Por Camila Yahn e Carolina Vasone
A alegria de Jeremy Scott está em alta. Mas ele não gosta de rir sozinho. Diretor criativo da Moschino desde 2013, reavivou a marca italiana e aumentou suas vendas (em 20%, no ano passado) com seu humor pop, transformou sanduíches e batatas fritas do McDonalds em item fashion, lançou bonecas Barbie Moschino, começou a vender peças da passarela logo após o desfile, colocou asas e até ursos de pelúcia em tênis da Adidas, uma de suas bem sucedidas parcerias que fazem sucesso com os que sabem não se levar tão a sério e gostam de se divertir com a moda.
Com grife própria, contrato de mais de uma década com a Longchamp e figurinos de shows assinados para clientes fiéis como Katy Perry e Miley Cyrus, Jeremy Scott traz agora seu bom humor para a brasileira Melissa, numa coleção desfilada em setembro passado em Nova York, junto com o Verão 2016 da grife própria do estilista, à venda a partir desta semana. O designer também criou uma bota caubói com a Melissa desfilada em Nova York no seu Inverno 2016-17, mas exclusiva para o show.
+ Veja a coleção da Melissa por Jeremy Scott
+ Moschino por Jeremy Scott
No Brasil para o lançamento mundial da nova colaboração, Jeremy Scott conversou com o FFW sobre a parceria, seu trabalho na Moschino, o novo momento da moda e da política norte-americana e, claro, sua marca registrada na moda, o bom humor. “O mundo já é muito sério, prefiro trazer felicidade para as pessoas.”
O que te interessou na parceria com a Melissa? Como foi a criação da coleção?
É uma marca icônica, que tem também essa preocupação com a questão da sustentabilidade. Fiquei muito interessado em trabalhar com o plástico, porque você tem que ter uma tecnologia avançada para isso, que a marca tem. Adoro essa ideia de tudo ser tão brilhante e colorido. Minha primeira ideia foi a de colocar os bicos de plástico, como se você pudesse inflar os sapatos. Queria brincar com essa ideia do sapato como um brinquedo.
Você citou essa questão da sustentabilidade. Sabemos também que é vegetariano. Está sempre preocupado com a sustentabilidade?
Não consigo me concentrar sempre nesse aspecto, com todos os produtos. Me preocupo, mas embora não coma carne uso couro, não sou contra isso. Ao mesmo tempo, crio sapatos com a Melissa, que são de plástico, então quem gosta do meu trabalho, mas não usa couro, tem a oportunidade de ter uma peça minha.
Você sente que a moda está levando a sério essa questão da sustentabilidade? Há uma tendência, ouvimos casos isolados. Mas você sente que a moda realmente está indo nessa direção?
Quando há a questão rondando no ar, normalmente é porque haverá uma mudança. Mas é difícil de dizer, porque nem tudo está sob o meu controle, por exemplo. A maioria das peças da Moschino é feita na Itália, mas trata-se de uma marca grande, com muitos produtos.
Como você lida com a responsabilidade de reavivar a Moschino, uma marca icônica italiana?
Encarei esse desafio de maneira bem séria. Franco Moschino (morto em 1994, vítima da Aids) é um estilista que respeito, que admiro, que influenciou muita gente, com um grande senso de humor. Era minha responsabilidade trazer de volta esse espírito dele, o que é muito natural para mim, porque este também é o meu espírito. Tem sido uma experiência incrível para mim, poder ser autenticamente eu mesmo, e ao mesmo tempo celebrar o legado de alguém que admiro. Ouço de pessoas que o conheceram que o espírito dele está de volta graças ao trabalho que estou fazendo na Moschino.
Como você enxerga esse seu senso de humor, que acreditamos que venha até com uma certa ironia, e que é a essência da sua moda?
O humor é a marca registrada do meu trabalho. Acho que muita gente não usa humor na moda, as pessoas não se sentem muito seguras a respeito do humor. Para mim é natural: o que é melhor do que um sorriso, do que uma boa gargalhada? O mundo já é muito sério, prefiro trazer felicidade para as pessoas. Se você assistir ao meu show e se por dez minutos esquecer os seus problemas, mergulhar num outro mundo, ou colocar um par de sapatos e se divertir com eles por uma noite, para mim é o melhor presente que posso dar a alguém.
E como é o trabalho com as pop stars que você veste como Katy Perry e Miley Cyrus?
Depende muito, cada trabalho é diferente do outro. Com a Katy Perry, no Super Bowl do ano passado por exemplo [um dos looks mimetizava uma bola de piscina, enquanto a cantora contracenava com tubarões dançando], ela queria um figurino que traduzisse com o mesmo peso o meu espírito e o espírito dela. No caso dela, sou muito parte do trabalho dela e do que ela é visualmente. Ela queria pegar os elementos mais icônicos do meu trabalho e do que ela é: divertida, brincalhona, sexy. Com Miley, ela quer fazer algo sempre diferente, divertido e colorido. Algumas vezes o ponto de partida é apenas uma frase curta, outras um monte de ideias, de informações.
Mas elas te dão liberdade para criar o que quiser ou num certo ponto dizem: não, quero desse jeito?
Acho que tudo é uma questão de confiança. Trabalho com a Katy desde o começo da carreira dela, desde seu primeiro show. Ela tem usado criações minhas na maioria de seus momentos mais importantes, então é uma questão de confiar e saber que serei capaz de chegar ao resultado.
Você trouxe algumas roupas para dar para a Anitta. Como a conheceu?
Na verdade, não a conhecia (o estilista foi apresentado a Anitta depois da entrevista, na festa que a Melissa deu à noite em São Paulo, para o lançamento da coleção em parceria com o estilista). Ela veste muitas roupas minhas, vi fotos dela com as peças, vi como ela gosta da marca. Achei a Anitta fofa, divertida e com uma personalidade alto astral.
A moda vive um momento de muita velocidade, agora há o movimento do “see now, buy now” (a roupa vendida imediatamente depois do desfile) em alta. Você foi uma dos primeiros estilistas a aderir, junto com a Moschino, não?
Na verdade fui uma das primeiras pessoas a fazer isso na Moschino, uma coleção cápsula que é vendida imediatamente depois do desfile. Temos feito isso desde o começo [seu primeiro desfile para a marca foi em 2014]. Me sinto parte desse movimento e acho que ele é natural. As pessoas vêem as coisas, gostam e pensam: “quero comprar agora”. E deve estar disponível. É o mundo em que vivemos, em que tudo é muito imediato. Estou ansioso para saber no que isso vai dar, porque é uma grande mudança para a indústria e é preciso saber se todo mundo consegue entrar nesse movimento e entregar isso. Mas tenho sido um incentivador desse movimento desde o início.
Você consegue ter essa velocidade também na sua marca?
Com a minha marca até agora fiz ação com a Melissa, de vender os sapatos em algumas lojas logo depois do desfile. Mas no futuro também pretendo começar a vender a coleção depois do show, como acontece com a Moschino.
Seu trabalho é marcado por muito humor, diversão, mas você também é uma pessoa muito engajada em questões sérias como a política. O que você acha desse momento de corridas presidenciais norte-americanas, com Donald Trump como forte candidato republicano e os democratas Bernie Sanders e Hillary Clinton?
É um momento muito louco, chocante. Fico triste que Donald Trump tenha esse sucesso, porque ele traz uma mensagem de muito ódio e negatividade. Ele pinta uma imagem tão ruim dos Estados Unidos. Honestamente, os Estados Unidos não vão tal mal assim como ele diz! É muito triste que haja tanta violência no discurso dele. Sendo muito franco eu vou votar na Hillary, acho que ela é muito franca, honesta, apaixonada e tem o conhecimento necessário para fazer as coisas. Aprecio o entusiasmo do Bernie Sanders mas acho que ele não tem os planos certos para conquistar o que ele quer que aconteça. Ele tem mais a ideia, mas não a realidade do que precisa ser feito. É ótimo ter ótimas ideias, mas você precisa fazer com que elas se realizem. Realmente espero que a Hillary ganhe porque ela tem muito conhecimento não só sobre a política, mas sobre a realidade de vida das pessoas, de temas como o crédito estudantil ou o seguro de saúde. Espero que as pessoas superem o fato de sentirem que ela não é uma novidade para elas, ou que ela não seja engraçada ou divertida. Ela não é, mas tem a capacidade. Seria maravilhoso e importante para os Estados Unidos ter uma primeira presidente mulher na história do país, depois de um primeiro presidente negro.