vendas baseadas em acessórios – ou seja, quase todas. Se por um lado a popularização de itens de luxo e do fator exclusividade foram esvaziadas pelo excesso dos unboxings no Tik Tok – aqueles vídeos que creators abrem compras para suas audiências –, isso vem sendo minado pelo reajuste de preços. Mas entrego um spoiler: os novos valores não estão intimidando.

    Desatar o laço de uma caixa laranja Hermès se tornou um conteúdo rotineiro, tão comum que o perfil “The Birkin Slayer” ganhou mais de 100 mil seguidores em poucos dias ao denunciar influencers que ostentavam cópias, top vendedores de réplicas ao redor do mundo e dicas para reconhecer um modelo falso. Afinal, a conta não fecha: como podem existir tantas unidades de um modelo que precisa de anos de fidelidade de compra para então ser oferecida para os clientes mais especiais?

    Tecnologia x exclusividade

    Enquanto isso, no Brasil, a centenária Hermès lançou discretamente o seu e-commerce, em poucos cliques você consegue adquirir uma bolsa de 50 mil reais e receber em casa. O paradoxo entre tecnologia e, mais uma vez, a  exclusividade. Diante dessas facilidades e trivialidades, notei a mudança de estratégia de alguns influencers, que para manter sua audiência entretida e deslumbrada, mudaram a narrativa: ao invés de postarem o unboxing, agora filmam toda a experiência, do e-mail com hora marcada para retirar sua Birkin, passando pela visita a loja física, com ênfase no champagne servido em uma sala privada. Quanto mais provas de autenticidade… melhor!  ​

    Menos por mais

    ​Ironicamente, mesmo com essa popularização e com a crise mundial avançando a passos largos, o mercado de luxo parece não ter receio de ser afetado. Louis Vuitton e Chanel vêm, desde a pandemia, ajustando seus preços, com alguns modelos tendo aumento entre 20 e 31%, especialmente nos últimos dois anos. Isso tem impactado negativamente nas vendas? Pelo contrário: o grupo LVMH (Louis Vuitton, Dior, Celine) cresceu suas vendas em 23% enquanto o grupo Kering (Saint Laurent, Gucci, Bottega) 15% e o grupo Prada 21% .

    O novo modelo de preços da Telfar

    Em resposta a essa corrida de ajustes e reposicionamento, marcas pequenas e independentes também estão criando novas fórmulas para precificar. Dentre elas, destaca-se Telfar, designer que alcançou status global por unir hype, preços justos e senso de comunidade – chamando atenção até de Beyoncé, que canta em Summer Renaissance: “This Telfar bag imported, Birkins, them sh*ts in storage“.

    Sua nova coleção, que está sendo lançada nesta segunda-feira (27.01), não apresentará preços de varejo definidos. Em vez disso, a velocidade com que os itens são vendidos ditará seus preços.⁠ ⁠Como assim? O designer anunciou que cada item da linha começará com o preço de atacado. Esse preço inicial aumentará gradualmente até atingir o MSRP (o valor pelo qual uma peça de roupa seria vendida na loja). Se um item esgotar antes de atingir o preço sugerido, ele permanecerá com esse valor com desconto permanentemente.⁠ ⁠

    Para ilustrar: se o preço de atacado de um moletom for R$ 100 e chegar a R$ 110 no momento em que esgotar, esse moletom custará R$ 110 em todas as coleções futuras da Telfar. Esse modelo pouco ortodoxo garante que os itens mais vendidos da coleção e, portanto, os mais populares sejam os mais acessíveis.⁠ É um movimento ousado e inovador mas será que vai dar certo?

    É sobre valor, não volume

    Num momento em que bolsas de cinco dígitos se tornam mais valiosas do que ouro (literalmente!) e a especulação sobre elas cresce a cada dia, percebemos que as grandes marcas voltam a focar numa ideia bem conhecida: o luxo baseado na exclusividade, que pode até vender menos em volume de peças, mas se segura nas margens maiores de lucro. Depois de anos de um suposto luxo acessível, nota-se um resgate de seu significado tradicional de raridade, onde o valor se sobrepõe ao volume.

    Procurando um sentido mais humano e real para além do capital, o grupo Kering justificou que os aumentos dos preços, não visam unicamente o lucro, mas são uma forma de manter números positivos aliados à sustentabilidade, já que a produção mais enxuta diminui consideravelmente a o impacto ambiental do grupo – e a faz sair na frente nas causas ambientais, especialmente se comparada às suas concorrentes diretas. 

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