Este ano marcou uma mudança considerável e certamente sem volta no mercado de moda. 2018 foi o ano em que a moda masculina dominou e foi a responsável pelas notícias mais quentes, as maiores novidades e os melhores desfiles. Vimos Virgil Abloh e Kim Jones virarem super designers na mesma potência que antes era dada apenas aos estilistas de moda feminina, como Marc Jacobs, por exemplo. Seus desfiles para as linhas masculinas da Louis Vuitton e Dior, respectivamente, ganharam tanto investimento e cobertura quanto os shows femininos.
Na Celine, Hedi Slimane anunciou que vai incorporar uma linha masculina, a primeira na história da marca francesa. Jun Takahashi, da Undercover, também vai parar de mostrar feminino em Paris e focar apenas no menswear.
Aqui no Brasil também há um boom de novas marcas masculinas surgindo, criando desejo e conquistando fãs e novos consumidores. O SPFW N46 foi a edição do evento que mais concentrou marcas masculinas em sua história. 13 ao todo, incluindo aí as que trabalham com ambos os gêneros, como Osklen, Ronaldo Fraga e Ratier. Basicamente, tudo o que tem acontecido de mais legal e novo na moda, vem do mercado masculino.
“Esse movimento é muito mais do que um buzz, é uma tendência bem profunda. “Há uma demanda forte por toda a indústria masculina, em todas as suas formas, e que vem de uma clientela mais jovem”, diz à Reuters o diretor do grupo LVMH, Sidney Toledano.
A moda feminina ainda detém a maior fatia da indústria, mas o segmento masculino está não apenas crescendo, como trazendo novas regras ao mercado. Segundo a empresa Euromonitor, as linhas masculinas devem superar as femininas até 2022.
Tudo isso vem acontecendo num crescendo nos últimos anos com a ajuda das redes sociais e o surgimento de líderes jovens que trocaram o terno pelo moletom e sneaker como roupa de trabalho. Paralelamente a isso, o fenômeno do streetwear e sua aceitação no mainstream, impactado os códigos do vestuário masculino: ao mesmo tempo em que os homens estão mais abertos e casuais, também são mais cientes de marcas do design e responsáveis pela veneração em torno das marcas de streetwear ou de design como Raf Simons e Off-White.
No varejo, o modelo que hoje parece ser regra é o dos drops, que começou na cena street em Tóquio com marcas como Hiroshi Fujiwara e A Bathing Ape e, por aqui, foi adotado com maestria pela Supreme. Nunca antes havíamos visto homens passar horas em uma fila, debaixo de sol, chuva ou neve, pra comprar uma roupa. Algo que, convenhamos, não tem acontecido nem com as mulheres. Praticamente todas as outras marcas do mundo passaram a olhar com curiosidade para esse evento, tentando reproduzir seu modelo como se tivessem achado a galinha dos ovos de ouro. “Isso se deve ao fato de os homens hoje colocarem uma ênfase maior em sua aparência, impulsionada pela ascensão das mídias sociais e os códigos de vestimenta para os homens terem se suavizado globalmente”, diz Marguerite Le Rolland, consultora em beleza e moda da Euromonitor.
Na Europa, a mudança é visível e pode ser exemplificada pela queda nas vendas de terno, que caiu US$ 700 milhões entre 2012 e 2017, contrastando com o crescimento de vendas do jeans premium, ainda de acordo com a pesquisa da Euromonitor.
Outro fator importante é a idade do consumidor. Os clientes estão cada vez mais jovens e esse mercado está sendo praticamente sustentado pelas gerações Millennial e Z. Na Balenciaga, a clientela que mais impulsiona as vendas é a masculina, junto com os millennials (vide a febre dos chunky sneakers). “O negócio masculino explodiu nos últimos cinco anos”, diz Roopal Patel, diretor de moda da Saks Fifth Avenue. Uma das principais multimarcas dos Estados Unidos passou a incorporar novas marcas em seu portfolio, como Off-White e Ami. Outros designers tais quais Craig Green e Matthew Williams também têm mostrado um trabalho tão consistente quanto inovador, engrossando a lista das grifes que têm transformado o mercado masculino.
Como disse Sidney Toledano,o streetwear não é uma tendência passageira e sim uma grande mudança. Se para muitos o mercado feminino parece saturado, é no menswear que estão hoje as melhores oportunidades – para quem vende e para quem compra.