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    CLODOVIL: A história do polêmico estilista e apresentador

    CLODOVIL: A história do polêmico estilista e apresentador

    POR Gabriel Fusari

    Millennials ao ouvirem o nome de Clodovil Hernandez devem se lembrar mais de seus comentários afiados na TV ou na política, do que sua trajetória na moda, por mais marcante que ela tenha sido. Nascido em 1937 e falecido em 2009 vítima de um AVC, Clodovil costumava dizer que “perdia o amigo mas não perdia a piada” e manteve sua língua afiada e comportamento problemático por onde passava.

    O início

    Nascido em Elisiário, no interior de São Paulo, Clodovil foi adotado por um casal de imigrantes espanhóis. A família tinha uma loja de tecido onde a mãe fazia vestidos de noiva. Foi aí que começou a despertar o interesse do jovem artista pela moda. 

    A habilidade com desenhos e o apreço pelo métier eram uma faca de dois gumes. De um lado era aclamado pelo talento e de outro, do outro, criticado por todos à sua volta, por não corresponder a aquilo que se esperava de um homem nos anos 1950. As coisas começaram a mudar quando, em 1957, se mudou para São Paulo e começou a participar de concursos de costura que renderam a ele uma comparação com o costureiro francês Jacques Faith.

    Em 1961, Clodovil ganhou o concurso Agulha de Ouro, vencendo o estilista Dener Pamplona. Mais tarde, Dener viria a alimentar a lenda de ser seu maior rival e concorrente, rendendo até enredo na televisão para a criação da novela Ti-Ti-Ti (1985 e 2010), da Rede Globo. Clodovil e Dener além de dividirem os holofotes como protagonistas da chamada “alta costura brasileira” (que na verdade era moda de atelier inspirada pela moda europeia), se alfinetavam publicamente como forma de aparecer em colunas sociais – as vitrines da época. 

    Acusavam um ao outro de fazerem cópias da moda francesa, apenas replicando tendências que surgiam em Paris. Embora os dois fossem conhecidos nacionalmente por causa das aparições na TV, a moda no Brasil ainda não era estabelecida. Faltavam escolas de moda, uma indústria profissionalizada e suporte público para que a moda furasse a bolha da elite.

    Essa situação fez com que os criadores dessem uma trégua e se juntassem para promover a “Revolta das Tesouras” em 1976, que pretendia criar uma Câmara de Alta Costura no Brasil, similar ao que existe na França, como indica o livro Tons de Clô (que vai ter uma adaptação audiovisual em breve, com o ator Silvério Pereira vivendo Clodovil). Porém a causa ficou eclipsada diante de outras urgências do Brasil na época, que vivia o governo de Ernesto Geisel. O ego dos artistas também foi um dos principais motivos da desarticulação do movimento. 

    Seguindo com sua moda de ateliê, ele tentou expandir para o mercado de prêt-à-porter, licenciando seu nome (mesmo de nariz torcido), assim como as marcas internacionais estavam fazendo no país.

    Sempre enaltecendo mulheres com sua idealização de elegância, na sua perspectiva de glamour, ele via a moda com um olhar elitista,  mesmo que na TV falasse sobre o assunto para o telespectador de classe média baixa. Ao fantasiar uma alta costura à brasileira apostava em peças bem formais e eurocêntricas: separates em xadrez inglês, listras e linhas eram sua marca registrada; e o linho, um de seus tecidos favoritos. Inclusive, reclamava publicamente das tecelagens que ofereciam pouca variedade de matérias primas. Entre suas criações, os vestidos de debutantes e de noivas eram, de longe, os mais pedidos. 

    Segundo o estilista e historiador de moda José Gayegos, Clodovil era capaz de fazer peças com acabamento tão perfeito ao ponto de poderem ser usadas do avesso.

    CLODOVIL ALÉM DA MODA

    Clodovil se via com alma de artista. Cantava, pintava, atuava e vestia. São incontáveis os projetos que ele fez em paralelo. Mas a moda nunca deixou de ser uma delas, só de ser o principal meio de sustento do estilista. De vez em quando, ele fazia roupas para clientes fiéis e amigas que imploravam por suas criações. Ainda com um pezinho na moda, ele fez figurinos e croquis para apresentações de teatro, como seu musical autobiográfico “Ele e Ela” (2006) que abordava sua sexualidade. 

    Seu grande estrelato nacional foi não só em publicações de revistas de moldes, que levavam suas criações, mas também com o programa TV Mulher, que foi ao ar na TV Globo entre 1980 e 1986. Clodovil apresentava seu quadro de moda que quando não desenhava ao vivo modelo de croquis para jovens moças, respondia dicas de estilo com suas alfinetadas e humor ácido.

    Hoje lembrado pelos problemáticos comentários contra direitos básicos para a população LGBTQIA+, Clodovil foi um dos primeiros gays afeminados que falavam abertamente sobre sua sexualidade na televisão. Em plena ditadura militar, ele foi um grande porta-voz contra os estigmas da AIDS. Quando o tema era um tabu, defendeu as pessoas da exclusão e do obscurantismo que a mídia jogava para as celebridades que contraíram a infecção. 

    Nos inúmeros programas que ele teve na TV (Manchete, Band, Rede TV, Globo), as críticas sobre seu comportamento inadequado contrastavam com os momentos de lucidez, quando combatia a homofobia ao vivo. Lia cartas, trazia contextos familiares e memórias de vida como forma de contextualizar o telespectador sobre respeito às diferenças, ao seu modo, claro. Controverso, mas, sem dúvidas, peça fundamental da história da moda nacional. 

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