O francês Dimitri Mussard, 35, chegou ao Brasil em 2010 bem no momento em que o país era uma forte aposta de potência para o futuro. Com família com tradição no ramo de moda de luxo, pareceu natural que ele abrisse seu negócio próprio com foco em moda. Assim ele lançou a Acaju do Brasil em 2011, que na época era uma loja que trazia marcas francesas pequenas e cool.
Hoje, a Acaju redirecionou o seu foco: continua apostando em grifes menores e independentes, mas sua curadoria se alastra por cerca de 50 países. Seu diferencial é que o próprio dono viaja e sai em busca de marcas locais para trazer ao Brasil. Uma coisa que vale notar é que sua pesquisa passa longe de grandes lojas de departamento, se distanciando da obviedade do varejo. Ele acha designers que t6em um trabalho especial e que, de alguma forma, é representativo da cultura de seu país, seja através do artesanato ou da tecnologia.
Um dos exemplos é a mexicana Santa Lupita, que traz para suas peças as cores e o artesanato tradicionais mexicano para vestidos, tops, saias, misturando tradição e cultura com identidade moderna. A grife também apoia os artesãos locais. Todas as peças são feitas à mão e todos os designs são baseados nas cores e padronagens tradicionais do México e criados em cooperação com artesãos de tribos indígenas.
Da Coreia do Sul tem a IISE, que cria peças contemporâneas com uma interpretação street da tradição coreana. Todas as peças são feitas em Seul, usando uma combinação de tecidos e técnicas coreanas. Alguns casacos reproduzem as roupas tradicionais dos monges, mas em tecidos tecnológicos.
Na ponta da tecnologia estão as jaquetas (muito bacanas) da PackMack, fundada por um dinamarquês que já trabalhou nas equipes de criação da Nike e da Converse. Todas as peças são super leves, respiráveis e a prova d’água. “Pode ser porque nós passamos nossa vida em uma das cidades mais úmidas e ventosas do mundo”, diz um dos fundadores. Na mesma linha de peças utilitárias feitas em materiais leves, está a californiana Baggu, com suas mochilas, bolsas, malas de viagem e totes de nylon. A marca começou com a Standard Baggu, um modelo inspirado nas sacolas de plástico que usamos no mercado, só que mais duradouras, leves e com capacidade de carregar mais peso. Hoje a marca também trabalha com couro e lona e deixa a gente maluca na hora de escolher, com tantas cores e estampas lindas.
Da Ucrânia ele trouxe uma série de túnicas e vestes dos anos 60, bordadas à mão, um trabalho espetacular. Tem as bolsas feitas com fio de cobre que Dimitri viu na rua quando andava à caminho da Japan House. Ele se aproximou do artesão e na hora fez uma encomenda. Também vale destacar as bolsas de madeira laqueada da filipina Joanique. “Você não acha isso em lugar nenhum”, diz. No masculino, vale destacar a Pas de Mer e a Walkers Appeal. De fato, a seleção das marcas é muito cuidadosa e pode vir de encontros do acaso, como a história com o artesão brasileiro, ou de extensa pesquisa.
Hoje a Acaju tem produtos vindos de Portugal, Suécia, França, Holanda, Austrália, Espanha, Califórnia, Filipina e ainda assim, todas têm um ponto em comum: são marcas pequenas, que privilegiam sua cultura e a produção local. Não há nada com a frase “made in China” na etiqueta, a não ser que a marca seja, de fato, chinesa. “Cada vez que vou a um país, entrevisto marcas locais, vou nas multimarcas, conheço tudo. Daí vem a parte de negociar uma margem pra importar e chegar aqui com preço acessível”, diz.
Esta é a parte mais árdua, devido aos altos impostos aplicados aqui, o que faz Dimitri sempre se perguntar: “por que continuo a fazer esse trabalho, que é tão mais difícil? Por que não ir direto para as marcas mais comerciais e fáceis de vender?”. Transformar a Acaju em um negócio óbvio com o único objetivo de ganhar dinheiro não está nos seus planos. Normalmente ele gasta US$ 5 mil por marca para conseguir ter um desconto que valha à pena trazer para o Brasil.
Porém, além das marcas de ponta e com um preço mais salgado, há muitas opções de acessórios, objetos e gadgets vendidos por preços bem acessíveis e que agradam consumidores de todas as idades, especialmente os jovens. Capas e cabos de celular, carteiras, uma ótima curadoria de revistas, lenços e óculos (o que mais vende na loja) fazem volume na quantidade de ofertas e também no faturamento.
Hoje, a loja está situada em uma casa na rua Padre João Manuel, nos Jardins, no andar de cima da sorveteria Dri Dri, do seu primo Adriano di Petrillo (a Dri Dri tem lojas em Londres, Veneza, Califórnia e Dubai, entre outras localizações).
Como a quantidade é limitada e Dimitri está sempre trazendo coisas novas, o público encontra novidades a cada visita. Sejam os estrangeiros que se hospedam no hotel Emiliano, a uma quadra da loja, pessoas que acham a Acaju pelo Instagram ou os clientes que buscam por algo inusitado e mais local. “A nossa área mudou bastante com o advento do digital. As marcas quase não precisam de revendedor porque podem vender no mundo inteiro criando um e-commerce próprio, então acredito que só as multimarcas com seleção muito diferente irão sobreviver. É frustrante de ver que no mundo todo as multimarcas mais reconhecidas vendem praticamente a mesma coisa. Meu objetivo é justamente de oferecer uma coisa diferente, com grifes que normalmente não conversam entre si”. A Acaju do Brasil é uma loja que definitivamente vale a visita.
Rua Padre João Manuel, 903, São Paulo