por Daniel Ayub e Carla Valois
A relação entre cinema e moda é, de forma indubitável, simbiótica. Involuntariamente – ou até voluntariamente – esses dois universos artísticos se influenciam e transformam o cotidiano em poesia, as formas e cores em tendências. O FFW selecionou alguns longas-metragens, clássicos e atuais, que representam em definitivo essa ligação. De Antonioni e Buñuel a Sofia Coppola e Tom Ford, assista aos trailers e deixe-se levar pela beleza e o drama tão inerentes a essas obras.
“A Bela da Tarde” – “Belle de Jour” (1967)
Luis Buñel consolidou o surrealismo na 7ª arte com seu grande clássico, obrigatório para estudantes de cinema, “Um Cão Andaluz” (1929). Em “A Bela da Tarde” (1967), Catherine Deneuve faz o papel de uma pacata dona de casa em Paris que decide viver suas fantasias sexuais, não supridas pelo seu marido, nas ruas, como uma prostituta em suas horas vagas. Com figurino de Yves Saint Laurent e com a musa da elegância no século 20, Deneuve, no elenco, a relação do filme com a moda fala por si só.
“Direito de Amar“ – “A Single Man“ (2009)
Dirigido pelo estilista Tom Ford, ex-diretor criativo da Gucci, este filme respira moda. Com Colin Firth e Julianne Moore no elenco, o trama aborda a vida de George, um professor de inglês em Los Angeles após a morte de seu namorado. Com pensamentos suicidas, George acaba influenciando aqueles à sua volta pelo peso do luto, enquanto isso, o personagem se prepara para a morte. Atenção a fotografia e a cenografia do filme, impecáveis. Entre outros destaques, está o figurino assinado por Arianne Phillips, e a presença estonteante da modelo brasileira Aline Weber.
“Barbarella“ (1968)
Um clássico do cinema trash sexual de ficção científica, “Barbarella” (1968) é tudo o que o “futurismo” sessentista tinha de melhor, incluindo o figurino, feito por Paco Rabanne, designer francês conhecido pela estética futurista em suas roupas. Na história, a personagem de Jane Fonda, Barbarella, é uma astronauta do século 41, que vai ao Planeta Lythion (!) para combater o vilão alienígena Durang Durang – sim, foi disto que a banda tirou o nome – na cidade de Sogo, curiosamente as duas primeiras sílabas de Sodoma e Gomorra.
“Dolls” (2002)
“Dolls” se destaca em relação aos outros filmes, tanto por ser o único não-ocidental, mas também por possuir um dos melhores figurinos na lista. Se há um mérito em que o cinema japonês se sobressai dos outros é o uso das cores. Com vermelhos saturados, brancos estourados e um belo uso de constrastes, a fotografia e direção de arte fazem um espetáculo a parte. Neste filme do diretor japonês Takeshi Kitano, são contadas três histórias, a de um amor em oposição às decisões da família, a de um mafioso Yakuza que vive a nostalgia de um amor perdido e a de um pop star desfigurado que se vê diante do fanatismo de sua maior fã.
“Flashdance“ (1983)
Dança é pura expressão corporal, e por este viés está relacionada com a moda. Um dos grandes clássicos sobre a dança é “Flashdance” (1983), onde Jennifer Beals faz o papel de Alex Owens, uma operária de dia e dançarina de boate à noite que treina incessantemente para tentar entrar em uma conceituada escola de ballet. Deste filme saiu a música Maniac, enorme referência cult nas boates hoje em dia.
“Laranja Mecânica“ – “A Clockwork Orange” (1971)
Provavelmente a grande obra-prima de Stanley Kubrick, Laranja Mecânica (1971) é um marco do cinema, tendo influenciado não somente a moda (veja o desfile de Alexandre Herchcovitch Verão 2011), mas também toda uma geração de artistas, seja pela paleta de cores (laranja, branco e preto), pelas interpretações ou pela direção de arte. É o cult no mais sentido mais completo do termo: cultuado. Na história, Alex DeLarge é o líder dos The Droogs, uma gangue suburbana em uma Inglaterra futurista. Eles se encontram todas as noites para espalharem o caos pela cidade, estuprando, espancando mendigos, roubando e matando. Eventualmente Alex é preso e submetido a uma lavagem cerebral que o torna dócil, transformando-o em uma propaganda para o governo.
“Maria Antonieta“ – “Marie Antoinette“ (2006)
Maria Antonieta foi a rainha da França e Navarra no século 18. A esposa de Luís XVI, é hoje uma das maiores representação icônica do luxo e da moda imperial. Tendo como residência, em maior parte de sua vida, o palácio de Versailles. Neste filme, protagonizado pela bela Kirsten Dunst e dirigido por Sofia Coppola, a história toma conta de sua ascênsão e declínio, que terminou com a perda de sua cabeça, literalmente falando, após julgamento durante a revolução francesa. No que diz respeito ao figurino, vencedor do Oscar em 2007, Milena Canonero criou uma infinidade de vestidos, que aliados com elaborados penteados e cerca de vinte sapatos especialmente criados por Manolo Blahnik, fizeram jus ao estilo vivido pela rainha.
“Velvet Goldmine“ (1998)
Um homônimo da música de David Bowie e com “Rise” e “Fall” no subtítulo, se torna óbvio que o filme trata da vida do artista britânico; mas não. Apesar de ser esta a intenção do diretor, Bowie não quis vender os direitos autorais de suas músicas, alegando pretender fazer ele mesmo um filme sobre o Glam Rock algum dia. Direitos à parte, é disso que o filme trata. Longe de ser somente um estilo musical, o Glam foi o estilo de uma geração, tendo influenciado a moda em todos os segmentos com seus couros, metais, cabelos vermelhos e poses à la Ziggy Stardust. Com Ewan McGregor e Christian Bale, o filme conta a história de de um repórter(Bale) que investiga a vida de Brian Slade (McGregor), um astro glam dos anos 1970.
“Bonequinha de Luxo“ – “Breakfast at Tiffany’s“ (1961)
Baseado no romance de Truman Capote, “Bonequinha de Luxo” (1961) traz o que pode ser considerado o principal papel de Audrey Hepburn no cinema. Paul Varjak (George Peppard), um escritor se muda para um apartamento em Nova York, onde começa a observar os costumes de sua vizinha, Holly Golightly (Audrey Hepburn), é uma acompanhante de luxo que esbanja sensualidade, classe e sofisticação nas festas da cidade, mas esconde uma personalidade frágil e metódica, fruto de problemas pessoais como seu casamento aos 14 anos e sua fuga de casa devido à pobreza familiar. Se há uma imagem que resume beleza e luxo no cinema do século 20, com certeza é a de Audrey Hepburn usando Givenchy com colar, luvas e seu cigarro na piteira.
“Studio 54“ (1998) e “Boogie Nights“ (1997)
Dois filmes sobre lendária discoteca de Manhattan e outro a indústria pornográfica na Californa, mas a mesma proposta: ilustrar o estilo de vida, comportamento e a moda nos anos 70. Em “Studio 54” (1998) é contada a história de Steve Rubell (Mike Myers), o criador do clube que tinha como frequentadores praticamente todas as celebridades interessantes vivas nos anos 70. De Sinatra a Warhol e Michael Jackson a Woody Allen, a casa era o antro da cultura pop, onde fãs só podiam sonhar sobre as conversas que saiam do lugar. Pulando para outro mundo glamuroso, “Boogie Nights” (1997) se passa na outra costa dos Estados Unidos. Centrado na indústria pornográfica da California, onde Eddie Adams (Mark Wahlberg) conhece o diretor de cinema pornô Jack Horner (Burt Reynolds), que o transforma em Dirk Diggler, um astro da pornografia. Dois lados opostos do mesmo país e duas cenas sociais são unidas pela mesma palavra: glamour.
“Blowup“ – “Blow-up: Depois Daquele Beijo“ (1966)
Antes de qualquer coisa, “Blowup” (1966) é uma aula. Uma aula de semiótica, fotografia, moda e direção. Baseado no conto “As Babas do Diabo” (1959), de Júlio Cortázar, o filme de Michelangelo Antonioni também entra para a lista dos obrigatórios para qualquer estudante de fotografia e moda. No enredo, Thomas (David Hemmings), um fotógrafo de moda conceituado, divide seu trabalho com outros fetiches particulares. Durante o exercício de um deles, acaba fazendo imagens voyeurs de Jane (Vanessa Redgrave) e seu provável amante. Analisando as fotos, Thomas fica obcecado por um detalhe atrás de uma árvore, o que o leva crer que tenha ocorrido um assassinato no momento em que estava fazendo as fotos. Este foi um dos primeiros filmes na carreira de Jane Birkin, além de também mostrar a eterna musa da moda Veruschka em ensaios sexuais sensuais.