Quando encontrei Antônio Castro semana passada em sua loja, no bairro de Pinheiros, ele como qualquer estilista em pré-SPFW parecia cansado, mas a doçura de falar do seu trabalho continuava intacta e a exaustão tinha sentido: essa é, sem sombra de dúvidas, uma de suas mais elaboradas e bem executadas coleções. Vale ir ver de perto ou, ao mínimo, dar zoom nas peças.
“O Conto de Laura” é uma mistura de biografia, lenda e conto, sua tia-avó que fugiu com cangaceiros em busca de liberdade. Ali, juntos, ao discutirmos a coleção, a liberdade maior era em não dar um desfecho absoluto, mas propor as possibilidades a nós — e foram ótimas possibilidades.
De Alagoas trouxe os mais belos bordados: livre, redendê, filé, trançado em palha de ouricuri, patchwork e o popular fuxi (mas em uma cartela esmaecida e sofisticada). Do Rio Grande do Norte veio o Richelieu, de Minas o entalhe e de São Paulo a pedraria. Falando em São Paulo, eu brinquei ao ver as peças pretas do bloco final: “Isso é reflexo de morar aqui?” e ele me disse entre sorrisos “sabia que isso aconteceria em algum momento”.
Seu cangaço não é literal, caricato e esperado; é lúdico, pessoal e poético. Merece uma menção especial as estampas desenvolvidas por Cleyton Almeida e Sil de Capela, ambos artistas que vale procurar saber mais. Contar história no caso de Antônio não é em vão, tampouco o famigerado storytelling. Melhor assim.