Couro fake é mesmo ecológico?
Lançamentos como os da marca de Kylie Jenner, chamam atenção para os problemas do couro sintético para o meio ambiente.
Couro fake é mesmo ecológico?
Lançamentos como os da marca de Kylie Jenner, chamam atenção para os problemas do couro sintético para o meio ambiente.
No início de novembro, com o lançamento de sua marca de roupas KHY, Kylie Jenner apareceu em seu Instagram usando uma das peças que seria a mais icônica daquela coleção: um trench coat preto de couro fake feito de material fóssil, mas que alguns insistem em classificar como ecológico ou vegano.
Lançada com o propósito de oferecer design assinado por uma celebridade a um preço acessível, as peças de fato entregam um bom corte e acabamento. Mas Kylie se esqueceu de pensar sobre o maior problema de uma marca de moda no atual cenário: quais os impactos ambientais de roupas feitas de material plástico que duram tão pouco?
O aumento do uso do couro fake
Shein, Marks & Spencer, Zara, C&A, H&M… a lista é gigante e um fator se repete: as infinitas opções que utilizam o couro sintético como matéria prima em detrimento ao couro animal como se, ao fazer isso, todos os problemas ambientais estivessem resolvidos. Especialistas em sustentabilidade arriscam dizer que não apenas não está, como ele aumentou.
Não existe nenhum sistema para reciclar esse material, então no fim do dia, estamos contribuindo para a criação de outro monstro ambiental, cuja produção contribui para a crise climática e destruição dos ecossistemas. Atualmente, vale lembrar, não existe legislação que regule a produção ou utilização destes materiais.
“Couro sintético em geral é um termo impreciso e vago. Vem com todas as insinuações em torno das qualidades positivas inerentes ao couro, que estão tão longe das qualidades do plástico como matéria-prima em termos de durabilidade, longevidade e compostabilidade natural. Precisamos chamar os materiais pelo que eles são.”
Jocelyn Whipple, especialista em materiais responsáveis na consultoria de moda sustentável The Right Project
Jocelyn Whipple é especialista em materiais responsáveis na consultoria de moda sustentável The Right Project e afirmou ao The Guardian: “Couro sintético em geral é um termo impreciso e vago. Vem com todas as insinuações em torno das qualidades positivas inerentes ao couro, que estão tão longe das qualidades do plástico como matéria-prima em termos de durabilidade, longevidade e compostabilidade natural. Precisamos chamar os materiais pelo que eles são.”. A jornalista especializada em moda e tecnologia e ativista vegana Alexandra Farah concorda: “Acho ‘couro’ de poliuretano o fim do mundo. Só não é pior que couro de pele animal.”.
A alternativa de fato sustentável
Mas, afinal, se é condenável matar animais para obter o couro conhecidamente durável e a alternativa mais comum é tão nociva ao meio ambiente quanto, o que nos resta? Muitos especialistas no tema afirmam que o futuro está nos materiais que são resíduos agrícolas ou orgânicos. De restos de maçã, cogumelos e até mesmo utilizando bactérias (como a dinamarquesa Ganni), as alternativas têm sido testadas.
Segundo reportagem do The Guardian, um material promissor está sendo desenvolvido a partir da alfarroba por Dio Kurazawa, fundador da consultoria de moda sustentável Bear Scouts. A alfarroba cresce abundantemente em sua fazenda, em Portugal, e as cascas são transformadas em pó para produzir um material semelhante ao couro que, segundo ele, é comparável em termos de durabilidade. Um trabalho com a Reebok para fazer um produto de teste já está em andamento. A designer Stella McCartney desfilou em setembro looks feitos de Mirum, um material vegetal que não contém produtos petroquímicos ou plásticos e é reciclável.
“O lado positivo é que já temos tecnologia o suficiente para um material novo de alta qualidade com muito menos impacto. É realmente uma questão de tempo até que isso ganhe o mercado de forma mais geral.”
Alexandra Farah
Os couros realmente ecológicos já são realidade
“Hoje os couros de cactus, de maçã, abacaxi, já usam muito menos plástico em sua composição, mas os couros de fibras vegetais não são os mais modernos. O couro de micélio, o feito a partir de nanotecnologias, e os cell leathers, são a próxima geração. O lado positivo é que já temos tecnologia o suficiente para um material novo de alta qualidade com muito menos impacto. É realmente uma questão de tempo até que isso ganhe o mercado de forma mais geral.”, completa Alexandra. O chamado Lunaform, apresentado pela Balenciaga, é o retrato perfeito de até onde a tecnologia já tem conseguido ir.
O desafio atual da indústria é aumentar a produção e acelerar a adoção dessas alternativas para além das marcas de luxo do norte global, para que todos os consumidores tenham acesso a peças de qualidade, duráveis e verdadeiramente sustentáveis.