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    Ser ou não ter: Instagram
    Ser ou não ter: Instagram
    POR Redação

    por Felipe Morozini*

    ©Felipe Morozini

    “É igual ao Twitter, só que de imagens”. Essa foi a primeira vez que alguém me falou do Instagram, quando ainda ninguém falava disso. Eu que nunca tive Twitter, mas sou um entusiasta das imagens, me encantei na primeira noite. Tudo virava uma foto linda e quadrada, como uma nova polaroid, só que sem a química e o papel. Azulejos com raios de sol, praias distantes, artes distantes, trabalhos, amigos. Todos estavam lá. E tudo compartilhado instantaneamente, que é o objetivo da ferramenta.

    Nunca fui de colocar meu rosto, abraçar amigos, mesmo porque sou fotógrafo e gosto muito de ficar atrás da câmera, mesmo que essa câmera seja um celular.

    No começo meus amigos falavam que eu postava muitas fotos. O que é relativo, porque hoje as pessoas descontrolmers postam mais de 15, uma atrás da outra. O que te dá o direito de parar de segui-la mesmo que seja tua amiga. Isso não muda nada. Eu penso que é como uma revista e que você decide o que vai ver. Tempos modernos.

    Mas eu ainda estava conhecendo esse novo Twitter. Falar, informar, compartilhar através de imagens. Se uma imagem vale mais que mil palavras, então eu queria falar. E muito. Sempre quis. Mas o perigo estava próximo.

    Amigos, dia a dia, começaram a aderir a essa nova mania. Só se falava nisso na cidade. Você tem? Era a pergunta. Se a resposta fosse negativa, a frase seguinte era: VOCÊ TEM QUE TER!!! De repente, você vai ao restaurante e em todas as mesas vemos as pessoas passando o dedinho rápido. Luz no rosto. Era ele: o Instagram.

    De repente, amigos acordando e desejando bom dia, todos os dias. Amigos posando nos espelhos das academias. A vista da casa, todo dia, do mesmo lugar, como uma previsão do tempo, mas também da passagem do tempo. Casais abraçadinhos indo dormir e dizendo meu amorzinho, todas as noites. A fotografia do cachorro ou do gato, em todas as posições. Eu gosto de cachorro e de gato e de foto de cachorro e de gato. Mas não sejamos monotemáticos.

    Tem o outro lado também. E esse eu adoro.

    De repente comecei a acompanhar amigos nos finais de semana na praia ou montanha, amigos fotógrafos e suas peripécias visuais, os amigos que moram em milhões de lugares e viajam milhões de quilômetros, a filha do primo que nasceu longe, o pôr do sol, seja ele em São Paulo, Tóquio, Istambul ou Moscou. Os filhos de todos os amigos crescendo. Tudo me interessa. Imagens me interessam. Pessoas me interessam. Meus amigos me interessam. Quer saber se a noite da cidade foi animada? Acorda no sábado e domingo e poderá saber como foi. Pelos olhos inebriados e lisérgicos dos seus amigos. Há coisa melhor?

    Hoje podemos acompanhar trânsito, temperatura, cirurgias, amigos alagados, carros que caem do Minhocão, tudo ao vivo.

    Todo marmanjo manda macaquinhos, palminhas, coqueirinhos, florzinhas, coraçõezinhos… como um novo momento de e na comunicação. Um novo dialeto. Eu, desde o começo, deletava comentários que eu não achava apropriados para a imagem, fosse um elogio ou uma pergunta sem sentido. Eu queria me ater à imagem. Como ainda quero. Me manda um email ou me liga.

    O que eu nunca entendi muito foi o uso do # (hashtag). O uso excessivo do #. Gosto apenas se usado com humor. E isso poucos sabem fazer. Se atenha à imagem. #ficaadica #rélou #igersjapan #pet #bepopular #amazing #gym #followme #1000likes #2000likes #balada #show #iseefaces #pink #morozinismo #feionafoto #pppicture#instamission #lookdodia#picoftheday #instamood #lustrepiroca #jaira #copacabana #paulista #art #drama #chatiada #zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

    As vezes a imagem é linda, mas a legenda ou o hashtag ou a localidade… A gente acaba não gostando de alguma coisa. Ou vice-versa. Cada um com o seu like. Não gosto de ostentação, ego ou pretensão. Mas vamos deixar isso para lá. Vamos nos ater aos fatos.

    Criei uma teoria de que você tem três segundos para ganhar um like. Os dedos são rápidos. As minhas fotos com mais likes são as mais não pensadas. As que surgem do raio de sol, de um copo quebrado, do vento no cabelo. A poesia cotidiana. Quem me segue sabe o que estou falando.

    No meu almoço mensal com amigos fotógrafos e não fotógrafos, o assunto sempre acaba sendo o Instagram. Porque ele fala das pessoas. Da essência de cada um e de seus valores. E um dos mais queridos disse alto: “Todo mundo dá like nas minhas fotos, mas ninguém me convida para almoçar”. E foi por isso que esses almoços mensais começaram. Antropologia pura.

    O que mais gosto hoje em dia é que até a novela santa de todo dia você pode acompanhar pelo Instagram, graças às loucuras dos amigos. Porque brasileiro gosta mesmo de novela, mas de novela boa. #carminha

    E acho que o Instagram pode ser isso. Uma grande novela, com seus personagens e histórias. Versão moderna da almofadinha na janela (para não machucar o cotovelo) para espiar a vida do vizinho. Hoje fazemos isso diretamente de nossas camas, sofás e banheiros.

    Todos abrimos as casas e as intimidades. Viajamos e compartilhamos nossos momentos mais especiais. Mostramos os primeiros dentes dos filhos. A formatura, a abertura de um novo negócio, uma nova aventura, uma realização, casamentos e separações. Tudo ali. Na ponta do dedo.

    Recentemente, no Dia das Mães, acabei conhecendo a mãe de vários amigos e amigas. O que achei interessante, porque isso me aproximou dos meus conhecidos e queridos. Como numa corrente, uma homenagem sincera. Postei a da minha também. Fui mexer nas fotos de família para achar uma bem linda. Passei a tarde vendo muitas fotos num momento de nostalgia. O cheiro da foto antiga. E todos os outros cheiros que fotos antigas têm o poder de trazer. Mas isso é outra história. E essa eu já contei. E se não gostou desta aqui, me dá um unfollow. E te digo: isso não te faz mais ou menos meu amigo.

    Felipe Morozini é fotógrafo, cenógrafo, entre outros talentos…

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