Paris pode não ser a cidade mais indicada para jovens estilistas. Os preços altos de aluguel, mão de obra e matéria prima deixam a cidade bem mais cara em comparação a outras capitais criativas como Berlim e até mesmo Nova York. Mas mesmo assim, superando todas as dificuldades, uma leva de novo nomes têm chamado considerável atenção nas semanas de moda, atestando que o novo sempre vem.
Paris, ou melhor, a França conta com poucos programas de incentivo e apoio para novos estilistas. As publicações locais tampouco parecem interessadas em promover as marcas jovens que lutam para ter seu espaço entre as grandes maisons. Assim, a moda local parece um tanto quanto estagnada em sua rica e vasta tradição no ramo, tornando o mercado um tanto quanto árido para embriões fashion.
“É muito difícil começar uma grife de moda aqui na França”, conta a especialista em corsets Linda Vongdara que, depois de 5 anos fazendo lingeries sob medida, decidiu lançar sua primeira coleção de prêt-à-porter. Com pano de fundo fetichista, seu Inverno 2010 é inspirado nos uniformes – dos militares aos escolares. Da fonte jorram casacos de marinheiros decorados com faixas vermelhas, capas de alfaiataria desconstruída e saias com plissados nas costas, num estilo bem colegial.
“Quis me focar em peças de corte simples, fáceis de usar, decoradas apenas nos detalhes”, explica a estilista que se encarregou sozinha de todos os processos da pequena coleção – do desenho a costura. E se a imagem final é pouco inovadora, o contrapeso está no acabamento de alta qualidade. “Como é a minha primeira coleção, sei que os compradores prestam muito atenção na qualidade das peças e nos detalhes internos”.
Looks da Maxime Simoens Inverno 2010: o jovem estilista francês tem extremo cuidado com os detalhes. A estampa que parece de oncinha é, na verdade, formada por micro borboletas © Divulgação
Qualidade e atenção aos detalhes também são elementos essenciais no trabalho de Maxime Simoens. O estilista transforma micro borboletas em animal print de oncinha, canutilhos em estampa abstrata e ainda conta com um manuseio têxtil de alta qualidade.
Seus vestidos próximos ao corpo e suas jaquetas ajustadas em tecidos encorpados com toque militar e um leve clima anos 1940 trazem um equilíbrio muito interessante. “Eu me esforço para nunca cair no excesso, em vestidos muitos elaborados, com decorações over”, diz. “Tenho sempre em mente que a moda será, acima de tudo, vestida por alguém”.
Inverno 2010 de Nicolas Andreas Taralis: sua alfaiataria é tratada com cuidados meticulosos, resultando em cortes primorosos © Divulgação
Nicolas Andreas Taralis é outro nome que merece destaque. Depois de três anos longe do circuito fashion, o estilista, que passou rapidamente pela direção criativa da Cerruti, retorna com uma coleção que oscila entre o formal e o casual – com algumas pitadas de sensualidade. Capas de alfaiataria com corte afiado, ângulos precisos e linhas retas, jeans e jaquetas decoradas com zíperes aparentes e vestidos que pareciam maxi echarpes transparentes enroladas pelo corpo.
E já que estamos falando da nova geração, não podemos deixar de lado o jovem brasileiro Pedro Lourenço, que debutou nas passarelas francesas neste Inverno 2010. “A coleção levou três meses para ficar pronta”, contou ao FFW após seu desfile. “Sendo que um mês foi só de desenvolvimento técnico”. O resultado foi positivo: no vídeo acima, a editora da “Vogue Nippon” Anna Dello Russo se declara surpreendida pela qualidade das roupas do estilista que tem somente 19 anos de idade.