Estreia hoje no Brasil, pela HBO, o documentário Very Ralph: Vida e Obra de Ralph Lauren, sobre a vida e carreira do estilista americano.
O filme é dirigido por Susan Lacy, que está por trás de docs sobre Steven Spielberg e Jane Fonda, e traz entrevistas com personalidades da moda (Calvin Klein, Karl Lagerfeld, Anna Wintour), familiares e amigos.
Através dessas entrevistas, muitas imagens de arquivos e conversas com o próprio Ralph, o doc conta como ele se tornou um símbolo do estilo americano no mundo todo.
Aos 80 anos – ele acaba de celebrar 50 anos na moda – Ralph começou do zero e nunca teve uma educação formal de moda. Ele aprendeu trabalhando. Aos 20 anos, enquanto trabalhava como vendedor do fabricante de gravatas Beau Brummell, ele percebeu que queria uma gravata mais ampla e que não existia no mercado. Então, ele fez uma com suas especificações exatas e convenceu Beau Brummell a deixá-lo iniciar sua própria linha de gravata, que ele chamou de Polo. Esse foi o começo de tudo. Hoje sua marca vale mais de US$ 6 bilhões, de acordo com a Forbes.
O filme é praticamente uma declaração de amor a Lauren, mostrando as melhores fotos do designer/empresário, seja ao lado de lindas modelos, dirigindo carros conversíveis ou como uma espécie de “Malboro men”, o cowboy charmoso e estiloso com quem as mulheres queriam estar e os homens queriam ser. Ralph é um símbolo do “american dream” e seus 50 anos na moda comprovam que ele teve visão, feeling e talento para os negócios. Mas essa adulação pura também parece ser uma falha do documentário, que é muito bem executado, mas parece um filme encomendado.
O crítico de TV do The Guardian, Priya Elan, questiona: “no filme, Karl Lagerfeld descreve Lauren como ‘o designer americano que melhor representa o estilo americano para o resto do mundo’. Mas qual versão do estilo americano? E que América é essa? Após Trump, a verdade é que é difícil aguentar uma visão muito branca e muito masculina do sonho americano”.
Vanessa Friedman, crítica de moda do New York Times, parece concordar. “A adesão de Lauren a essas narrativas da América que são essenciais para a sua marca, pode ficar um pouco obsoleta. Particularmente em um momento em que muitas pessoas que não se sentiram incluídas nessas narrativas estão encontrando uma voz e exigindo que reescrevamos o modo como pensamos sobre todas essas histórias”.
Ambos compartilham uma visão similar ao levar em conta que o mundo mudou e com ele a noção do que é “moda americana” também está se transformando e já encontra novas vozes. Foi Lauren quem vestiu Melania Trump em 2017 para a posse de Trump enquanto outros designers se recusavam, portanto, o filme fala de um sonho americano que é o business por business, promoção por promoção, sem apoio a nenhum tipo de ideal a não ser o sucesso. E esse tipo de sonho na verdade, está cada vez mais distante da maioria das pessoas.