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    Novas agências de streetcasting, como a brasileira Squad, estão mudando a cara e a atitude da moda
    Paul Hameline, que desfila pra Vetements e Dior, da agência especializada em streetcasting TIAD (Tomorrow is Another Day)
    Novas agências de streetcasting, como a brasileira Squad, estão mudando a cara e a atitude da moda
    POR Redação

    Com reportagem de Guilherme Meneghetti para o FFW

    Eles não são exatamente comuns. Mas certamente são do tipo que se encontra andando nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e das principais capitais do mundo. Ou no feed do Instagram. Num misto de novo poder de influência de qualquer um por meio das mídias sociais com o foco do Instagram na imagem, aliado ao revival da força do streetwear nas passarelas numa versão crua quase realista (Vetements, Public School, Gosha Rubchinskiy), uma nova categoria de agência de modelos está surgindo e mudando, literalmente, a cara da moda.

    Diferentes das tradicionais agências de tipos variados – geralmente atores – usados na publicidade, essas empresas focam não só no biotipo fora do padrão de beleza dos modelos, mas também na personalidade e na atitude de seus agenciados. “Nossos modelos não são apenas cabides; focamos numa seleção a dedo de garotas e garotos baseados em Londres que têm personalidade, individualidade, estilo e talento. É uma agência para pessoas que poderiam até ser modelos mas decidiram que não; que são muito cool para serem modelos. São pessoas com vidas reais que transitam nos universos da música, moda, artes, ilustração, etc”, diz, sem falsa modéstia, a inglesa Anti-agency, criada em 2013, talvez a mais famosa desse setor, com modelos em campanhas e desfiles de marcas como Saint Laurent, Margiela, Marc Jacobs, Uniqlo, Cos (a marca cool da H&M) e editoriais para revistas como Purple e Dazed&Confused.

    Amber Lucia, modelo da inglesa Anti-agency

    Amber Lucia, modelo da inglesa Anti-agency

    Aberta há cerca de seis anos, a Tomorrow Is Another Day se especializou em streetcasting masculino (embora tenha feminino também), de garotos de Londres, Berlim e Paris. Paul Hameline, que abre esse texto e trabalha para grifes como Vetements e Dior, é um dos agenciados da TIAD.

    Os meninos que desfilam para Gosha e para a Vetements também vêm das ruas, só que, geralmente, as de Moscou. Foi lá que a agência russa Lumpen selecionou os modelos das últimas apresentações de Gosha, que pretendem, como ele próprio afirmou, subverter a ideia de beleza que a Rússia normalmente exporta, tipo Natalia Vodianova. “É sobre os meninos da cena de clubes, os meninos que vão pras festas… São meninos reais”, disse o estilista russo.

    A coleção de Gosha Rubchinskiy apresentada na última quarta (15), em Florença, na Pitti Uomo ©Reprodução

    O streetcasting de Gosha Rubchinskiy na Pitti Uomo ©Reprodução

    No Brasil, a agência Squad, criada no início do ano, é a pioneira neste setor. Criada pela  jornalista e stylist Thais Mendes, que vive em Londres, e pela produtora Patricia Veneziano, a agência tem em seu portfólio modelos jovens com perfis diversos (alto, baixo, tatuado, careca, “estranho”, etc), cada um com a sua particularidade. Além de uma imagem que chame atenção, as sócias procuram pessoas com influência digital – o que aumenta o alcance da campanha para a agência e seus clientes. Para isso, a seleção por meio do Instagram funciona muito, e foi por onde a dupla começou a agência, com a conta @squadbrazil, que hoje reúne quase 35 mil seguidores. “A influência digital é, e tem sido há alguns anos, a moeda de ouro da indústria da moda e publicidade. As marcas têm que se reinventar ou explodir na base da influência digital. Parte do nosso casting é altamente influente em seus meios, praticamente celebridades, e temos toda a intenção de também focar nesse lado”, conta Patricia.

    De olho na rua e observando a mudança que está por vir na indústria da moda e seus calendários, Thais Mendes e Patrícia Veneziano, em entrevista ao FFW, contam os detalhes do projeto que pretende acabar com os padrões na moda.

    Por que acham que agências como a Squad têm feito sucesso e parecem ser a bola da vez? 

    Para essa nova geração, moda se faz com atitude, mesmo sem acesso. Se aceitar é o novo cool. O Brasil, que é um país enorme e com uma variedade incrível de misturas e culturas, tem ainda uma mídia bastante tradicionalista e conservadora, e achávamos que tinha espaço no mercado para algo diferente. A Squad foi o desejo de organizar isso, de reunir num mesmo arco um grupo de pessoas com estética e atitudes mais interessantes, independente das medidas.

    Como é feita a seleção do casting? Existe alguma exigência? 

    Essa é a pergunta que mais nos fazem todos os dias, e a verdade é que até agora não consigo definir o que são nossas “exigências”. A seleção do casting é bastante orgânica, quase instintiva: eu costumo bater o olho em uma ou duas fotos e já sei dizer se aquela pessoa tem o magnetismo que a gente procura. Nunca penso em termos de “hm, essa pessoa tem cara de publicidade, aquela vai fazer passarela”, porque, como o mercado está em mudança, imagino que ainda vamos nos surpreender muito. Eu seleciono quem eu gostaria de ver na mídia – que mídia vai ser essa ainda está por vir.

     

    João e Paulo Ricardo, modelos da brasileira Squad

    João e Paulo Ricardo, modelos da brasileira Squad

    Mesmo nas passarelas internacionais, onde se vê mais diversidade, modelos realmente fora do padrão ainda são raridade. Como você vê o mercado brasileiro em relação à diversidade nas passarelas? 

    A passarela é o formato mais difícil de se adaptar às pessoas “fora do padrão”. Aqui, em Londres, já começou uma certa crise e a vontade de rever esse conceito. Muitas marcas e estilistas têm procurando novas formas de mostrar as coleções, através de apresentações, filmes, shows, transmissões pelo Snapchat [como a Burberry em suas mais recentes coleções]… É por esse modelo que nos interessamos, no qual a Squad se encaixaria. Mais do que um modelo desfilando de ponta a ponta em um palco, hoje em dia é mais interessante (e até viável em termos financeiros) criar um show em um formato inesperado com embaixadores da marca que encapsulem o mood de uma coleção em particular. Além do que, em termos de marketing e visibilidade, é o que a gente chama de “win-win situation”. A indústria ainda vai mudar muito nos próximos anos, e a gente quer estar não só acompanhando, mas (espero que) liderando essa onda de mudanças no Brasil.

    A Gigi Hadid é o maior exemplo do sucesso de uma modelo que possui influência digital, sobretudo no Instagram. Vocês começaram por esta rede social. Por quê? Vocês acham que a influência digital é um futuro possível para os modelos?

    Não há mais dúvidas de que o Instagram é a ferramenta mais poderosa quando se trabalha com imagem. Começar por ele não foi uma estratégia muito pensada, começamos por lá porque pareceu a maneira mais rápida e fácil de divulgar o projeto. Influência digital é, e tem sido há alguns anos, a moeda de ouro pra indústria da moda e publicidade. As marcas têm que se reinventar ou explodir na base da influência digital. Parte do nosso casting é altamente influente em seus meios, praticamente celebridades, e temos toda a intenção de também focar nesse lado. O poder de venda dessas pessoas, unidas às marcas certas, é inquestionável. O que vai mudar no futuro é quem usa essa coroa – no Brasil, acredito (e espero!) que ainda vamos nos surpreender muito. Ah, e o Snapchat é o nosso próximo canal. Ainda vamos focar muito lá.

    Como o mercado tem recebido os agenciados da Squad?

    A publicidade tem sido a primeira a botar a mão no fogo, e estamos tranquilos quanto a isso, porque, no Brasil, moda e publicidade costumam cruzar seus caminhos, e uma influencia a outra. Desde que começamos, em janeiro, já trabalhamos com algumas marcas de peso, e estamos em conversa com outras pra fazer novas parcerias. Temos uma gama de projetos que estamos desenvolvendo e apostando no mercado. A Squad, sem querer, deu início a uma espécie de mapeamento da juventude brasileira do século XXI. Prestar atenção nessa geração, e nas próximas e próximas, é o nosso guia. O mercado que não quiser ficar pra trás vai precisar fazer o mesmo.

    Quais são os próximos passos da Squad?

     Queremos crescer, claro, mas organicamente. Foco nos tempos de hoje é essencial, e definir o que NÃO somos é tão importante quanto o que somos. Não somos uma agência de modelos como as estabelecidas no mercado, mas estamos abertos pra se desenvolver de acordo com a demanda. A ideia é continuar descobrindo jovens interessantes pelo país todo sempre, desenvolver projetos e parcerias com marcas, e focar nos meios criativos. O futuro da Squad é um meio que nem o dos jovens que representamos: está aberto pra ser traçado e reinventado, sem regras, mas com criatividade e entusiasmo.

     

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