Não era provável que a HBO engataria outro sucesso logo após o fim de Game of Thrones, mas é exatamente o que aconteceu com Chernobyl, minissérie sobre a catástrofe nuclear na Ucrânia em 1986. Desde sua estreia em maio, ela tem ganhado força no boca a boca entre os espectadores, além de críticas excelentes não apenas pela interpretação dos atores, mas também pela precisão com que foi realizada.
São apenas cinco episódios, encerrados na semana passada, mas o buzz não parou de crescer e, se você ainda não viu, ainda está em tempo. Junto com a série, há muitos outros materiais sobre Chernobyl, de livros a contas no Twitter, que trazem informações rigorosas sobre esse fato, considerado um dos piores desastres da nossa história.
Abaixo, algumas curiosidades que você pode ler – sem medo de spoilers:
Diretor vem da cultura pop
Os episódios são dirigidos pelo sueco Johan Renck, que vem a ser também quem dirigiu o clipe de Hung Up, de Madonna. Na verdade, ele está por trás de clipes para todo mundo que importa na música pop, como David Bowie (Lazarus e Blackstar), Suede (She’s in Fashion), Beyoncé (Me, Myself and I), New Order (Crystal), entre muitos outros. Ele também recebeu diversos prêmios publicitários, como Leões em Cannes por anúncios para marcas como Nike e H&M.
A tragédia
O desastre nuclear propeliu partículas radioativas em mais de mil quilômetros quadrados da Ucrânia e da Bielorrússia. O número de mortos ainda é desconhecido: informações oficiais mostram que 31 pessoas morreram, mas o número de mortos a longo prazo é estimado entre 4000 e 93.000 como resultado do vazamento. A série se passa nos anos 80 em Pripyat, localizada na Ucrânia, perto da fronteira da Belarus, construída na década de 70 para alojar as pessoas que trabalhavam na central nuclear. Ali vivam 50.000 pessoas.
Figurino
Chernobyl faz uma recriação meticulosa de todos os detalhes e isso, naturalmente, passa pelo figurino, assinado pela britânica Odile Dicks-Mireaux, de Brooklyn e O Jardineiro Fiel. Era necessário ser o mais preciso possível com os vários grupos que compõem essa história: os trabalhadores da fábrica e suas famílias, os cientistas, os bombeiros, os trabalhadores do setor de saúde, os soldados, os membros do partido e os que são chamados por liquidatários, as quase 200.000 pessoas que ajudaram a limpar e tentar minimizar as consequências da explosão. Chernobyl é uma série de uniformes porque fala sobre o coletivo. Todos os grupos, sejam bombeiros ou políticos, tinham o seu uniforme. A cartela de cores oscila entre todos tons de bege, azul, marrom e cinza.
Odile sua equipe assistiram a vários documentários sobre Chernobyl, pesquisaram revistas da época e visitaram o Belarus Film Studios para ver as roupas originais. Também tiveram a consultoria de um alfaiate lituano que contou que todas as roupas eram de poliéster e lã.
Atores
A série já alcançou a pontuação mais alta no IMDB, superando Breaking Bad e Game of Thrones. A encenação afiadíssima dos atores devem também render prêmios nos próximos Emmy e Globo de Ouro.
Pesquisa
Havia poucos documentos confiáveis da época, mas a produção foi atrás das pessoas reais que vivenciaram a tragédia e de livros escritos por pessoas afetadas, como Vozes de Tchernóbil, de Svetlana Alexijevich, tido como o relato mais impressionante da tragédia nuclear e que deu a Svetlana o Prêmio Nobel de Literatura. Ele está à venda em livrarias como a Cultura por cerca de R$ 46.
Descobriu-se também que Lyudmila Ignatenko, interpretada na série por Jessie Buckley, vive em condições precárias com seu segundo filho, deficiente, enquanto seu nome aparece nos meios de comunicação de todo o mundo.
The Chernobyl Podcast
Pode ser ouvido no iTunes, Spotify e Youtube com uma conversa entre o escritor e apresentador americano Peter Sagal e Craig Marin, criador, escritor e produtor executivo da série, falando sobre os bastidores da produção. Há um episódio para cada capítulo da série.
A Rússia não gostou nada da versão da HBO
A Rússia está produzindo sua própria versão de Chernobyl para rivalizar com a HBO. Porém, a série irá focar num agente da KGB que caçará agentes da CIA tentando sabotar o reator nuclear antes do desastre, segundo o diretor Alexei Muradov.
A série da HBO atribui o desastre nuclear a uma combinação de decisões imprudentes tomadas por altos funcionários da fábrica e à censura do Estado soviético, que resultou no governo escondendo do público o perigo ao qual estava exposto. Esse retrato está sendo considerado altamente acurada, porém jornalistas da antiga União Soviética chamam a série de imprecisa e caluniosa. A versão russa tem como premissa a teoria de que agentes da CIA sabotaram o reator nuclear, o que levou ao acidente.
Mal gosto nas redes
Meanwhile in Chernobyl: Instagram influencers flocking to the site of the disaster. pic.twitter.com/LnRukoLirQ
— Bruno Zupan (@komacore) June 9, 2019
A cidade de Pripyat hoje parece uma cidade fantasma e, mesmo sendo palco de uma tragédia, virou cenário para influenciadores e turistas curiosos que têm postado selfies com os prédios abandonados e espaços vazios de Pripyat de fundo. O local é aberto ao público desde o final dos anos 90, mas após o lançamento da série, o turismo teve uma alta de 40%.
Uma busca rápida por #Chernobyl no Instagram mostra dezenas de fotos de pessoas posando até provocativamente em frente locais com essa carga de um dos maiores desastres da história. “É maravilhoso que #ChernobylHBO tenha inspirado uma onda de turismo para a Zona de Exclusão, disse escritor da série, Craig Mazin. “Mas, sim, eu vi as fotos por aí. Se você visitar, lembre-se que uma terrível tragédia ocorreu lá. Comportem-se com respeito por todos os que sofreram e se sacrificaram”.