Sapato de Stella McCartney com sola biodegradável ©Reprodução
Se os moldes do conceito de sustentabilidade incentivam a redução, reutilização e reciclagem, a indústria da moda está em busca de maneiras de continuar lucrando, inclusive a partir da produção de itens “conscientes”. Gucci e Stella McCartney já introduziram no mercado calçados compostos, integralmente ou em parte, por materiais biodegradáveis, e a Puma já anunciou o desenvolvimento de uma linha de camisetas e tênis que podem ser enterrados e usados como fertilizantes.
De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), cada ser humano descarta em média 24,55 quilos em roupas por ano, ou seja, o desperdício total ultrapassa a casa das toneladas. “Todos estão começando a encarar a necessidade de reduzir o impacto da moda no meio ambiente. Biodegradabilidade é uma parte de uma agenda ainda mais ampla de gestão de resíduos”, comentou Alex McIntosh, do Centro de Sustentabilidade de Moda da London College of Fashion, ao “Los Angeles Times”.
No início da carreira de Stella McCartney, a aceitação a produtos de pele e couro falsos era ínfima; hoje, as peças da britânica se converteram em objetos de desejo e abriram caminho para que outras marcas produzam da mesma forma, inclusive redes varejistas. Os saltos de Stella com solas biodegradáveis começaram a ser vendidos em setembro e, apesar de não ser confeccionado integralmente em material “eco-friendly”, estabelece um precedente à causa, além de perpetuar a filosofia de que “fazer pouco de algo é muito melhor que não fazer muito de nada”.
Sandálias da Gucci com solas biodegradáveis ©Reprodução
À parte o já citado salto criado por Stella, parte de suas linhas de lingerie e óculos utiliza materiais recicláveis, como óleo de mamona (fruto da mamoneira, também chamado rícino) e açúcar. O óleo de mamona, por sua vez, começou a ser incorporado pela Gucci em 2011: a marca italiana já produziu este ano sapatilhas e tênis com bioplástico, assim como óculos escuros com molduras e detalhes confeccionados com derivados de plantas. Com têxteis, no entanto, a situação é um pouco mais complicada já que apenas peças 100% naturais se decompõem fácil e completamente.
O desenvolvimento de fios e tecidos envolve um processo extremamente complexo, que utiliza diversos derivados de petróleo. “Com têxteis, você tem híbridos monstruosos. […] Ter elastano em algo faz a peça muito mais fácil de usar, mas se você o coloca em algodão é uma fibra com base de petróleo com uma fibra orgânica, então o algodão vai se decompor, mas o elastano, não. É uma situação difícil”, sintetizou Susanna Schick, dona da empresa de consultoria Sustainable Fashion L.A. Já para Lewis Perkins, vice-presidente da Cradle to Cradle Products Innovation Institute, de São Francisco, a solução é eliminar o conceito de desperdício do vocabulário e pensar em formas potenciais para que todo e qualquer material possa ser reempregado no futuro.