A influência das subculturas em geral nunca foi uma novidade dentro do mundo da moda. A maioria das pessoas pode não participar de longas festas com até uma semana de duração, mas não há como negar que a subcultura das raves romperam fronteiras. Sua estética, cultura e som estão cada vez mais presentes, de forma direta ou indireta – como, por exemplo, no sucesso do app KiraKira e seus sparkles.
Essa é uma tendência que vai e vem, com picos de crescimento, como quando Marc Jacobs colocou em sua passarela modelos com dreads coloridos, botas plataformas e hot pants com acid house rolando na trilha. Molly Goddard, Christopher Shannon, Charles Jeffrey e Comme des Garçons são mais alguns exemplos de marcas que trouxeram a estética e o conceito clubber para as tendências de 2017/2018.
Faz um tempo que os anos 90, década associada à cultura rave e clubber têm inspirado diversas marcas e se solidifica como uma das grandes inspirações na moda neste ano também.
Em sua última coleção SS18 masculina, Rei Kawakubo trouxe as cores hipersaturadas, luzes multicoloridas, lurex e, principalmente, a juventude na atitude dos jovens modelos, que pareciam realmente estar em uma festa. “Rei estava pensando em disco” diz Frédéric Sanchez, que assinou a trilha do desfile. “Ela não ia focar no passado – a ideia não era tocar Gloria Gaynor ou Donna Summer – mas em vez disso, a ideia era explorar a origem da palavra. O que você poderia por em uma palavra como esta para tornar ela extrema? Então eu mixei todas as faixas de um modo frenético, com essa ideia de haver um clube imaginário, e neste momento onde estaria tudo misturado em sua cabeça. Uma espécie de mistura disco extrema, então é disco e é uma rave.”
As raves são lembradas como uma cena em que comunidade é fundamental e o dinheiro insignificante. Brown Sauce, m dos criadores da página Humans Of Sesh, que fala sobre acontecimentos clubbers em sua região, acredita que sua diversão nunca será como as das imagens granuladas dos ravers originais. “Há um sentimento massivo de que todo mundo foi à uma ótima festa, mas que chegamos tarde demais”, diz Sauce em entrevista ao The Guardian. “Nossa ideia de uma boa festa – as caixas de som enormes, o espaço em formato de ‘armazém’ – é baseado na ideia de uma rave, mesmo que você não saiba o que é uma rave. Há uma nostalgia em relação a essa era, mesmo que você não esteve perto dela.”
O que podemos ver num cenário mais atual, é uma tentativa jovem do resgate da sensação anti-establishment através de novas raves. No Brasil, vale destacar o surgimento de coletivos que promovem festas livres de música eletrônica, como a Vampire Haus, em São Paulo, muitas vezes ocupando espaços públicos no centro da cidade ou locais considerados abandonados, e que podem chegar a durar até três dias, dependendo do evento. Esse tipo de movimento serve para enxergar a influência da moda não só como estética, mas também como comportamento e olhar de uma subcultura jovem autêntica, sem limitações impostas pelo mainstream ou pela necessidade de venda comercial.
Não é por acaso que muitos designers consideram o movimento da rave como uma das poucas subculturas que realmente continuam vistas como “sub”, sem sucumbir sua essência ao apelo popular. Para estudiosos como Will Stronge, não se trata de apenas um movimento cultural, mas também político. “Os momentos de êxtase na pista de dança são vinculados ao que é ser uma pessoa e parte de uma comunidade,” diz ao site da Dazed. “A música dance como experiência coletiva já tem um significado político, mas é você que pode ou não manter essa experiência política como parte de um maior projeto cultural.”