O terceiro, e último, dia de Pense Moda se iniciou (um pouco atrasado por culpa da chuva torrencial que caia em São Paulo) com o debate sobre Moda na TV, com Maria Prata, editora chefe da Fashion TV Brasil, Carla Lamarca apresentadora do programa FTV MAG, da Fashion TV Brasil e Susana Barbosa, editora de moda da Elle, e jurada do reality show It MTV Elle Fashion Fabrics. Betty Lago, atriz e apresentadora, que tem no currículo uma carreira de modelo , foi mediadora do debate, e exerceu sua função com muito bom humor. Lilian Pacce e Bárbara Thomaz também estavam escaladas para o debate, mas não puderam comparecer.
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Betty contou sobre sua experiência como apresentadora do GNT Fashion, no final dos anos 90, e de como as marcas de fora não ligavam para o Brasil, dificultando, e muito, o trabalho. “Não tinha programa de moda na TV. Se eu não tivesse contatos da época de modelo seria muito mais difícil. As marcas internacionais não davam a menor bola para gente. ‘Para que você quer convite, a gente não vende no Brasil? ’”, lembrou a atriz.
Maria Prata também alertou para o para o fato de que na televisão se fala para muito mais gente, por isso é necessário que a moda seja explicada, em outra linguagem, para que todos possam compreendê-la. Já Susana Barbosa disse que para que o tema se torne popular, “a moda precisa descer do pedestal”.
Outro tópico abordado foi a maneira de falar com a Classe C, que graças ao desenvolvimento econômico do país está cada vez maior, e claro, mais interessada em consumir moda. Realities shows e novelas foram os dois tipos de programas citados que atraem esse publico e que dialogam mais de perto com eles. Ou seja, a demanda é grande e a oferta, ínfima.
>> O que o FFW pensa:
Quando se trata de moda na TV, o campo é mal explorado, mas isso advém de várias questões, como duração dos programas e o público para o qual você está falando, por exemplo. Carla Lamarca comentou que a mãe dela assiste aos desfiles na TV, mas desliga quando começam os comentários, pois não entende o que está sendo falado. A verdade é que estamos falando deuma via de duas mãos: ao mesmo tempo que o público “não se esforça” pra entender, os programas não explicam a moda de maneira interessante.
Com a moda virando pauta na TV, surge a demanda por pessoas interessadas em pensar novos formatos para o meio. A mesa discutiu, discutiu e achou que essas pessoas são, hoje, desbravadores. Atualmente, pouca gente sabe lidar com o meio de forma eficaz_ especialmente porque muitos deles vieram do jornalismo impresso, com linguagem super diferente. Maria Prata acha que o caminho natural é que surja formação especializada para os interessados em moda, TV e jornalismo. Mas não seria melhor um profissional com experiência e conhecimentos um pouco mais amplos e diversificados? Afinal, não existe veículo ou programa que se sustente pura e essencialmente pela moda.
Os formatos dos programas de moda na TV parecem engessados, e aqueles que pretendem “explicar a moda”, como os programas que querem ensinar as pessoas a se vestirem, o fazem entregando uma fórmula pronta, moda de um jeito pré-fabricado. Ao invés da TV ajudar o publico a entender e a se divertir com a moda, eles apenas entregam tudo pronto. Expor a informação não é igual a educar. Falta um formato _ainda não descoberto_ que contemple melhor tais conteúdos.
Outro ponto que foi abordado é que a TV (assim como as revistas) sofre com a rapidez da internet, já que quando eles abordam um assunto, a internet já falou tudo sobre aquilo, há muito tempo antes. No entanto, vemos a “concorrência” como benéfica, já que, como disse a palestrante do dia anterior, Susanne Tide-Frater, “Sem desafios você não cria nada de novo”. A tal concorrência é uma maneira de fazer a TV pensar em maneiras mais criativas e atrativas para o público, super possíveis com o alcance e as ferramentas da TV.
>> O que os convidados pensam:
Sobre qual o ponto mais relevante da mesa-redonda:
Maurício Iânes (artista-plástico): Foi interessante a discussão sobre o problema de jornalistas de moda que saibam trabalhar na TV. Há uma cobrança e o mercado precisa se preparar. Já passamos por isso em muitas searas da moda, como por exemplo, com o estilismo, em que faltava qualificação, e foi criado um curso para suprir essa demanda. Falta gente que saiba trabalhar com moda na TV.
Sylvain Justum (editor-chefe do VogueBrasil.com.br): O recado que fica é que a moda não é mais um mundinho, virou um mundão. Portanto todas as áreas (que trabalham na moda) precisam se atualizar para lidar com essa mudança.