10 vezes que as passarelas foram cenários de protesto
Do episódio mais recente na Coach até alguns bem memoráveis, reunimos alguns deles aqui
10 vezes que as passarelas foram cenários de protesto
Do episódio mais recente na Coach até alguns bem memoráveis, reunimos alguns deles aqui
Por Matheus Henrique (@matheushab)
Programada para iniciar na última sexta-feira (08.09), a semana de moda de Nova York tinha tudo para celebrar um momento triunfal. A volta de nomes como Ralph Lauren e a estreia de Peter Do, na Helmut Lang, foram, de fato, momentos cruciais para definir a agenda. Mas, se há um retrato que deverá ser lembrado, é sem dúvidas, a entrada inesperada das ativistas Sasha Zemmel e Jamie Corner, da PETA, no desfile da americana Coach, fora do calendário nova-iorquino.
Na moda, ou melhor, na passarela, protestos são mais que comum de se ver. Se você trabalha — ou é fã de — moda, provavelmente lembrará dos feeds de redes sociais quando a modelo Gigi Hadid expulsou a influencer Marie S’Infiltre do desfile da Chanel; do momento em que Gisele foi interrompida por quatro membros da PETA no desfile anual da Victoria Secrets; ou até mesmo quando o FEMEN invadiu a passarela de Nina Ricci. Para esses “penetras de desfiles”, nomeamos “crash walker”.
Entre padres, desenhos realistas, seios à mostra, infiltrados e humoristas, há muitas histórias que se encontram na passarela. Algumas dessas “invasões” ficaram conhecidas como momentos especiais — e definitivos — para emoldurar melhorias na indústria. “Os protestos da PETA chamam a atenção do público”, disse a diretora da PETA, Elisa Allen, em entrevista à revista FACE. “Eles muitas vezes incentivam a discussão, o debate e a mudança. Após as campanhas da PETA, a semana de moda londrina mostrou passarelas sem peles ano após ano.” ressaltou.
Durante anos, a relutância da indústria em mudar a fórmula em relação ao uso de peles animal provou ser um ponto sensível, mas necessário. Assim como as provocações sobre à posição da indústria como um dos principais para as mudanças climáticas, a moda está despertando para sua ressonância além das passarelas e sua posição de frente e centro nas guerras culturais.
Movimentação que também despertou uma posição de interesse do consumidor final. Dados da PETA confirmam que nove em cada 10 consumidores da Geração Z – que, juntamente com a geração do milênio, possuem US$ 352 bilhões em poder de compra – dizem que as empresas devem ser mais transparentes em relação a consciência ambiental e social em suas práticas comerciais.
Como solução, os esforços da indústria para substituir o couro e peles animais desenhou estratégias inteligentes para empresas com visão de futuro que estão atendendo à crescente demanda por produtos sustentáveis e amigos dos animais, oferecendo opções de couro vegano feitas de abacaxis, cogumelos, maçãs e cactos.
Na sequência alguns dos momentos mais memoráveis.
1.COACH, PRIMAVERA/VERÃO 2024
Qual seria sua reação se uma protestante do PETA surgisse na passarela com uma pintura corporal realista revelando “carne”, “tendões” e “músculo”? O caso aconteceu as vésperas do calendário de moda nova-iorquino, no desfile da Coach, na Biblioteca Pública de Nova Iorque. A ativista Sasha Zemmel não só invadiu a passarela da grife americana, como carregava uma mensagem: “Coach Leather Kills” – ou “O couro da Coach mata”, para acompanhar Sasha na passarela, a também ativista Jamie Corner. “A PETA está agitando a passarela do Coach para levar para casa a mensagem de que o couro pertence aos anais da história, não às coleções atuais dos designers.” disse presidente executiva da PETA, Tracy Reiman.
2.VICTORIA SECRETS FASHION SHOW – 2002
Acreditem, Gisele também foi surpreendida pela PETA! Há 20 anos atrás, em mais uma edição da esperada apresentação anual da Victoria Secrets, quando quatro membros da People for the Ética Treatment of Animals (PETA) invadiram a passarela montada no interior do 69th Regimento Armory no preciso momento em que Gisele Bündchen desfilava vestida com lingerie em tons de preto e vermelho. Entendendo a preciosidade do momento, os defensores dos direitos dos animais seguravam cartazes onde se lê a frase “Gisele: for scum” (“Gisele: escumalha das peles”, numa tradução literal). “Estava só a fazer o meu trabalho. Sou uma modelo”, disse na altura aos jornalistas, nos bastidores do evento. Embora a ação venha a ter ocorrido na passarela da marca de roupas intimas, o protesto, era uma resposta a uma campanha publicitária de Gisele para a marca de casacos de pele Blackglama. O que os ativistas não sabiam, é que esse momento seria essencial para Gisele repensar suas escolhas profissionais e seguir seu caminho como ativista ambiental.
“Eles [PETA] enviaram-me todos esses vídeos [sobre a morte de animais pela indústria da Moda]. Eu não tinha conhecimento e fiquei arrasada. Então disse: ‘Ouve, não vou continuar a fazer campanhas com pelo”, recordou a übermodel em entrevista à Vogue norte-americana, em julho de 2018.
3.LOUIS VUITTON – PRIMAVERA/VERÃO 2022
Para fechar a temporada primavera/verão da Semana de Moda de Paris 2022, Nicholas Ghesquiere, nome à frente das coleções femininas da Louis Vuitton decidiu apresentar sua coleção no Passagem Richelieu, cenário usado pelo próprio Louis Vuitton em seus encontros com a Imperatriz Eugénie, de quem ele era o fabricante exclusivo de baús. Em sua coleção, Ghesquiere decidiu mesclar modelagens do passado, presente e futuro. Dando um ar rebelde e descolado a coleção, mas a coleção não foi, de fato, a peça mais rebelde do desfile. Salvo pela ativista Marie Cohuet, que desfilou ao lado das modelos com um cartaz em tecido a favor do movimento ambientalista global. A mensagem era simples: “Consumo excessivo = Extinção” acompanhada pelos logotipos de três organizações francesas: Les Amis de la Terre, Youth for Climate France e Extinction Rebellion France. As organizações confirmaram que cerca de 30 pessoas estiveram envolvidas no planejamento do protesto e duas foram presas. Cohuet comenta que ela e quatro ativistas aproveitaram a chegada de Catherine Deneuve, atriz francesa, como oportunidade de entrar no desfile fingindo fazer parte da equipe do evento, mas só ela conseguiu entrar na passarela.
4. DIOR – OUTONO/INVERNO 2003
Nos anos 2000, a PETA fez vários protestos durante as semanas de moda. Depois de ter convencido a übermodel, Gisele Bündchen a se tornar uma aliada, o alvo da vez foi John Galliano, no comando da Dior. Com cartazes que sublinhavam a frase FUR SHAME, expondo a vergonha em relação ao uso de peles, questionando sobre o uso de peles pela indústria, incluindo as peças desfiladas na passarela. Não durou muito tempo, até que a manifestante foi puxada para fora do palco por guardas de segurança.
5.CHANEL, PRIMAVERA/VERÃO 2020
Gigi Hadid pode ser vista como calma, mas não espere por menos, depois de ver sua reação ao expulsar a “influencer” Marie S’Infiltre da passarela da Chanel. Famosa por suas acrobacias de desfile de moda, a estrela da internet, Marie S’Infiltre, saltou da multidão e se juntou à fila final vestida com algo que lembrava muito um look todo Chanel e, surpreendentemente, combinou perfeitamente. Em vídeos do show, incluindo um que a jornalista Vanessa Friedman postou no Twitter, você pode ver a fila da frente rindo com a façanha improvável, antes que a segurança — desculpe, queremos dizer Gigi Hadid — colocou um fim rápido no show. isto. Enquanto as garotas começam a assumir suas posições finais, a modelo confronta a YouTuber, pegando-a pelo ombro e escoltando-a para fora do palco. A verdadeira segurança do desfile!
6.GUCCI – PRIMAVERA/VERÃO 2020
Há também “crash walker” modelo, explicamos: Ayesha Tan-Jones, modelo escalada para o desfile de primavera/verão 2020 da Gucci decidiu protestar sobre saúde mental enquanto desfilava. Ayesha levantou as mãos para mostrar a mensagem: “Saúde mental não é moda”. O protesto foi estimulado pelo fato de que Tan-Jones — se identifica como uma pessoa não binária — estava entre outras 21 modelos que ostentavam looks Gucci que se assemelhavam com camisas de força, que lembram vestes de hospitais, prisões e manicômios. Em uma postagem no Instagram, Tan-Jones escreveu: “Como artista e modelo que passou por minhas próprias lutas com a saúde mental, bem como por familiares e entes queridos que foram afetados por depressão, ansiedade, bipolaridade e esquizofrenia, é doloroso e insensível para uma grande casa de moda como a Gucci usar essas imagens como um conceito para um momento de moda fugaz.”
7.NINA RICCI, PRIMAVERA/VERÃO – 2014
Depois de anos de tentativas, duas integrantes do FEMEN — grupo ucraniano de feministas radicais localizado na França — chegaram às passarelas da Paris Fashion Week, invadindo o desfile de primavera/verão de 2014 de Nina Ricci. Com seios à mostra, as manifestantes gritavam frases como “moda fascista” e “moda ditatorial” e tinham os slogans “modelo não vá ao bordel” rabiscados em seus corpos. Para lembrar: essa não foi primeira vez que o FEMEN teve um desentendimento com a moda. Em 2012, o grupo viajou para Milão para protestar contra o desfile de outono de 2013 da Versace, segurando cartazes que diziam “moda = fascismo”. Também em 2012, duas ativistas do grupo invadiram o final do Next Top Model da Alemanha, apresentado por Heidi Klum — um com a frase “Heidi Horror Picture Show” escrita em seu torso. A dupla foi escoltada pelos seguranças.
8. AGATHA RUIZ DE LA PRADA, PRIMAVERA/VERÃO – 2008
Você provavelmente há de se lembrar de uma cena do filme “As Branquelas” em que por meio de um acidente, o desfile se torna uma grande confusão e acaba com muita gritaria, tiro e confusão. A cena a seguir, não foi extraída do filme, mas sim, do desfile da Agatha Ruiz de La Prada. Logo em 2008, o extravagante personagem fashionista austríaco de Sacha Baron Cohen, Brüno, invadiu o show de primavera/verão 2008 de Agatha Ruiz de la Prada após cair em uma arara com roupas e arrancar toda cortina. O ator entrou na passarela, como se nada tivesse acontecido e logo todas as luzes foram apagadas. Esse também não foi o único momento de Bruno, o ator e sua equipe tiveram suas entradas negadas em todos os desfiles de moda. Bruno, usou do momento para divulgar o seu filme, acabou ficando sem graça.
9. DIOR, PRIMAVERA/VERÃO 2021
O que acontece quando há um protesto dentro do protesto? Quase ninguém percebe. Para entender melhor, a passarela de primavera/verão 2021 da Dior recebeu mais uma vez um penetra. Diferente da vez anterior, sobre o comando de John Galliano, o banner central do protesto carregava um slogan: “Somos todas vítimas da moda”. A interrupção fez com que os hóspedes e até mesmo os principais executivos da LVMH questionassem se o protesto foi feito de propósito, dado o fato de que a diretora criativa de roupas femininas da casa de design, Maria Grazia Chiuri, usou regularmente suas passarelas para transmitir uma mensagem. A performance não foi proposital, e muito menos ideia de Chiuri, mas apoiada pelo grupo de ação climática Extinction Rebellion.
10. GIANFRANCO FERRE, OUTONO/INVERNO 2003
Quem poderia desconfiar de um padre em um país tão religioso como a Itália? Essa foi a ideia do ativista da PETA, Dan Mathews, que teve sua “fantasia” aceita para entrar em um desfile de moda da grife Gianfranco Ferre em 2004 para protestar contra o uso de peles. “Eu estava vasculhando meu armário na Virgínia antes de entrar no avião quando vi a roupa do padre com a qual me vesti no Halloween. Eu pensei que a Itália é um país católico, eu falo italiano fluentemente — é isso.” disse o ativista para o The Guardian. “No show de Gianfranco Ferre, eu disse à senhora com a prancheta que eu estava na igreja que o Sr. Ferre frequentou e ele me convidou para dar sorte. Ela apenas olhou para o colega e riu. Lá dentro havia centenas de fotógrafos e câmeras de TV. Eu estava incrivelmente nervoso. As pessoas continuaram olhando para mim, mas eu tentei não fazer contato visual. Eu estava preocupado em ver um editor de moda que me conhecesse de protestos anteriores.” Reforçou. Dan Mathews, sem dúvidas, teve o disfarce perfeito, mas como era de se esperar, ao invadir a passarela, o ativista foi derrubado pelos seguranças e logo expulso do espaço. Fantasia que gerou alguns “minutos de fama” e sua promoção para o título de o vice-presidente sênior da organização.