Por Luiz Henrique Costa
Sandra Oh é aquele tipo de atriz tão irresistivelmente carismática que é quase impossível ver o anúncio de um novo trabalho estrelado por ela e ficar indiferente, algo que não nos desperte ao menos um enorme interesse de vê-la franzindo a testa – um tique de atuação que no caso dela é puro charme.
A importância da atuação de Sandra segue para além de ser indiscutivelmente uma atriz acima da média e que foge dos estereótipos que ainda persistem no perfil da grande maioria das protagonistas das séries americanas. O espaço conquistado por ela através de personagens e séries que ela escolhe a dedo – desde a febre Grey´s Anatomy até o mais recente e divertido jogo de gato-e-rato Killing Eve – simbolizam a vitória de uma mulher de origem sul-coreana que já passou por lamentáveis negativas no início de sua carreira por não ser considerada “bonita o suficiente” para uma atriz.
Esses mesmos agentes de talento que deram as negativas para uma Sandra recém-chegada a Hollywood a procura de oportunidades devem assistir a The Chair (Diretora, no Brasil), que acaba de ser lançada na Netflix e pensar “como fomos idiotas”.
Em The Chair, Sandra interpreta a chefe do departamento de Inglês de uma importante universidade americana e segura uma batata quente que é manter o equilíbrio e diplomacia perante um verdadeiro choque de gerações com um time de professores antiquados, conversadores, que andam na contramão de uma forma mais moderna e instigante de lecionar. Ela quer e precisa, ao mesmo tempo, modernizá-los e reconhecê-los em seus respectivos cargos de longa data, mas também quer diversificar o perfil de um corpo de mestres e doutores nada progressistas.
Em paralelo aos problemas do cargo, a protagonista enfrenta dificuldades em uma relação complexa de adaptação e conflitos com a filha adotiva, um crush/colega de trabalho com um parafuso a menos, a pressão de uma reitoria burocrática e machista e o pai viúvo e idoso.
Uma comédia deliciosa, ácida, inteligente, com pitadas de drama e um roteiro afiadíssimo, The Chair acerta em cheio nas referências de clássicos da literatura estadunidense como Moby Dick, romance obrigatório do escritor Hermann Melville, sem exagerar ou forçar demais em rumos intelectuais para quem só quer rir um pouco. Não exige muito do nosso estoque de neurônios. É nerd? Sem dúvida, mas não demais. Com direito a um núcleo quase caricato de personagens e da engraçadíssima Holland Taylor, 78 anos, namorada de Sarah Paulson – um dos casais mais simpáticos e queridos do show biz.
Criada por Amanda Peet e Annie Wyman, a serie, que tem seis episódios de pouco menos de trinta minutos cada, é uma diversão rápida e garantia em um ambiente universitário nada sisudo.