No embalo da onda de wellness e da obsessão com autocuidado, um novo estilo de socialização está tomando forma – e ele não envolve ‘‘ressacas’’ ou ‘‘taças de gin tônica’’. A geração que abraçou corridas matinais, meditação e o consumo consciente agora também redefine a maneira de celebrar. Mocktails, bebidas que imitam coquetéis clássicos sem o uso de álcool, não são apenas uma tendência: eles simbolizam a mudança de hábitos culturais que trocam as “noitadas” pelas “boas manhãs”. Mas seria isso o fim da diversão ou apenas uma nova forma de estar presente sem abrir mão da saúde?

O que são mocktails?
Os mocktails, que já movimentaram parte dos US$1,45 trilhões previstos para o mercado de bebidas não alcoólicas em 2023, são combinações criativas que misturam ingredientes sofisticados como bitters, infusões de ervas e espumas artesanais. Exemplos clássicos, como Virgin Mojito e Shirley Temple, ganharam versões repaginadas, enquanto novos favoritos, como o Frozen Apple Margarita e o Tamarind Pineapple Quencher, conquistam espaço nas redes sociais – a hashtag #mocktails já ultrapassa um bilhão de visualizações no Tik Tok​.

De Soi por Katy Perry.

Gabriel Santana, bartender premiado e dono do Cordial Bar, confirma o crescimento do interesse: ‘‘Eu acho que a procura aumentou bastante. O mocktail sempre existiu, e as pessoas, pelo fato das casas começarem a servir, foram descobrindo cada vez mais. E aí o fato de ela não querer beber e ter um drink com a mesma estrutura, complexidade de um coquetel com álcool, essa pessoa se sente entoada, né? Não precisa pedir uma Coca Zero e pode curtir ali à noite com os amigos e tudo, tendo a mesma experiência, só que sem álcool.”

Betty Buzz por Blake Lively.

Por que bebidas sem álcool?
Esse boom tem raízes no zeitgeist da geração Z, que, segundo estudos, consome 48% mais bebidas não alcoólicas do que outras faixas etárias e 66% está ativamente tentando reduzir o consumo de álcool, motivados por questões de saúde, autocuidado e até pela preocupação de evitar momentos embaraçosos expostos em redes sociais. Adicionados a isso estão tendências como o Dry January, Sober Curious e o aumento da oferta de destilados não alcoólicos que recriam a complexidade dos drinks tradicionais – como empresas como a Ritual Zero Proof e Athletic Brewing que criam bebidas que simulam o “burn” do álcool sem seus efeitos.

Kin Euphorics por Bella Hadid.

Millos, do Caracol Bar, destaca: ‘‘Percebemos um aumento na demanda sim, de um ano pra cá. Temos cinco opções de cocktails sem álcool já, e a tendência é aumentar ainda mais.’’
Dados da IWSR mostram que o mercado global de bebidas sem álcool deve crescer 4,56% ao ano até 2027, impulsionado por consumidores mais jovens e conscientes.

Novas opções para os brasileiros
Além de coquetéis sem álcool, as cervejas sem álcool também têm conquistado uma parcela crescente de consumidores. Entre as mais populares estão a Budweiser Zero, Heineken 0.0, Estrella Galicia 0,0 e a Brahma 0,0. Além das tradicionais cervejas, o mercado de bebidas sem álcool no Brasil também inclui opções inovadoras, como a marca Kiro, que apresenta o switchel, uma bebida funcional e refrescante à base de suco de cana, gengibre e vinagre de maçã.

Marca brasileira Kiro.

Fim dos cocktails com álcool?
Ainda que os números sejam promissores, isso não significa o fim dos coquetéis alcoólicos. As vendas de bebidas sem álcool, que cresceram 233% nos últimos quatro anos, coexistem com os tradicionais, criando uma nova dinâmica social. Seja por wellness, curiosidade ou busca por equilíbrio, os mocktails não são apenas uma alternativa: são um reflexo das mudanças culturais. E, no fim, celebrar é mais sobre como nos conectamos do que sobre o que está no copo.

Bero por Tom Holland.