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    Estamos fazendo menos sexo?

    “Boy sober”, detox de encontros e celibato se tornam tópicos contemporâneos – redes sociais e apps estão ajudando ou atrapalhando?

    Estamos fazendo menos sexo?

    “Boy sober”, detox de encontros e celibato se tornam tópicos contemporâneos – redes sociais e apps estão ajudando ou atrapalhando?

    POR Vinicius Alencar

    O sexo moveu e move milhões (seja socialmente, culturalmente ou monetariamente falando), já foi a ferramenta mais certeira para venda (Tom Ford que o diga), super valorizado e ultra estimado ao longo da história da humanidade, porém vive um momento um tanto peculiar. Estamos transando menos? Sejam héteros ou gays, a relação com o sexo em um mundo pós pandêmico tem sido diferente.

    Entre as mulheres são inúmeras as que revelam a opção pelo celibato consciente, como o movimento “boy sober” dissecado na edição de maio da Time, que consiste em uma espécie de detox de encontros com homens.

    Já o celibato ganhou ainda mais adeptos nesse verão do Hemisfério Norte, sendo assumido por celebs, de Lenny Kravitz à Julia Foxx, como bem mostrou um artigo do The Cut, em junho.

     

    Entre homens héteros, muitos sentem dificuldade de trazer o flerte online para a vida real, enquanto homens gays vivem uma relação de amor e ódio com apps de encontros. 

     

    No melhor estilo “a arte imita a vida”, o diretor Gregg Araki anunciou recentemente à Indiewire que seu próximo projeto “I Want Your Sex” será sobre a geração Z não fazer sexo. 

     

    Conversei com o psicanalista e podcaster do André Alves sobre redes sociais, apps e como o sexo vem sendo ressignificado, que você confere na sequência.

    Era das intimidades… frias

    “Vem pairando no nosso inconsciente coletivo, algo nas relações sexuais e nos encontros, que não estão conseguindo se concretizar. Tanto o celibato, quanto ‘boy sober’, quanto detox sentimental, ou mesmo o grande movimento dos assexuais… são indícios do que a gente pode resumir como: ‘era das intimidades frias’, como definiu a socióloga Eva Ilouiz”, reflete o psicanalista. 

     

    Desaprendemos a nos relacionar?

    “Algum tipo de adoecimento da nossa capacidade relacional que vem se pronunciando com ainda mais intensidade nas nossas relações sexuais, ou na nossa dificuldade de sustentarmos vínculos, principalmente vínculos que tenham algum grau de proximidade, isso é causa e consequência de um certo déficit do senso de intimidade. Não à toa, que a gente vem se sentindo tão sozinhos”. 

     

    Deletar e reinstalar

    “O desejo sexual é uma parte muito importante do nosso psiquismo, mas parece que ao longo de séculos a gente foi se convencendo que era possível conter ou simplesmente abrir mão disso. O que combina um pouco com a sua pergunta sobre os aplicativos: bloquear ou deletar… como se desse para simplesmente bloquearmos ou deletarmos a nossa sexualidade. O que pelo olhar da psicanálise pode ser muito patológico”. 

     

    Suposto controle e compatibilidade

    “Mas o mais importante na nossa conversa é observar como os apps promovem esse efeito match na nossa capacidade relacional. A gente coloca que os relacionamentos estão em uma lógica de compatibilidade. Se a gente achar o parceiro ideal ou que mais combina com a gente, consequentemente a gente vai ter relações muito frutíferas”.

     

    “O distanciamento que as telas provocam também faz um rebaixamento da nossa capacidade de tolerar a imprevisibilidade, a inconstância, a surpresa e a estranheza de lidar com o outro”.

    E o Instagram no meio disso…

    “Quando você me pergunta, ‘porque o Instagram talvez apresente noções supostamente mais reais’, eu acredito que o paradigma tá menos no ideal versus concreto ou próximo da realidade e mais na quantidade de nós mesmos que a gente apresenta numa rede ou em outra. Porque nos aplicativos de relacionamento ou os ‘shoppings de conexão’ promove uma departamentalização das nossas relações, como se a gente entrasse ali com um único fim específico. Não pra conhecer ou tolerar toda a complexidade de uma pessoa, mas sim para acessar a parte que aquele outro escolheu para me mostrar e conquistar ou me convencer de que é um parceiro muito atrativo”. 

     

    “O Instagram talvez seja um pouco mais amplo, mas também é delirante, a ideia de que a gente vai conseguir sustentar uma performance para uma audiência cada vez maior o tempo todo. Onde a gente espetaculariza não só a nossa sexualidade, mas a nossa vida privada como um todo”. 

     

    Isso sim, isso não…

    ​”Tanto do ponto de vista dos gays, quanto dos héteros, a gente possa pensar menos na orientação e mais na departamentalização, ou menos no quão específico é o nosso recorte, e a gente vai dizer o que a gente gosta e a gente não gosta, o que a gente não tolera, que tipo de pessoa a gente não quer… tem vários efeitos disso, o primeiro é a gente achar que controla e conhece tudo aquilo que a gente deseja. Segundo é a gente tentando eliminar qualquer tipo de surpresa ou de efeito inesperado ou até mesmo de estranheza. Como se a gente só se apaixonasse por aquilo que a gente acha que a gente gosta e se a gente não se interessasse pelo que nos surpreende, pelo que nos desestabiliza, pelo que nos coloca em uma  posição que nem imaginávamos”. 

     

    Amor narcísico 

    “O que você tocou na sua pergunta que é uma prótese narcísica que cobra um preço muito caro, por que a gente vai ficando enclausurado nessa persona ou nesse perfil que a gente constrói, de forma consciente quando pensamos ‘vou deletar isso daqui porque estou cansado de fazer manutenção dessa performance’ ou pelo oposto ‘ninguém está atingindo os critérios que eu acredito que são necessários para se relacionar comigo, então vou sair’. Isso é muito um amor narcísico, onde o outro é um objeto que vai ficando cada vez menor o nosso espaço de tolerância para a diferença, para a diversidade e complexidade. Esquecendo que o outro tem um mundo interno, assim como nós, com todas as suas esquinas escuras”. 

     

    Menos sexo? Pelo contrário!

    “Se eu acho que o sexo está menos valorizado? Pelo contrário, eu acredito que ele está mais presente, a gente nunca consumiu tanto conteúdo pornográfico, nunca falamos tanto sobre sexo, a gente nunca consumiu tantos produtos e experiências relacionadas a nossa sexualidade. A gente inclusive transformou a sexualidade em identidade. Uma virada muito recente na história da humanidade, pelo menos no ocidente, foi um pacto que topamos muito rápido”. 

     

    Realidade vs fantasia 

    “O que está hipersaturado é a imagem do sexo, a imagem da sexualidade, a fantasia que é deslocada muito rapidamente pela imagem do que a gente gostaria, mas que é muito diferente da experiência concreta. A gente fez um deslocamento de que a imagem corresponde ou deveria corresponder. E aí quando vamos para a experiência concreta e nos decepcionamos, porque a gente não tolera a frustração, que está inerente a qualquer tipo de enlaçamento humano, a gente questiona a realidade e não a imagem”. 

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