Direto de Milão
Desfile da Dolce & Gabbana na semana de moda masculina de Milão Verão 2014 ©Juliana Lopes
Stefano Pilati, o querido da vez
O desfile da Ermenegildo Zegna no comando de Stefano Pilati foi um dos eventos mais esperados da temporada. Não só a coleção da marca, mas o entorno foi dirigido e concebido por Pilati em parceria com o diretor Johan Söderberg. A locação era realmente de cair o queixo (algumas pessoas se distraíam dos looks para olhar os vídeos), na antiga Fiera Milano, um grande galpão. E os modelos entravam ao som do piano de Maxence Cyrin misturado ao tecno-industrial de Klas Ahlund. O mix suntuoso de vídeo e áudio parecia tão importante quanto a coleção.
A fila para ver Stefano Pilati na saída do desfile da Ermenegildo Zegna tinha um ar de festa de aniversário. Eram amigos, simplesmente, querendo vê-lo. Pilati, finalmente, volta pra Itália. Não que tenhamos apurado que alguém se incomodasse com sua carreira na francesa Yves Saint Laurent, mas conhecendo os italianos e ouvindo o que eles tinham a dizer, a comemoração foi também, digamos, patriótica. “Posso cumprimentá-lo?”, perguntou Anna Dello Russo delicadamente ao FFW. Ela estava a alguns passos atrás esperando para abraçar o diretor criativo. Claro, amigos primeiro. Antes disso, Russo comentou: “Ah, com a volta dele, reforça o ar de moda italiana”. Nada de falar da forma e do styling que descongelou a estrutura da tradicional marca. São italianos falando de um italiano que está de volta. Como se tivessem devolvido a ilha de Córsega ao território italiano.
Aparecendo devagar como quem não tinha mais pressa, Pilati era relaxado e se comportava também como aniversariante do mês. Cumprimentou a reportagem como se conhecesse, porque o clima era esse. Então a entrevista, que não tinha sido nem combinada, àquela altura virou duas palavrinhas trocadas : – Stefano, parabéns. Podemos dizer que a sua presença está principalmente nos detalhes? – Você está absolutamente certa! Absolutamente. Pronto, confirmamos a impressão. Risadinhas, aperto de mão. Próximo! E outros tapinhas nas costas continuaram por vir.
Giorgio Armani apadrinhando novos designers
Sempre que um dinossauro da moda dá a mão a um novo designer, a notícia se espalha, causa impacto e uma nova esperança de generosidade no mundo toma conta da atmosfera. Dessa vez foi Giorgio Armani que anunciou a bondade. A partir desta temporada ele vai sempre receber um novo estilista para desfilar no teatro dele. Para quem não conhece, o teatro da via Bergognone, em Milão, é um espaço requintado, grande, com hall de entrada amplo, e backstage bem localizado. E é a cara do Armani. Desfilar nesse espaço, por si só, confere um peso a mais ao evento, pra quem precisa. O primeiro apadrinhado foi Andrea Pompilio, estreante no calendário italiano masculino. “São necessários gestos concretos para sustentar a moda italiana. (…) Por isso decidi deixar à disposição o meu teatro para o desfile de alguns novos designers mais promissores, que vão poder usufruir dos serviços técnicos da estrutura que eu tenho”, comentou Giorgio Armani em comunicado oficial.
Dolce & Gabbana e o pelado da passarela
Final do desfile da Dolce & Gabbana na semana de moda masculina de Milão Verão 2014 ©Juliana Lopes
As questões judiciais dos estilistas com o governo italiano não foram capazes de mexer na agenda de eventos da marca que, inclusive, promoveu uma festa com presença do jogador Lionel Messi para recolher fundos para um projeto social. Mas muita gente palpitou, em tom de ironia, na saída do desfile, que o manifesto de um homem que invadiu a passarela totalmente nu foi para lembrar o fato. Mas… a favor ou contra os estilistas? O jornalista Tim Blanks e outros amigos ficaram na porta esperando para ver o que acontecia. Se o pelado saía, ou não. “Eu acho que foi uma manifestação a favor, e a nudez significa liberdade!”, brincou um deles. “Será que ele vai sair lá de trás vestido de Dolce & Gabbana?”, disse outro. Os seguranças comentaram com o FFW que uma viatura da polícia viria buscá-lo. O FFW conversou com um policial na frente do teatro Metropol, onde foi o desfile, mas ninguém sabia de nada. Resultado? O pelado sumiu, ou saiu vestido e ninguém o reconheceu. A gracinha rendeu alguns momentos de descontração, mas ainda nada que toque a reputação da marca.
As politicagens da moda italiana
Fica cada vez mais difícil acompanhar porque o calendário dá sempre confusão. Vira e mexe estilistas se irritam com a Camera della Moda Italiana. E vice versa. É um entra e sai do calendário. Dessa vez foram Dolce & Gabbana e Roberto Cavalli. O resumo é o seguinte: a Camera quer que os estilistas se associem, paguem e assim façam jus a uma participação efetiva no calendário da moda italiana. Ao mesmo tempo, a Camera abre exceções e não obriga marcas como Valentino, Miu Miu e Moschino a voltarem para as passarelas de Milão. Patrizio Bertelli, CEO da Prada e agora um dos vice-presidentes da Camera, prometeu mudanças ainda maiores para o calendário de setembro. A ideia é fazer “Milão falar com o mundo”.
Paralelamente, a assessora de Políticas para o Trabalho e Desenvolvimento Social com ênfase em Moda, Cristina Tajani, já prometeu que a prefeitura de Milão quer ajudar a reforçar a semana de moda e promete investimento e projetos. Em entrevista ao jornal “Fashion”, Tajani diz querer mexer em estruturas comerciais, pensando inclusive em prolongar o horário de abertura das lojas da cidade. E promete em breve uma exposição sobre a lendária jornalista Anna Piaggi, que faleceu ano passado.
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