Vitoria Fiore: “Quero apresentar um programa da GNT. Saia Justa, me aguarde!”
Iniciamos uma série de entrevista com influencers que criam conteúdo para além da mera imagem.
Vitoria Fiore: “Quero apresentar um programa da GNT. Saia Justa, me aguarde!”
Iniciamos uma série de entrevista com influencers que criam conteúdo para além da mera imagem.
O FFW inicia com Vitoria Fiore uma série de entrevistas com alguns influencers que tratam a moda para além dos likes e da imagem pela imagem.
“Not that cliche” é o arroba de Vitoria, a influencer que conquistou mais de 70 mil seguidores no Instagram falando sobre moda e para a moda. Como? O seu podcast “Clichê Talks” consegue reunir todo um sortimento de nomes-chave da indústria da moda nacional, que dão diferentes perspectivas e olhares de como funciona a engrenagem do mercado e, claro, suas particularidades.
Aos 26 anos, Vitoria é quase uma veterana no mundo da influência, já que começou bem jovem ao compartilhar como era a vida de uma estudante de moda fora do país. De lá para cá foi lapidando seu conteúdo e amadurecendo para além do #OOTD e sem se limitar ao #GRWM. Num mundo que parece ser de faz de conta e cada vez mais saturado, ela segue com uma seriedade bem rara – ver a criadora em ação conduzindo seu podcast, pensando em pautas e equilibrando com publiposts percebe que, sim, profissionalismo é a característica que a difere.
Como começou?
Meu início do que seria uma carreira no mercado de influenciadora começou com o mesmo propósito que estou conseguindo alcançar hoje: trazer informação para as pessoas, permitir que elas sonhem e se imaginem naquele lugar que às vezes parece difícil de alcançar. Muitas meninas pediam para eu mostrar como era estudar em NYC, estudar na Parsons, como era esse dia a dia vivendo moda em uma cidade que respira isso. Foi aí que tudo começou e tomei gosto pela conexão digital.
Qual foi o turning point para passar a viver de criação de conteúdo?
Quando optei por voltar para São Paulo, ainda não estava convencida que o mercado era pra mim. Não me identificava com os perfis de influenciadores que atuavam nessa área e mesmo já havendo feito uma única publicidade para a Farfetch, ainda não entendia como iria me encaixar. Depois de 8 meses frustrados aplicando para empresas grandes na área de marketing, dei a sorte de encontrar pessoas que conseguiram enxergar todo esse potencial que na minha visão não era claro… então assinei meu primeiro contrato com agência uma semana antes da pandemia e aos poucos fui me entendendo nessa nova fase – me redescobri como comunicadora, o mercado me abraçou, me conectei com pessoas incríveis e meu público se abriu e se adaptou para essa nova fase do Not That Clichê. Não foi fácil ou rápido, mas olhando para trás, não tinha caminho que fizesse mais sentido do que esse.
O que é conteúdo pra você?
Essa tem sido uma pergunta que me acompanha desde o começo. Inclusive acredito que o podcast tenha sido consequência desse constante questionamento interno – o que estou trazendo para o meu público? Mas não vamos nos apressar. Acredito que nas redes sociais, conteúdo é algo que agrega. Desde vídeos longos e informativos sobre um determinado assunto, até uma página de meme que te faz rir depois de um dia cansativo. Só é um conteúdo, aquilo que tem substância – seja ela qual for.
Como ser original e singular num mercado saturado?
Passei grande parte da minha adolescência sendo insegura e querendo me encaixar nas caixinhas que eram propostas. O problema é que eu amava diferentes aspectos de todas as caixinhas que me eram apresentadas – queria estar com o cabelo feito igual as patricinhas, queria usar as roupas fora do padrão dos alternas, queria ter a atitude dos skatistas. Até que na minha primeira sessão de terapia, aos 14 anos, perguntei: como eu escolho quem eu quero ser? E ela respondeu: mas quem disse que você precisa escolher? Desde então, fiquei em paz. Percebi que esse era meu “super poder”, isso que me destacava. Transitar por diferentes pessoas, ambientes, estilos. Todos se sentem à vontade comigo porque eu me sinto à vontade com tudo e todos. Misturar roupas sem a pressão ou compromisso de ter que fazer algum sentido – daí veio também a minha hashtag #MixAndPleaseDontMatch . A vida é plural, as pessoas também. Quando você escolhe, você se limita… e isso é algo que meu lado aquariano se recusa a fazer.
Como você lida com a questão da responsabilidade sobre o conteúdo que cria, as coisas que diz e o impacto que elas podem ter sobre as pessoas?
O Brasil é um país muito grande, muito complexo, com muitas culturas e realidades diferentes. Fui educada para estar atenta quanto a isso desde muito cedo, inclusive por que meus pais que já fizeram parte desse recorte sempre me mantiveram com pé no chão (minha mãe vindo de uma cidade muito pequena do sul e ambos tendo que suar muito pra mudar seu estilo de vida). Um dos grandes desafios é transmitir a sua realidade (sou extremamente privilegiada), suas viagens a trabalho, as marcas de alto luxo que trabalho de uma forma que não afaste o outro ou faça ele se sentir muito distante da mensagem que você quer comunicar com tudo isso. Tenho seguidores de todas as partes do Brasil que vibram com as minhas conquistas e querem que eu carregue eles ao meu lado, então é preciso reconhecer isso, equilibrar as dicas e marcas que trabalhamos, tomar cuidado com as falas e reclamações que para muitos pode parecer futilidade. É preciso ter isso muito claro e encarar essa pluralidade como algo rico e positivo, estar com o olhar atento e os ouvidos abertos – tem muitas críticas que vem para o bem.
Dá pra viver de criar conteúdo?
Sem dúvidas. Hoje em dia o mundo já entendeu a potência que os creators têm e as redes sociais também perceberam que precisam facilitar a monetização de quem se dispõe a estar lá alimentando aquela plataforma. Mas como tudo tem dois lados, o mercado nunca esteve tão saturado e a demanda por esse trabalho nunca foi tão alta. Então é preciso sim estudar o mercado, manter uma constância e estar disposto a subir as escadinhas para chegar onde sonha. Ao contrário do que muitos acham, para a maioria é necessário muita disposição, muita energia e resiliência para se tornar relevante nesse meio.
Onde quer chegar?
Uns anos atrás eu nem sonhava em estar onde estou hoje porque por mais que não transpareça, tenho muitas inseguranças. Tenho certeza que ainda vou sonhar com realizações que talvez nem alcançaram meu subconsciente. Mas de um tempo pra cá tenho ficado cada vez mais confiante no meu caminho e no meu propósito – quero ampliar o que sempre fiz, que é inspirar pessoas, criar recursos que possivelmente ajudem a facilitar o caminho daqueles que se veem tão distantes da onde querem chegar e pra nao perder o costume, quero apresentar um programa da GNT. Saia Justa, ME AGUARDE! E uma capa impressa também. Vai dar certo!
Como você vê o mercado de criadores de conteúdo de moda nos próximos anos?
Estava debatendo sobre isso com o meu time esses dias… tentamos prever fórmulas de sucesso, analisar o conteúdo daqueles que bombaram muito rápido, montar estratégias para diversas plataformas, e o que percebemos é que nada faz tanto sucesso quanto ser você mesmo. Se comunicar da maneira que é mais fiel e original a VOCÊ vs. observar os outros. O outro já existe, já conquistou seu mercado, quem não for fiel ao seu estilo e a sua personalidade – seja de roupa, comunicação ou plataforma – vai ter dificuldade para suceder. Eu observo um mercado que tem sede por novidade, por PERSONALIDADES, o público quer se conectar. Quer o cru, quer o processo, cansou do supérfluo mamão com açúcar. Saiba suas qualidades e aposte nelas.
O que te fez escolher a moda como foco?
Sou muito grata por ter nascido nesse meio, meu país tendo confecção no Brás, José Paulino (a Limelight), cresci vendo minha mãe ler revistas, viajar para pesquisar as tendências, me contar o que tinha de mais novo. Antes de saber me comunicar e vender meu peixe, a moda já fazia isso por mim. Já deixava claro através das minhas roupas se estava me sentindo sexy, triste, aberta ao mundo ou não querendo chamar muita atenção naquele momento. A moda me acolhe e sempre foi assim. Como não escolher aquilo que me escolheu primeiro?
Gostar de roupa basta para virar uma creator de moda?
Hoje em dia, sim. (Não fique triste comigo, Vifran rsrs) Como falei na pergunta anterior, moda tem diversos propósitos. E hoje em dia tem diversos públicos. Durante anos a fio, moda era pra poucos, para a elite – hoje isso não é mais a realidade e o mercado precisou sim se abrir e abraçar um novo público que apenas gosta de roupas. Eu ainda acredito que moda e roupa são coisas completamente diferentes e muitas pessoas que se dizem amar moda, na verdade só amam comprar roupas. Mas observando o mercado, isso não tem impedido essas pessoas de estrelar campanhas, estar em semanas de moda e trabalhar com grandes marcas do meio. Elas amam moda? Não. Mas atualmente, o mercado de moda parece amar elas.
O que você diria para quem quer se tornar uma creator?
O que eu digo sempre: antes feito do que perfeito. Apenas comece, apenas grave, apenas poste. Encontre seu nicho, encontre sua linguagem, transpareça sua personalidade e POSTE. Tem público pra todo mundo.
Como é a produção/rotina de conteúdo?
Antes do podcast era muito instável: tinha meses e semanas com muita demanda, e outras calmas até demais. Hoje em dia, com tantas frentes que assumi, a demanda é tão intensa que me falta tempo pra preencher tudo que está na agenda, falta tempo para me observar e até cuidar de mim – mas espero mudar isso logo menos. O mercado esquentou muito e com isso a demanda de trabalho também, graças a Deus. Mas não podemos deixar o autoral de lado, aquilo que nos conectou inicialmente com o nosso público, prestar serviço ao nosso público: dicas, insights, ajudar de alguma maneira. Se você deixa eles de lado, eles também não vão mais te priorizar.
Qual os ônus e bônus ao se posicionar sobre polêmicas?
Bônus: Comunidade. Você fortalece aqueles que estão com você e que tem identificação com a sua opinião. Ônus: quem pensa o oposto, vai embora. Mas será que é um problema? Não sou bitolada em números e isso nunca foi algo que me paralisou… prefiro ser fiel aos meus princípios e acreditar que estou dando voz aqueles que contam comigo do que ser tomada por um medo irreal de julgamento externo. Quem fica muito tempo no muro, uma hora cai. Prefiro estar com os pés no chão, junto aos meus.
Se sente pressionada a ter opinião sobre tudo?
Na verdade, esse é o ônus. Hoje em dia confundem influenciadores com portais de notícias e não é muito assim: todos nós somos ignorantes em algum aspecto e existe uma responsabilidade enorme em assumir uma causa. Cada um absorve notícias de um jeito e é preciso muito cuidado ao expressar qualquer coisa… mas o mais importante é sempre se educar, estar aberta e principalmente ter humildade na hora de escutar, para nossa própria evolução e educação pessoal. O mundo está mais intenso do que nunca, a cada hora aparecem notícias de quebrar o coração, e acho que ninguém está dando conta de absorver tudo. É preciso calma e empatia, principalmente com questões tão complexas quanto ao que estamos vivendo.
E, por fim: o seu podcast é um sucesso, tendo desde o início convidados nomes-chave da indústria. Porque podcast, você vê como um formato que as pessoas sentem vontade de consumir ou achava que faltavam bons podcasts sobre moda?
Trabalhar com a internet pode ser extremamente solitário, por mais irônico que isso seja, vindo de alguém com dezenas de milhares de seguidores. Nós costumamos ser nossos maiores críticos e ao mesmo tempo temos que ser o melhor vendedor do nosso peixe. Tudo isso pra dizer que: costumamos ser nossa própria régua, trabalhamos muito com feeling. E o meu feeling me dizia que a comunicação por apenas 15 segundos de stories (na época) não era o suficiente. Eu comecei na internet querendo trazer informação e 5 anos depois essa demanda interna me pegou de novo. Sentia falta das conversas que tinha em nyc com pessoas que mal conhecia, com passados e vivências extremamente diferentes da minha mas que de alguma forma a vida possibilitou um encontro e uma troca. Eu queria sentir e transmitir isso de novo. Podcast era algo que mal tinha bombado quando tive a ideia, no final de 2021. Tinha episódios gravados para IGTV que infelizmente se perderam – mas como tudo acontece por uma razão, comecei do zero, em um estúdio em São Paulo, convidando amigos e personalidades que tinham CONTEÚDO (agora sim! rs) e muito a agregar. A experiência foi maravilhosa, a repercussão também, e sabia que tinha criado algo muito valioso ali naquele espaço. Amo conversas longas e brinco que uso o podcast de desculpa para trocar com pessoas que amaria tomar um cafe… então não poderia ter formato melhor.
E como você se prepara: dos convidados até a pauta, edição, etc?
No início eu e meu produtor estávamos com a mão na massa do começo ao fim. Eu mesma editava alguns cortes, algumas chamadas, pesquisava os convidados mas com o tempo a equipe foi crescendo, aprendendo (nunca tínhamos subido um vídeo no YouTube, o primeiro episódio foi um caos haha) e agora chegamos em um momento mais confortável. Ao mesmo tempo, sigo sendo muito detalhista, a faculdade me ensinou isso. Comunicação pode parecer algo óbvio e instintivo, mas não é… a leitura do título tem que estar perfeita, a chamada do corte precisa instigar, o som do beep entre uma cena ou outra tem que ter um timing certo – peço pra mudar o tamanho da fonte da capa de YouTube 5 vezes se necessário ou trocar o shape rosa que está no fundo da TV 52x (sim, isso aconteceu e não vamos falar sobre). Sobre os convidados, eles estão sempre alinhados às pautas que queremos trazer e fazemos reunião de alinhamento para bater o martelo. Tudo passa por mim antes de ser aprovado, mas não quero que seja sempre assim porque acaba ficando muito pesado. Nunca vou conseguir abrir mão 100% porque afinal de contas, é meu projeto do coração, mas quero conseguir me organizar melhor para ser mais leve. Tenho uma equipe fantástica que, assim como eu, quer sempre aprender e melhorar, e estamos no caminho pra isso.