Underground britânico
De todas as formas que um músico normalmente tem para divulgar seu novo trabalho, o produtor britânico de música eletrônica alternativa Powell escolheu a menos convencional: divulgando seu próprio e-mail em outdoors espalhados em torno de Londres e Nova York. Os que realmente enviaram mensagem para o e-mail divulgado, receberam como resposta um guia detalhado de perguntas que o produtor gostaria de receber, destacando especial atenção para o seu então recém-lançado álbum, Sport (2016).
Para o britânico, esse não é um método tão incomum. Em 2015, Powell enviou e-mail para o músico Steve Albini perguntando se não poderia usar parte de uma de suas músicas como sample da faixa que estava produzindo. Albini respondeu e, embora tenha autorizado o produtor a usar o que quisesse em relação à sua obra, apenas um excerto de seu mensagem dizia: “Eu detesto a cultura club tão profundamente como detesto qualquer coisa na terra”. O que serviu como um prato cheio para Powell, que divulgou a resposta completa em outdoors espalhados por toda Londres.
O britânico trocou a publicidade pela música em 2011, e tornou-se uma das figuras mais reconhecidas do underground britânico. Ainda que tenha o seu próprio selo, Diagonal Records, que lança nomes alternativos da música eletrônica, Sport, seu primeiro álbum, foi lançado pela XL Records, mesma gravadora de Adele e Jamie xx. Seu mais recente videoclipe, Freezer, tem a direção de Wolfgang Tillmans, o fotógrafo alemão que está com super mostra em cartaz na Tate Modern, em Londres, até 11 de junho. O vídeo é uma série de fotos captadas por Tillmans que mostra autoridades como seguranças, policiais e soldados em meio a protestos de rua. Tal clima é contrastado com imagens de plantas em meio ao vento e gotas d’água enquanto sacolejam em superfícies. O último videoclipe que dirigiu foi do filme de seu próprio álbum visual, Fragile, estrelado por Hari Nef e lançado no fim do ano passado.
Indie pop californiano
Quatro anos atrás, as irmãs da banda Haim lançavam seu primeiro disco Days Are Gone. O pop noventista ensolarado das meninas conquistou público e crítica, levando as garotas a tocar em festivais giga como Glastonbury e Coachella, além de render uma indicação ao Grammy. Já passava da hora de surgir algo novo quando elas finalmente anunciaram nas redes sociais o lançamento do novo disco, Something To Tell You, prometido para 07 de julho. E o fizeram grande estilo: com um videoclipe de uma performance ao vivo em estúdio dirigido por ninguém menos que Paul Thomas Anderson (Magnólia, Sangue Negro).
A música sempre foi uma forma de expressão natural para as irmãs Alana (25), Danielle (28) e Este (31). Nascidas em San Fernando Valley, em Los Angeles, cresceram ouvindo os discos de folk, country e rock clássico dos anos 1970 de seus pais. Juntos, aliás, formaram a primeira banda, a The Rockinhaim – Mordecai, o pai, tocava bateria, e Donna, a mãe, era a guitarrista, quando as meninas ainda estavam na escola e se apresentavam em feiras de caridade da região.
Em 2006, decidiram formar a banda que leva o sobrenome delas, Haim. Antes do lançamento do primeiro álbum, Days Are Gone, em 2013, elas se apresentavam para um público pequeno e, no meio do caminho, cada uma foi adquirindo paralelamente a própria bagagem profissional. Este, a mais velha, graduou-se na faculdade de etnomusicologia; Danielle, a do meio, foi baterista de uma das turnês de Jenny Lewis, tocou violão e percussão na turnê solo de Julian Casablancas e até participou da Scarlet Fever, as backing vocals de Cee-Lo Green; e a caçula, Alana, chegou a se matricular em uma faculdade, mas a banda com as irmãs engatou rápido, então, os estudos ficaram pra mais tarde. Depois do lançamento do primeiro EP, Forever, o trio abriu shows de Florence and the Machine e Mumford and Sons.
Days Are Gone, o álbum de estreia, fez bastante barulho, natural, portanto, que o segundo álbum seja aguardado com grande expectativa. O perfeccionismo das três foi um dos motivos que atrasou a entrega do álbum, antes prometido para o ano passado. Elas não só cantam, tocam e compõem, como também deram os toques finais na produção de Ariel Rechtshaid (também um dos produtores de Days Are Gone), e Rostam Batmanglij, ex-Vampire Weekend. “Essas coisas levam tempo, não queríamos divulgar nada que não estivéssemos 100% apaixonadas”, disse Danielle à Entertainment Weekly.
Ainda pouco se sabe sobre o que esperar do novo álbum, apenas que o trio buscou fazer algo mais orgânico, mostrar um sentimento real da banda num retorno às origens. As primeiras ideias surgiram, por exemplo, quando se reuniram na sala de estar da família, onde tocavam quando eram crianças e que não frequentavam há um bom tempo, depois de anos na estrada. O processo criativo envolveu a gravação de extensas demos à la banda de garagem, as quais o trio foi “lapidando” uma por uma até mostrar para Ariel e Rostam.
É possível sentir um pouco desse clima no clipe de Right Now, primeira música divulgada e que ganhou o tal vídeo de take único dirigido pelo mestre PTA. Tudo gravado em um estúdio em San Fernando Valley, terra natal do diretor (e das meninas) e pano de fundo para os seus primeiros filmes. Em tempo: elas divulgaram recentemente o primeiro single, Want You Back; ouça aqui.
Por uma boa causa
Para fechar o trio de videoclipes com nomes ilustres na direção, Kristen Stewart comanda o novo vídeo da banda de synth-pop Chvrches. Depois de debutar como diretora no Festival de Sundance, em janeiro, com seu curta Come Swim – que, aliás, desembarca na próxima semana em Cannes, como parte de uma programação especial do festival francês -, ela assumiu o clipe de uma nova versão da faixa Down Side of Me, originalmente no disco Every Open Eye, de 2015. A ideia do vídeo é criar uma estética emotiva e intimista, cheio de closes dos olhos e mãos da vocalista Lauren Mayberry, acompanhando o passo lento da música.
Essa nova versão é a contribuição do trio britânico ao disco 7-inches for Planned Parenthood – uma compilação de vinis 7″ e singles digitais em prol da Planned Parenthood, organização americana de planejamento familiar ameaçada a ter suas portas fechadas pelo governo Trump.
“Todos nós deveríamos acreditar que os nossos governantes estão trabalhando em nosso favor, para um bem comum – e se eles não estão, eles devem ser desafiados e responsabilizados. Down Side of Me não foi escrita especificamente para esse projeto, mas gosto da maneira que a interpretação dela pode servir de apoio para o objetivo desse projeto como um todo”, explica Mayberry.
Outros artistas envolvidos nesse projeto são os músicos Björk, Foo Fighters, St. Vincent, Common, Bon Iver, The National, Feist, Laurie Anderson, Sharon Van Etten, Sleater-Kinney; os comediantes Pete Holmes, Sarah Silverman, Jenny Slate, Tig Notaro e Zach Galifianakis; a autora Margaret Atwood, entre outros.
https://www.youtube.com/watch?v=c2F_wEnLPZ4