Rodrigo Evangelista é um daqueles criativos espirituosos, que mudam o astral por onde passa, como se sua energia anunciasse sua chegada antes do próprio. É mais ou menos assim com suas roupas também. O designer trabalha com volumes largos, abaulados, formas teatrais, estampas e contrastes de cores, tudo máxi!
As criações de Evangelista são extremamente performáticas, e isso não é ao acaso. Ele conta que nunca foi daquelas pessoas super apaixonadas por moda, que sonhavam em ter uma marca, mas sempre foi seduzido pelas divas pop e seus figurinos impecáveis de turnês, performances e clipes. O que explica muita coisa.
Do interior da Paraíba, Rodrigo começou sua vida acadêmica na arquitetura, onde dedicou alguns anos antes de perceber que não era aquilo que queria. Logo se jogou em um curso técnico de moda na sua região, para se dedicar a algo que realmente lhe traria prazer. Ele chamou a atenção dos professores, que o recomendaram cursar moda em um centro urbano maior, como São Paulo, onde teria mais oportunidades.
“Acredito que a moda está sim mais aberta para os profissionais de outras regiões. Mas as coisas ainda acontecem por aqui, no Sudeste, em São Paulo. Se eu receber uma demanda de produção de moda para amanhã, estando aqui eu consigo entregar, mesmo que na correria, lá na Paraíba eu não conseguiria, só pelo transporte” nos conta, sobre a diferença de oportunidades da moda nacional para designers sem endereço fixo na região Sudeste do país. “Os editoriais estão aqui, os stylists estão aqui, todo mundo está aqui (São Paulo). É complicado acessar esses espaços sem estar por aqui. Até na questão do ensino. Lá (na Paraíba) não tem uma boa faculdade de moda, e sem um ensino legal é mais difícil de você entregar algo bom também” completa.
Foi aí que, em 2017, ele pisou em São Paulo pela primeira vez para cursar Design de Moda no Istituto Europeo di Design. Como o designer tem conquistado a moda nacional a passos largos, pode parecer que ele já está no ramo há muito tempo, mas Rodrigo se graduou somente em 2019, logo antes da pandemia, quando tinha apresentado apenas uma coleção de graduação, que ele chamou de Feral.
No mesmo ano, sua segunda coleção, Casa Rosa, foi a vencedora do Prêmio Sou de Algodão e vestiu artistas e celebridades como artista plástico Samuel de Saboia, Juliette e até a cantora Lizzo. Ter se graduado logo antes da pandemia, poderia ser um grande retrocesso para Rodrigo Evangelista, mas não foi bem assim.
Foi então no final do ano passado, quando as atividades presenciais começavam a ser retomadas, que Rodrigo Evangelista apresentou sua terceira coleção, Supernova, em um desfile privado, às vésperas da SPFW, na galeria Olhão, na região da Barra Funda. O desfile confirmou que tem muita gente de olho no trabalho de Rodrigo Evangelista, tamanha a presença de jornalistas, editores de moda e influenciadores. A nova coleção mostrou uma boa sintonia entre suas pretensões comerciais atuais e sua assinatura criativa, como os volumes, o maximalismo, as estampas (criadas em parceria com o designer Gabriel Azevedo) e as listras coloridas, em uma inspiração quase circense, ao que ele conta: “Eu adoro fazer misturas de cores e texturas que não são óbvias. Mas sobre as inspirações circenses, lembro sempre da minha mãe falando ‘Ah, para de palhaçada’ e coisas assim” conta Rodrigo, “Eu sempre fui muito atraído pelo entretenimento, pelo circo, teatro, show business, acho que vem daí essa inspiração”.
Atualmente, Rodrigo comercializa suas peças apenas sob encomenda. “Sou muito ligado às artes plásticas. Para mim é sobre criar um objeto vestível legal e que não necessariamente seja reproduzível um milhão de vezes” conta o designer. “Nunca foi a minha intenção ser uma Shein da vida, produzir 500 blusinhas, trabalho da forma mais slow possível” completa. Mas a Rodrigo se prepara para uma investida mais comercial: o novo site será lançado ainda neste ano, para facilitar as vendas e encomendas dos clientes, com opções também de pronta entrega. Para ele, criar para o varejo não é uma grande vontade, mas sim uma necessidade “Quero atender o público e à demanda, tem gente que não pode esperar um mês para uma peça ficar pronta, mas também não quero criar centenas de peças, vão ser poucas unidades de cada coisa e se acabou, acabou” afirma Rodrigo.
Na última coleção, já tivemos uma visão das peças mais “comerciais” do designer. Os grandes volumes ainda estavam presentes, mas pontualmente, gerando silhuetas inusitadas em shortinhos e saias abauladas, por exemplo. Chamativas, sem dúvida, mas que já não causariam estranhamento ao serem usadas em ocasiões sociais, para além de editoriais e desfiles.
“De jeito nenhum” é como ele responde sobre se adequar ao calendário de lançamentos, “Não estou nem aí e nunca estive (risos)”. Apesar da última coleção ter sido lançada logo antes da São Paulo Fashion Week, a intenção não é lançar outra em breve. Ele pretende criar apenas uma coleção por ano, “eu crio coleções quando tenho algo para dizer” conta.
Rodrigo Evangelista prepara ainda uma exposição de suas peças para esse ano, que ele conta que não pode revelar muito. “Eu tenho uma visão bastante positiva (sobre o futuro). Essas coisas ruins acontecem, o mundo nunca foi perfeito e nunca vai ser. Acredito que estamos caminhando para um mundo melhor” afirma Rodrigo, “Sobre tecnologia e futuro, não sou a pessoa mais tecnológica, acho que roupa é matéria e não acredito tanto nessas coisas de moda digital e roupa para aqueles bonequinhos 3D, mas outras tecnologias como impressão 3D acho incríveis” completa.
“O futuro a Deus pertence (risos)” responde sobre o futuro da marca, “Estou no caminho de produzir peças mais comerciais. Estou estudando muito, pensando em novas formas de criar roupas mais legais e que transmitam mais mensagens importantes” finaliza.