Livro Babado Forte, de Erika Palomino, ganha segunda edição atualizada
O lançamento pela editora Ubu atualiza a cena da noite e da moda entre os anos 2000 e 2024, retratando ao todo, 35 anos de cultura jovem no Brasil.
Livro Babado Forte, de Erika Palomino, ganha segunda edição atualizada
O lançamento pela editora Ubu atualiza a cena da noite e da moda entre os anos 2000 e 2024, retratando ao todo, 35 anos de cultura jovem no Brasil.
Todos as expressões autênticas e que influenciam a cultura começam nas ruas ou na cena underground. E não foi diferente com o surgimento dos movimentos como o clubber e o grunge que marcaram os anos 1990.
Por ter sido berço de tantas manifestações criativas na música, na moda e na noite – uma celebração da vida pós epidemia da Aids – essa década continua causando interesse e influenciando não apenas artistas, fotógrafos, músicos e estilistas, mas também o público, que vê esta década como um caldeirão de tendências.
Aqui no Brasil, especificamente no eixo Rio-São Paulo, um grupo ainda pequeno de pessoas via surgir o culto ao DJ e a chegada da música eletrônica em suas muitas vertentes (Techno, House, Trance, Drum’n’Bass, etc).
Uma cena única estava sendo construída e seu maior valor era a liberdade de auto-expressão. As pessoas se vestiam de formas absurdas, totalmente DIY, onde o corpo, o cabelo, a roupa, os acessórios, absolutamente todo espaço, era uma tela limpa para ser preenchida por cores, tecidos, adesivos, tatuagens, piercings e até band-aids coloridos (uma das muitas modinhas internas que pegavam entre os clubbers). A frase “One Nation Under a Groove” (nome de um clássico do Funkadelic) era comumente usada para traduzir a sensação de conexão e pertencimento dessas cenas.
Ainda assim, poucos registros contam essas histórias tão bem quando o livro Babado Forte, lançado em 1999 pela jornalista e curadora Erika Palomino. Ao longo da década de 1990, Erika cobriu in loco a cena clubber e sua influência na moda e na cultura em sua coluna Noite Ilustrada, publicada semanalmente na Folha de S.Paulo.
Usando como nome uma dos termos* mais falados e adorados da cena LGBT+, o livro foi uma sedimentação do que Erika já fazia no jornal. Ainda que primeiramente focado no eixo Rio-SP, ele abriu caminhos e foi importante para muita gente que se descobria naquelas fotos e, assim, também entendiam um pouco seu lugar no mundo.
Completamente esgotado, Babado Forte virou um objeto cult, uma referência, um documento cultural de uma década, uma viagem deliciosa e divertida no tempo e um livro daqueles que, quem não tem, quer ter.
Agora isso será possível com a chegada do Babado Forte 2, que atualiza a cena da noite e da moda entre os anos 2000 e 2024, retratando ao todo, 35 anos de cultura jovem no Brasil. Mais de 200 novos depoimentos foram tomados e o nova exemplar também cobre capitais como São Luís (MA), Belém (PA), Recife (PE) e Salvador (BA).
A edição que Erika faz, ao descobrir paralelos estéticos e comportamentais entre o ontem e o hoje é o que torna o livro tão relevante. Vemos imagens que podem ter 25 anos de diferença, mas que carregam tanto em comum ao mesmo tempo. “Um dos desafios do projeto era justamente estabelecer comparações com o presente, refletir de onde partimos em 1999 e onde chegamos, quais foram as transformações ocorridas ao longo de 25 anos naquelas cenas, com atenção especial às manifestações associadas aos códigos do vestir e à comunidade LGBT+”, conta Erika.
E o que, num contexto de documentação cultural, mudou de lá pra cá? “Vejo mudanças principalmente no tamanho e na dimensão que as coisas tomaram”, diz a autora. “Uma coisa que não tinha antes é esse recorte oficialmente mais politizado. A geração dos anos 1990 estava preocupada ainda em existir – já era uma resistência, mas não nos víamos assim. Outro aspecto é que o livro documenta a passagem do analógico para o digital, e a influência disso e das tecnologias nas nossas vidas. É, de certa forma, também um documento de como se vivia antes da internet!”.
Atualizar o conteúdo da edição original era um sonho que ganhou mais urgência com o crescente interesse das novas gerações pelos anos 1990. Assim, novos personagens entram em cena, como a DJ e produtora BadSista; a performer Puma Camillê; as turmas do coletivo baiano Afrobapho e do Coolhunter Favela; as festas Dando, Mamba Negra, Capslock e Batekoo; o festival Gol Tun; as maravilhosas da cena Ballroom, entre outras manifestações festivas. Na moda, vemos nomes como Day Molina, Vicenta Perrotta, Gustavo Silvestre, Lab Fantasma e Isa Issac Silva.
O livro também relembra momentos históricos da cena electrónica brasileira, como o DJ Mau Mau em sua apresentação no festival Skol Beats de 2002, tocando já com o dia amanhecido para centenas de pessoas em êxtase. Tem também algumas atualizações acerca dos personagens dos anos 1990, como o DJ Ricardinho NS, DJ pioneiro de techno no Rio, que formou-se em medicina e atuou no front da pandemia da covid-19.
Mais de 200 entrevistas foram feitas para construir o Babado Forte 2, resultando em um livro robusto com 464 páginas (96 de imagem).
E como estamos em 2024, ele ganhou também uma linguagem digital – BBD FRT – e, com tanto material apurado, vai existir muito além das páginas do livro físico. “Naturalmente, não iria caber tudo o que foi apurado, então, a plataforma digital BBD FRT (site, Instagram, Spotify etc.) foi criada para ser um suporte contínuo de atualizações. Vem aí também um podcast e já estamos trabalhando no documentário!”.
Babado Forte, bem vindo ao mundo digital.
* Fofoca, acontecimento picante, bafo, bas-fond, parangolé (na definição da Erika).
Serviço
Babado Forte – 35 anos de Cultura Jovem no Brasil
Autoria: Erika Palomino
Quando: Sessão de autógrafos dia 23 de novembro, sábado, a partir das 15h
Onde: Biblioteca Mário de Andrade – Rua da Consolação, 94, São Paulo
Preço: R$169,90 (464 páginas)
Editora Ubu – compre aqui
Realização: Centro Cultural Vale Maranhão e Ubu Editora
Patrocínio: Vale e Instituto Cultural Vale