*Esse conteúdo é parte da serie POTENCIALIDADES com curadoria de Jal Vieira publicada aqui e em nossas redes durante a semana de 29/06 a 04/07
Por Onika Bibiana
Acho que não é surpresa pra ninguém que 90% da população trans ainda esteja em situação de trabalho sexual, a maioria na rua e muites com diploma de graduação entre outras formações. Esse é um dado triste, altamente usado para escancarar a desigualdade e falta de oportunidade que o mercado de trabalho oferece para uma pessoa trans no Brasil.
A imagem da marginalização é algo que ainda hoje é reforçada pela mídia e veículos de comunicação, através de matérias e chamadas sensacionalistas, e que muitas vezes ainda nos tratam com pronomes errados, quando ainda não divulgam nomes de registro.
Através dessa construção que a mídia colabora para reforçar, a imagem que ocupa a maioria do imaginário comum de pessoas cis é a da travesti prostituta na esquina, violenta, criminosa, que rouba, mata, que é imoral e que está ali por opção. O que não param pra ver ou se interessar é que a maioria está ali de forma compulsória, pois foi expulsa de casa, antes mesmo da maioridade e grande parte estará fadada a viver esta vida como única alternativa e estratégia de sobrevivência.
Hoje, aos poucos, pessoas trans estão conseguindo mudar este cenário, ocupando posições de destaque na mídia e outras colocações no mercado de trabalho, além do acesso à universidades. Porém ainda estamos andando lentamente uma vez que existem poucas iniciativas que são voltadas à empregabilidade e inserção social dessa população.
Uma das coisas que mais influencia para que essa dinâmica se mantenha assim é a educação, uma vez que programas que falam sobre sexualidade e gênero nas escolas foram vetados. Será muito difícil mudar o senso comum e desmistificar os tabus que a sociedade tem sobre pessoas trans se não tivermos uma educação que esteja alinhada com esse objetivo.
É através e tão somente através da educação em conjunto a políticas públicas que pode mudar o cenário que vivemos hoje no país, que ainda lidera o ranking dos países que mais matam pessoas trans no mundo.
Por isso é muito importante que cada vez mais, empresas, campanhas e o mercado como um todo abra espaço para essas corpas, não somente para visibilizar, mas também para garantir que através desses acessos pessoas trans consigam mudar as estatísticas e cada vez mais estejam longe de subempregos e trabalhos marginalizados e sem nenhuma garantia de futuro como a prostituição.
Se empresas e marcas se colocam nesse lugar de serem inclusivas ou pró-lgbt, elas precisam urgentemente entender que a pauta sobre empregabilidade trans deve ser uma prioridade no debate. Uma vez que ainda estamos aos montes sendo jogadas na prostituição e é justamente lá que estamos mais suscetíveis à violência e morte.
Isso quer dizer ter políticas afirmativas para incluir pessoas trans não somente para serem a cara de suas campanhas, mas também para a construção dessas campanhas e ocupação de diversos cargos dentro dessas empresas. Existe muita mão de obra qualificada na comunidade trans, o que nos falta são oportunidades.
Sobre Onika Bibiana
IG: @onikaralho
Onika Bibiana, mulher negra travesti, nascida e crescida em São Paulo, atualmente moradora do Grajaú, periferia no extremo da zona sul da capital. Pensadora das ciências sociais não acadêmica, Onika pauta seu discurso e luta nas questões raciais e de gênero. Se articula como professora de pole dance no estúdio Maravilhosas Corpo de Baile onde promove junto a suas fundadoras a inserção de pessoas trans ao mundo da dança. Como articuladora social se junta ao coletivo Travas da Sul para realização de ações afirmativas para comunidade lgbt. Também multi artista, já realizou trabalhos no teatro junto ao antigo espaço Umbalada também no Grajaú, chegando a se apresentar no Teatro Municipal na peça da diretora Luh Maza. Além disso ainda percorre as artes de DJ, modelo e performer.
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