Um dos blogueiros internacionais que estão aqui no Rio de Janeiro para a cobertura do Fashion Rio é conhecido como o “artista das polaroids”. Jeremy Kost, 32, nasceu em Corpus Christi, Texas. “Mas eu nunca voltaria para lá”, admite. De lá, Jeremy se mudou para a Califórnia, estudou marketing em Dallas, foi empresário em Washington, e virou fotógrafo “acidentalmente” – com trabalhos publicados na “Vogue Hommes”, “Anthem”, “Elle” e expostos em galerias do mundo inteiro, incluindo o Andy Warhol Museum. O portal FFW conversou com ele, confira a entrevista na sequência:
O fotógrafo Jeremy Kost em um backstage de desfile © Reprodução
Como você começou?
Fazendo fotos no East Village, no underground de Nova York. A coisa toda começou acidentalmente, antes que eu soubesse estava envolvido com celebridades, fashion weeks…
Qual foi o seu primeiro trabalho como fotógrafo?
Foi uma página de acessórios da revista “Elle” americana. Eram celebridades e seus acessórios, fotografados em snapshots.
O que você fazia antes de ser fotógrafo?
Eu tinha um emprego comum, usava terno e gravata. Eu vim de Washington para NY transferido, e tive como me estabelecer na cidade. Mas depois de 18 meses eu sabia que tinha que tomar uma decisão. Mudei pra NY em abril de 2004, e em 2006 já estava trabalhando com polaroids.
Quão importante a polaroid é pra você (a mídia)?
A polaroid é tudo. Eu não uso digital nunca. A mídia é tão importante quanto o assunto, é realmente uma coisa que define o processo. As coisas mudam, agora faço vídeos também… mas primariamente é polaroid.
E como essa mídia altera a a sua edição, os seus critérios de edição, o processo criativo?
Depende do que estou fotografando. Aqui [no Rio] estou mandando fotos pra uma pessoa, então nesse caso a edição é importante. Quando estou fotografando um garoto, não uso edição nenhuma, cada snapshot se torna parte de um painel. Toda polaroid é uma peça única. Não tem edição, é o que é.
Sem pós-produção?
Não há.
Você é contra?
Sim. Quando faço uma ampliação, não dá pra evitar – você tem que corrigir cores, etc. Mas não mudo a imagem como um todo.
Qual foi o momento decisivo da sua carreira?
O ano passado foi muito incrível. O número de desfiles, ser representado por uma agência grande, as exposições… Ter meu trabalho exposto no Andy Warhol Museum foi uma grande validação.
E as suas inspirações, referências. Como elas te afetam?
Eu tenho referências muito abertas. Claro que Warhol é uma influência chave, mas Mapplethorpe e outros fotógrafos também são referências pra mim. Eu não gosto de olhar para uma imagem e criar ela ao redor de outra pessoa, gosto de criar o meu trabalho. Quando estou fotografando vida noturna, é muito errático, é tudo que eu vejo. Quando fotografo modelos, às vezes eu tenho a ideia e acho a locação, às vezes tenho a locação e não tenho a ideia.
Ricardo Merini fotografado por Kost no parque do Ibirapuera, em São Paulo © Jeremy Kost
Você acha que a cultura digital banalizou a arte da fotografia como um todo?
Acho que é por isso que eu o site que eu tenho – não gosto de chamá-lo de blog, porque ele é mais um fluxo de consciência do que acontece no meu estúdio – às vezes tem um garoto que estou clicando, às vezes polaroids de locações. Eu realmente tento controlar o que estou publicando. Estou trabalhando em dois livros e quero que as pessoas sintam, tenham contato físico com a imagem.
Quais foram os personagens mais interessantes que você já trabalhou?
De longe foram as drag queens que eu fotografei.
Por quê?
A ideia de transformação é realmente fascinante. Eu pesava 135kg. Essa ideia de se tornar outra pessoa, se transformar fisicamente, mas continuar com a mesmo essência de quem você é por dentro me fascina. Essa ideia de entrar num personagem do momento em que você sai de casa até a hora que volta é incrível.
O trabalho de Jeremy Kost com drag queens: a transformação é um atrativo
É por isso que a moda te atrai? Pela ideia de transformação?
Talvez, mas não acho que tem muito a ver com moda. Moda é sobre uma pessoa ter uma visão e outra adptar-se a essa visão. Mas para mim as drag queens, com quem eu trabalho cada vez mais, criam o personagem, constróem o figurino dos pés à cabeça. É incrível. Um designer tem uma equipe de maquiagem, de cabelo, das roupas e só assim a coisa toma forma. Uma drag queen faz tudo isso sozinha. Imagine o trabalho. Eu as vejo desenhando como designers, rabiscando as suas ideias.
Fale sobre a sua próxima exposição…
É uma exposição que dá continuidade a outras que eu fiz recentemente. Um trabalho criado na vida noturna e com as pessoas que circulam ao redor dela. Não necessariamente no clube, mas nas ruas, nas esquinas, drag queens trabalhando no gueto…
E o seu trabalho com garotos?
É um trabalho super pessoal. Mas não me sinto exposto. Tento estabelecer uma relação com quem eu vou fotografar, prefiro fazer um casting, conversar, falar das minhas ideias, mostrar o meu trabalho, definir o que vamos fazer. Em São Paulo eu fotografei os modelos Edilson Nascimento e Ricardo Merini, e foi muito bom. Pra mim o diálogo é muito importante.
Você acha que o seu trabalho mais inspirado é aquele que tem uma história por trás?
Eu nunca sei o que eu vou amar. É tudo ou nada, na verdade. Pra mim, fotografar é uma dança: quando os dois estão em sincronia, se movendo ao mesmo tempo, é quando a criação acontece.
Acesse o site oficial do artista: jeremykost.com
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