A estreia de Peter Do na Helmut Lang não salvou a NYFW – e quem poderia salvá-la?
Uma reflexão sobre a semana de moda norte-americana e o seu enfraquecimento em escala global
A estreia de Peter Do na Helmut Lang não salvou a NYFW – e quem poderia salvá-la?
Uma reflexão sobre a semana de moda norte-americana e o seu enfraquecimento em escala global
Sim, a semana de moda de Nova York faz a roda girar quando falamos da indústria, mas para quem a acompanha há tempos sabe que ela vem perdendo um certo brilho. “Estamos saudosos ou em busca de um novo Calvin Klein?”, questionava enquanto assistia ao streaming do desfile de estreia de Peter Do à frente da Helmut Lang, marca que hoje pertence ao grupo Fast Retailing, que também tem em seu portfólio a gigante Uniqlo.
O desfile que deu start à semana de lançamentos para o verão 24 internacional – e era o mais aguardado – foi um belo balde de água fria. A visão de Do sobre o legado da Helmut Lang é interessante, mas insuficiente para resgatar a relevância da marca e dos códigos do criador austríaco, um dos mais influentes da sua geração.
Apesar de ter sido dura, Cathy Horyn (lendária jornalista do New York Times, agora no The Cut) disse uma verdade em sua crítica sobre a coleção: “são roupas que enchem o guarda-roupa, mas não transformam o guarda-roupa. Se for para isso, melhor comprar numa Uniqlo, do que na Helmut Lang”. Isso talvez valha para a maioria das marcas que compuseram o calendário da mais recente semana, encerrada na última quinta-feira (14.09).
Fato é que faltam grandes estrelas e real inovação na NYFW, uma das (ainda) principais semanas de moda do globo – Ralph Lauren, um dos nomes seminais da moda estadunidense foi o único dos grandes a desfilar. De volta após quatro anos sem se apresentar dentro do evento, também não conseguiu o impacto de outrora em que brilhava ao lado de designers que definiram o que ainda conhecemos como o estilo norte americano, como Calvin Klein e Donna Karan. Até mesmo Marc Jacobs, que atravessa uma fase bastante complicada, tem desfilado fora da semana.
A última turma proeminente e impulsionada por Anna Wintour, com Altuzarra, Phillip Lim, Jason Wu e Proenza Schouler, parece um tanto eclipsada e estagnada, enquanto uma nova geração busca desesperadamente seu lugar ao sol, que vai de Collina Strada a Area. Claro, há marcas comentadas e que tem seus fãs, como Khaite e LaQuan Smith, mas longe de terem o impacto e sucesso comercial que seus pares italianos e franceses alcançam.
As passarelas da NYFW há algum tempo já não são mais responsáveis por ditar e influenciar a moda no país. Pelo contrário, atualmente, a marca mais falada nem se quer desfila. A Aime Leon Dore, de Teddy Santis, considerada a nova Ralph Lauren, vem atualizando o preppy e o estilo estadunidense de vestir, causando desejo e se solidificando para além do hype do streetwear. Mas como diz o ditado: uma andorinha só não faz verão.
É, por isso, que já não olhamos mais para as passarelas novaiorquinas em busca de novidades e uma sensação de modernidade. O novo, definitivamente, não virá mais dos mesmos lugares.