Phillip Picardi foi chamado de homem do momento pelo New York Times e uma das pessoas mais criativas de 2017 pela Fast Company. Ele está na lista dos 30 Under 30 da Forbes e é tido como a pessoa que vai salvar as publicações impressas.
Phillip é editor da Teen Vogue e responsável pela transformação pela qual a revista passou nos últimos dois anos, saindo do foco em celebridades, dicas de moda e entretenimento para a cobertura de assuntos atuais e com mais posicionamento político.
Ele tem apenas 27 anos, é um homem em uma revista majoritariamente feminina, é gay, seu namorado é negro e ele faz questão de defender e falar abertamente sobre sua sexualidade, sem medo dos milhares de emails haters que inundam a caixa de mensagens da revista. Ele usou seu Twitter para protestar as reclamações que recebeu por causa de uma matéria sobre sexo anal, acusando a publicação de ser irresponsável e de querer que adolescentes pegassem Aids. Ele fez uma série de posts em resposta que terminou com a imagem abaixo:
In conclusion, here’s my only reply I’ll be giving to any of the messages. 🌈 pic.twitter.com/KiFjVqLlH3
— Phillip Picardi (@pfpicardi) July 14, 2017
Segundo Anna Wintour, é justamente essa coragem que fez a Teen Vogue aumentar seu tráfego em 226% nos últimos dois anos. “Há uma falta de medo nele que sinto que faz parte dessa geração e das garotas com quem eles estão falando. É a razão deles terem uma conexão tão maravilhosa com essa comunidade”, diz Anna em um comunicado da Condé Nast, dona do título.
Além da Teen Vogue, ele também está à frente da plataforma online Them, novo produto da Condé Nast com foco no público LGBTQ. “Phil tem uma visão brilhante de como as pessoas estão interagindo umas com as outras através do conteúdo que lêem e assistem e, mais uma vez, identificou vozes e histórias importantes e influentes para trazer à tona”, diz Wintour.
Phillip parece um fenômeno em construção – artigos já o descreveram como o futuro da Condé Nast. Para entender sua importância e como chegou até aqui, separamos alguns fatos sobre sua trajetória.
– Em seu último ano na escola, ele criou o projeto de arrecadação para estudantes chamado Catwalk4Cancer. Hoje, é um evento anual da instituição e, em 2017, o evento arrecadou US$ 250 mil. Essa ação mostra seu lado pró-ativo e empreendedor.
– Ainda adolescente começou a comprar revistas e percebeu que elas eram uma forma forte de contar histórias através do jornalismo. Em uma edição da Vogue, foi seduzido por uma carta ao editor de Anna Wintour em que falava sobre casamento gay e a importância dos direitos civis para os homossexuais. “Percebi que você pode usar as revistas para promover o bem social”, disse ao The Coveteur.
– Antes de começar a faculdade, já com desejo de trabalhar na área de moda, ele mandou um email para a editora da The Racked pedindo um estágio. Ela ligou uma semana depois e no primeiro dia de aula ele teve que faltar para cobrir NYFW. Pró-atividade + cara de pau + sorte.
– De lá, foi estagiar no departamento de web da Teen Vogue e depois acabou como assistente de Eva Chen, diretora de beleza na época, com quem ficou por seis meses. Nesse período, um acontecimento foi crucial para o seu crescimento dentro da revista, mesmo que tenha ocorrido através de uma experiência desagradável. Na plataforma online faculdade, os alunos começaram a tirar sarro dele por causa de sua sobrancelha (Phillip tinha horror de suas sobrancelhas grossas e tirava sozinho com a pinça, fazendo, sem perceber, um estrago). Bom, nesse dia, os alunos pegaram pesado e deixaram vários comentários anônimos e maldosos. Ele acordou chorando, chegou no estágio com aquela cara que não dá pra disfarçar e recebeu um email da sempre atenta Eva: “você deveria escrever sobre a sua sobrancelha”, escreveu. Phillip assim fez, enviou o texto para ela editar e recebeu seu primeiro elogio como escritor (leia o texto aqui). “Ela disse que eu deveria considerar trabalhar como jornalista de beleza”. E foi assim que ele virou editor de beleza. “Mas sentia que havia bastante hesitação por parte das pessoas me aceitarem dentro do departamento de beleza”.
– Da Teen Vogue virou editor de beleza no Refinery29, onde aprendeu com a diretora Mikki Halpin a ter uma visão mais política e abrangente, sempre de forma íntegra. “Mikki nos encorajou e defendeu a integridade editorial de uma forma que espero sempre cumprir. O Refinery29 quebrou muitos códigos e descobriu muitas das fórmulas digitais. Foi um momento de muito aprendizado para mim, especialmente como editor digital”. Seis meses depois, ele estava feliz da vida e realizado, quando recebeu um email de Elaine Welteroth, da Condé Nast, o chamando para almoçar. Ela contou que a Teen Vogue estava atrás de um novo diretor editorial digital. Phillip declinou, disse que o que queria mesmo era ser editor de beleza. “Esse é o momento e você vai cometer um erro se não pensar nisso”, ela respondeu.
– Essa era a chance que ele quase não enxergou. E quando decidiu aceitar, foi atrás de uma boa proposta para apresentar para Elaine. Enquanto seu namorado estudava para as finais de MBA, Phillip o acompanhava na biblioteca da New York University e lá passava o dia montando uma edição-teste de 20 páginas. “Apresentei meu estudo e fui contratado”. Era 2015.
– E foi aí que, ao lado de Elaine Welteroth e da diretora criativa Marie Suter, ele começou a provocar as mudanças editoriais que transformaram drasticamente a revista. As manchetes, que antes eram uma mistura de dicas de moda e beleza e fofocas de celebridades, agora incluem atualizações sobre a legislação do aborto, a luta contra o ISIS e casamento gay.
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– Sua própria experiência se descobrindo gay em uma uma família católica italiana faz com que ele se identifique rapidamente com comunidades que são marginalizadas ou não representadas da forma correta. “Tive aulas de educação sexual e nunca mencionaram homossexualidade. E nas aulas de religião, eu sentava na cadeira para ouvir que minha vida era um pecado”, disse ao The Guardian.
– O que Picardi fez foi alinhar a revista com as vidas de seus leitores, uma geração mais engajada e consciente. E nos últimos meses, a seção de política do site recebeu, pela primeira vez, mais visualizações do que a de entretenimento. Se antes o veículo produzia de 10 a 15 artigos por dia, hoje faz de 50 a 70.
– A edição de dezembro 2017 teve como editora convidada ninguém menos do que Hillary Clinton. “Basicamente, apenas por omissão, estávamos assumindo que a leitora não estava interessada nesses assuntos. Os jovens estão sendo diretamente afetados por todas as decisões desse novo governo. Estão estamos nos certificando de que suas histórias e interesses sejam levados à sério”.