Já faz um tempo que Pharrell Williams é embaixador da Chanel, participando de campanhas, indo aos desfiles e estrelando vídeos para a marca. Esta semana ele deu um up grade em seu relacionamento com a marca e lançou uma coleção cápsula em que assina a co-criação. A linha foi lançada ontem (27.03) na abertura da flagship da Chanel em Seul.
Esta é a primeira vez que a maison lança uma coleção nesses termos, permitindo uma parceria criativa. E o curioso é que escolheu fazê-lo com um homem, sendo que sua oferta sempre foi focada no segmento feminino. Pharrell parece a escolha certa: um ídolo para jovens antenados (independente de gênero) que amam música, moda e estilo. Ele mesmo incorpora elementos considerados ultra femininos, como o colar de pérolas, em seus looks, combinando moletons ou smoking com duas ou três voltas de pérolas Chanel no pescoço.
Hoje, esse visual já foi aderido por rappers como Young Thug, Future e Lil Uzi Vert, que vêem na Chanel a marca da vez. É o stylist Bobby Wesley que é avisado por boutiques como a Jeffrey, de Nova York, quando recebem algo em um tamanho maior. Wesley compra na hora para seus clientes do hip hop e a peça vale cada dólar gasto: se não for única, é no mínimo rara porque não é encontrada neste tamanho com frequência.
E como a gente já conhece a história de que a escassez fabrica o hype, as roupas e acessórios Chanel viraram o must para o público masculino que usa a moda como maneira de comunicação e expressão. “É o que os rappers querem usar agora. Ninguém mais está usando, é algo raro”, diz Wesley à GQ. “Quando você pega uma marca que é icônica, é feminina e um homem pode usar… É o maior prêmio que existe. Porque muitos outros caras vão querer essa peça que o rapper está usando, mas eles não vão encontrar, simplesmente porque não existe em seu tamanho”.
Junta isso ao fato de que o mercado masculino está crescendo tanto em tamanhos quanto em ideias e estilo, essa parece uma febre que não se pode evitar. Os homens estão usando mais acessórios e aproveitando bolsas, pochetes e correntes para mudar seu visual. “Comprei um cinto com o logo da Chanel para um cliente e ele vai usar como uma crossbody. Eles estão improvisando e usando da forma que acham melhor”, conta Wesley.
Influenciadores asiáticos vão os desfiles da Chanel sem economizar em bolsas, correntes, cintos, carteiras e até sneakers, já que há opções “femininas” em números maiores que podem caber em um tamanho médio masculino. Os mais ousados (e magros) usam as jaquetas de tweed, marca registrada da grife.
Mesmo nos desfiles da Chanel, Karl Lagerfeld sempre incluía alguns looks masculinos usados na maioria das vezes, por seus musos Brad Kroenig e Baptiste Giabiconi. No último desfile Metiers d’Arts, que aconteceu em Nova York, Pharrell e Alton Mason desfilaram (marcando Mason como o primeiro modelo negro a desfilar para a grife). Portanto, a marca não está oficialmente tentando seduzir o consumidor masculino e negou sumariamente quando surgiram os boatos de que estaria planejando uma linha masculina com Hedi Slimane.
Porém, a marca entra em uma nova era pós Lagerfeld. Essa coleção com Pharrell já mostra uma Chanel mais diversa, colorida, jovem, menos luxury e mais sintonizada com o momento atual (a campanha tem Alton Mason, Soo Joo Park e Anok Yai).
Karl sempre foi visionário e, ao trazer Pharrell para perto, inclusive como rosto da linha de bolsas Gabrielle (2017), queria mostrar que essa peça – ou a marca – poderia ser usada em circunstâncias diferentes. É mais sobre um espírito, uma atitude e não tanto sobre masculino e feminino. A linha com Pharrell parece buscar essa mesma energia que, inclusive, está enraizada no próprio fundamento de Coco Chanel, que desde sempre emprestou do armário masculino.
Talvez, enquanto muitas marcas estejam tentando derrubar as fronteiras juntando os gêneros ou os apagando, a Chanel é quem está lá na frente, calmamente inserindo peças verdadeiramente femininas no guarda-roupa masculino, deixando a eles a escolha de como interpretar e usar esses símbolos. Essa seria a verdadeira transformação. Naturalmente mais difícil e improvável, mas não impossível.
Certamente, puxados por Pharrell e pelos rappers, veremos mais homens usando peças da grife e então uma grande febre pode ser detonada. “Eles não têm medo disso”, diz o músico no making of da campanha. “Assim como Gabrielle não tinha. A Chanel não precisa ser uma fronteira. Contanto que você possa trabalhar seu legado e continuar a empurrá-lo para frente, como Karl sempre fez, nós não precisamos de paredes – precisamos de pontes”.
A linha Chanel x Pharrell, que você também pode ver abaixo, chega a algumas lojas selecionadas da Chanel dia 4 de abril.