COP 27 e a presença tímida da moda
A segunda maior poluente do mundo não teve um papel relevante no evento que discute ações para o combate ao aquecimento global
COP 27 e a presença tímida da moda
A segunda maior poluente do mundo não teve um papel relevante no evento que discute ações para o combate ao aquecimento global
Durante o mês de novembro, a 27ª edição da Conferência Mundial do Clima das Partes da ONU (COP27) que aconteceu em Sharm El Sheikh, no Egito, entre os dias 06 e 18, dominou as notícias pelo mundo. Líderes de 200 países se reuniram para discutir os rumos no combate ao aquecimento global e principalmente os impactos nos países emergentes. Pode não parecer, mas as decisões tomadas lá, podem impactar nossa vida. A moda não poderia ficar de fora desse evento.
De acordo com a Global Fashion Agenda, participante do evento, a indústria da moda é a segunda maior poluente do mundo atualmente, com mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis descartados nos últimos anos e com projeção de um aumento de 60%, ou mais de 140 milhões de toneladas nos próximos oito anos.
Na condição de uma das indústrias mais poluentes do planeta, a moda deveria estar no centro das discussões, junto ao desmatamento e outras pautas importantes tanto quanto. Entretanto, o setor não foi um grande protagonista. Apesar disso, alguns caminhos foram apresentados para que a indústria reduza seu grande impacto ambiental.
Fashion Industry Target Consultation
No segundo dia da conferência, a organização anunciou o lançamento do Fashion Industry Target Consultation. A parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) visa identificar e convergir as metas atuais do setor para uma abordagem mais concreta e abrangente para atingir a neutralidade de carbono na produção têxtil, além de propor pesquisas e workshops regionais voltados à América Latina, Caribe, África, Ásia e Pacifico.
As metas propostas no evento têm por objetivo fazer com que os principais fabricantes de roupas assumam mais compromissos com a transição para padrões de produções sustentáveis, planos de design para apoiar e financiar marcas ecologicamente engajadas e conscientizar sobre o consumo sustentável.
Enquanto para os países, espera-se o comprometimento de obrigar os fabricantes de moda a reduzirem gradualmente o uso de produtos químicos nocivos nos processos de tingimento e aderirem a modelos de produção mais ecológicos.
A presença tímida da moda na COP27
A ONG Canopy reuniu marcas e produtores para promover esforços para proteger florestas ameaçadas da extração de fibras. Zara, Stella McCartney e as marcas do grupo Kering se comprometeram a comprar mais de meio milhão de toneladas de produtos de baixo carbono, fibras alternativas e embalagens de papel, como indica a Vogue Business. “Manter as florestas intactas e fora das cadeias de abastecimento da indústria terá de ser um objetivo fundamental se quisermos proteger pelo menos 30-50% das florestas do mundo – e estabilizar nosso clima – até o final da década”, explica Nicole Rycroft, diretora e fundadora da Canopy.
De acordo com a jornalista ambiental Sophia Li, não houveram muitos players da moda, e quando se falava sobre o segmento, as pessoas ficavam surpresas sobre os impactos negativos que a indústria tem na sociedade e meio ambiente. No ano anterior, a COP 26, foi publicada uma Carta da Indústria da Moda, que dizia que 130 marcas se comprometeram a reduzir pela metade as emissões de gás carbônico e uso do carvão até 2030. Mas quando se olha de lá para cá, percebe-se que a maioria das marcas aumentou ainda mais a emissão de gases e a extração de suprimentos para produção.
Por conta da recorrência de promessas não cumpridas, a ambientalista Greta Thumberg criticou o evento e se recusou a participar nesta edição. Em uma sessão de perguntas e respostas durante o lançamento do seu livro The Climate Book, Greta disse sua visão sobre a COP: “As COPs são usadas principalmente como uma oportunidade para líderes e pessoas no poder chamarem a atenção, usando muitos tipos diferentes de greenwashing”. Ela já havia dito que a celebração de duas semanas, era um “blá, blá, blá” para “manter as coisas como de costume” e “criar brechas para beneficiar aos donos do poder”.
A indústria de moda brasileira na COP27
Além de Marina Silva e o recém-eleito presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, os representantes de marcas de roupa brasileira eram esperados no Egito com muita ansiedade. De acordo com o Carbon Brief, o Brasil foi a segunda maior delegação presente, perdendo para os Emirados Árabes Unidos. No dia 8 de novembro aconteceu o painel de moda Sustainable Fashion Made in Brazil, onde Renner, Malwee e Grupo Soma discutiram melhores iniciativas no que diz respeito ao fornecimento de algodão, fabricação de roupas e calçados e como se tornar uma empresa com neutralidade zero em emissão de gás carbônico.
As três marcas também apresentaram suas estratégias de sucesso na implementação de práticas de sustentabilidade junto à mediadora Luciana Duarte, que é pesquisadora do International Institute of Social Studies na Universidade de Rotterdam. Além das gigantes do varejo, Patricia Lima, da Simple Organic, e Cris Dios, da rede Laces falaram sobre ações positivas entre a comunidade ambientalista. Patricia abordou a produção sustentável em cooperação com pequenos agricultores, com objetivo de atingir neutralidade em conjunto, enquanto Cris optou em contratar uma consultoria de gestão de créditos em carbono, para fazer compensação de crédito com fornecedores e parceiros.
Os resultados da COP 27
Pela primeira vez, foi acordado uma compensação financeira de 100 bilhões de dólares anuais para países vulneráveis que são impactados diretamente com as mudanças climáticas e que já estão vivenciando catástrofes ambientais em suas regiões. A proposta sugerida pelo governo do Egito, propõe que países africanos que sofreram com a exploração e o colonialismo, assim como outras regiões do planeta, recebam uma quantia financeira considerável de países mais ricos e desenvolvidos.
De acordo com o site Business of Fashion, Os países do G7 já estão procurando enviar bilhões de dólares para ajudar centros de manufatura como Vietnã, Indonésia e Índia no processo da transição do carvão para a energia renovável, buscando a descarbonização em suas cadeias de suprimentos. Discussões como essas são importantes, mas o tempo já acabou. Estamos presenciando as mudanças climáticas alterarem a vida das pessoas de forma irreversível. É hora de se movimentar e colocar as falas em prática de verdade e de menos “bla bla bla” como disse Greta.