De Marlon Brando a Helmut Lang, as regatas sempre foram ponto chave do armário masculino. A peça simples, inicialmente usada para compor produções ou como undergarment (roupa de baixo), aos poucos foi se tornando também protagonista de looks e agora adquire novos contornos, formatos e recortes, se tornando uma peça cada vez menos básica.
Primeiro vieram marcas gender-neutral e começaram a apresentar seus modelos de regatas com um twist especial e uma cara única, depois veio a tendência dos Subversive Basics – algo como básicos subversivos – que dizia de uma nova imagem para peças básicas, de lingerie à camisas e agora vemos regatas em diversas marcas nacionais e internacionais.
A HISTÓRIA DAS REGATAS
É difícil apontar exatamente quando foi o ponto de virada das regatas básicas. As primeiras aparições das regatas foram no esporte feminino, quando os trajes de banho se tornaram mais “reveladores” e começaram a mostrar os braços e os ombros das mulheres e posteriormente também utilizadas nos trajes de banho masculinos. Mas, como um item de vestuário masculino, a regata começa a aparecer com mais frequência em Hollywood, por volta dos anos 30 e 40, e associadas à masculinidade e à virilidade. Na maioria das vezes, nos filmes, as regatas eram usadas por vilões, com comportamento tóxico ou abusivo e até à violência doméstica (as regatas eram chamadas vulgarmente de wife beaters, algo como agressor de esposas) o que deu uma má fama à peça.
Parte da popularização da regata também é associada ao seu uso como roupa íntima, embaixo de ternos ou de camisetas. O uso não-íntimo dessas peças é relatado ter sido trazido por imigrantes italianos aos EUA – apesar dessa hipótese ser contestada como classista ou elitista -, mas mesmo nos filmes, as regatas, normalmente brancas, aparecem principalmente em trabalhadores. Mas foi com Marlon Brando, nos anos 50, com o filme Uma Rua Chamada Pecado (1951), que a regata branca se tornou um item de desejo e passou a ser mais amplamente usada como uma peça principal, além da roupa íntima.
Com aparições cada vez mais frequentes em filmes, na moda e na cultura pop, as regatas, vistas negativamente no início do século XX, foram ganhando popularidade e se tornaram peças bastante utilizadas entre homens e mulheres em meados dos anos 80. A popularização das regatas também é bastante associada a um mundo mais liberal e menos puritano, já que mostrar os braços e os ombros era um tabu no início do século, principalmente entre as mulheres.
as regatas NA MODA
Na moda, um dos designers imprescindíveis para a popularização e glamourização das regatas, foi Helmut Lang. O estilista austríaco fundou sua marca homônima em 1985 e apresentou sua primeira coleção masculina no ano seguinte. Com seu minimalismo afiado, Helmut Lang foi responsável por definir grande parte da estética predominante na moda durante os anos 90 e início dos anos 2000. Lang criava peças que reinterpretam as silhuetas e forma humana, com recortes e uma imagem de moda andrógina e fetichista.
Fundada em 2009, a marca homônima do designer australiano Dion Lee, chamou muita atenção com diversas reinterpretações de regatas e outras peças básicas, em seu Spring Summer 2020, apresentado em setembro de 2019. A partir daí, as regatas reimaginadas começaram a aparecer nas passarelas de diversas marcas: na GmbH, as primeiras regatas diferenciadas apareceram no Outono 2021, e receberam diversas novas versões nas coleções seguintes. Na Y-Project, foi na coleção de de Outono 2021 que as regatas voltaram a aparecer, com novos recortes e formatos. A argentina Alfin Varon também lançou seus primeiros modelos de regatas com um twist em dezembro do ano passado e a Fang, marca nova-iorquina do designer Feng Guo, com foco no público LGBTQIA+ e estética queer, também estreou com uma série de variações das regatas brancas.
Por aqui, a moda nacional também segue atenta. O designer Leandro Benites, da Ben Ateliê, é conhecido por suas peças futuristas e cheias de recorte e já apresentou os primeiros modelos de regatas reinterpretadas ainda em julho de 2020, com outros modelos seguintes, destaque para a regata Jardim, lançada em maio deste ano. A paulista Anotherplace também lançou seus primeiros modelos de regatas diferentonas no segundo semestre do ano passado. A Rocus, de Renan Rocha, também lançou um modelo marcante de regata, que se popularizou rapidamente no Brasil, aparecendo em diversas produções de moda. Confira uma lista completa de onde comprar essas peças em solo nacional ao final do texto.
A ORIGEM DA TENDÊNCIA
Não é de hoje que vemos e falamos de uma mudança no perfil do consumidor de moda masculino. Os homens estão mais abertos para ousar com a moda, um movimento bastante associado à maior conscientização e visibilidade do público e pautas LGBTQIA+, além de uma ascensão e independência financeira deste público e da Geração Z, que tem uma certa naturalidade para burlar a binariedade de gênero no vestir.
Não é por coincidência que grande parte das marcas que criaram esses novos modelos de regata são associadas à estética queer e a criar peças agênero, mesmo Helmut Lang, ainda nos anos 90, mas com uma imagem de moda bastante andrógina. Esses novos criadores, muito motivados pelo público LGBTQIA+ e uma busca de não-binariedade da moda tem repensando a imagem e a história das regatas, antes tão associadas à masculinidade tóxica.
Se interessou pelo modelo? Confira uma lista de marcas nacionais com modelos de regatas subversivas: