A 26ª edição da Casa de Criadores, que aconteceu entre os dias 22 e 27 de novembro, já durante sua fase de divulgação dava sinais de que seria um marco na trajetória do evento. E de fato o foi. A semana de moda, que nasceu como incubadora de novos talentos, fez valer sua missão que há tempos parecia esquecida e/ou mal-sucedida.
A Casa de Criadores cresceu. Tanto no seu formato como na sua proposta. Para muito além da passarela restrita aos convidados, para além dos enfadonhos desfiles. Começando pela Fashion Mob, a “passeata fashion” que levou mais de 2.000 pessoas para as ruas do Centro de São Paulo, tirando qualquer dúvida sobre a presença de mentes criativas interessadas em se expressar através da moda.
Durante o Fashion Mob conhecemos Luiz Leite, estilista autodidata que levou o prêmio de desfilar como integrante do Projeto Lab na próxima edição da Casa de Criadores ©Agência Fotosite
Outra boa surpresa desta edição foi o Projeto Lab. Com line-up mais enxuto, os desfiles promoveram marcas jovens de estilistas que, embora inexperientes, já mostram sinais de evolução quando comparados ao que foi feito na edição anterior. Muitos deles são promessas para a moda brasileira.
Looks de Karin Feller e Danilo Costa, dois estilistas do Projeto Lab que estão entre os nossos favoritos ©Agência Fotosite
Quer nomes? Karin Feller com sua coleção feminina e romântica, mas nada boba, com execução e acabamentos que merecem destaque. Ou então Danilo Costa que, com sua moda simples, consegue despertar desejo por pequenos detalhes ou alterações em modelagens que fazem de suas peças lúdicas verdadeiros objetos de desejo instantâneos.
Outra frente que se mostra cada vez mais bem resolvida é o Ponto Zero. O projeto tem como objetivo premiar estudantes de algumas faculdades brasileiras. Quem levou o prêmio desta vez foi a estilista da Faculdade Santa Marcelina com sua coleção que explorava formas e sobreposições de pequenos tecidos. Além dela, outros estudantes também apresentaram ótimos trabalhos, como o jovem Bruno Gonzada, da FAAP, que apresentou uma coleção repleta de tecidos sintéticos e formas soltas que mixavam informação de moda com alta dose de vida real através de uma cartela de cores coordenada de forma muito inteligente.
Desfile de Bruno Gonzaga, aluno da FAAP que desfilou como parte do projeto Ponto Zero ©Agência Fotosite
A Casa de Criadores reafirmou nesta edição a sua vocação para promover novos talentos. Por outro lado, a forte presença desses jovens causa um desequilíbrio imediato no line-up principal do evento.
As grifes principais, que já estão consolidadas no evento, persistem nos mesmos problemas: acabamento ruim, modelagem problemática, temas mal explorados, desfiles sem edição de moda. Junte isso ao calendário demasiadamente intenso e as apresentações diárias se tornam cada vez mais cansativas. É como colocar uma lente de aumento em todos os defeitos.
Não por acaso, os destaques continuam sendo os mesmos: Gêmeas, Walério Araújo, João Pimenta, Rober Dognani e, a única novidade, Weider Silveiro. E a conclusão que tiramos? O novo sempre vem. E chegou a hora da Casa de Criadores rever sua velha-guarda.
Com as novas plataformas se mostrando bem resolvidas e promissoras, não seria hora de repensar critérios para algumas marcas que se apresentam no line-up oficial? ©Agência Fotosite