Desde que o consumo excessivo se tornou modus operandi da sociedade moderna como forma de integração social e expansão do capital de empresas nos anos 70, o impacto da indústria de bens na natureza tem sido catastrófico. O aumento da produção de novas roupas de consumo rápido, em especial do norte global, resultou em grande descarte de peças de forma irregular, que acabam parando em lixões na África e na América Latina. O deserto do Atacama (Chile), por exemplo, é o maior caso de descarte irregular no mundo. Conhecido como Cemitério das Roupas de Fast Fashion, recebe cerca de 60 mil toneladas de roupas por ano.
No Brasil, de acordo com o relatório Fios da Moda, lançado no ano passado pelo Instituto Modefica e a Fundação Getúlio Vargas, diariamente é recolhido por 16 caminhões de lixo, o equivalente a 45 toneladas de lixo têxtil apenas na região do Brás, em São Paulo. Quando essas peças vão para o aterro sanitário, elas liberam uma substância tóxica chamada gás de aterro, que contém dióxido de carbono e metano, impactando a camada de ozônio. Parte considerável das peças são de poliéster, que podem demorar cerca de 200 anos para se decompor. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Têxteis (ABIT), nos últimos 15 anos a demanda operacional por fibras sintéticas como o poliéster dobrou.
Tendo em mente os impactos negativos do descarte de roupas por parte da indústria e dos consumidores, fica a dúvida de como podemos fazer o descarte ou reciclagem correta de peças que perderam sua utilidade com o tempo ou com o uso. Empresas e organizações têm buscado alternativas conscientes para o descarte sustentável de lixo têxtil.
O Movimento Separe, Não Pare, parceria entre a ONU Meio Ambiente e a Coalizão Embalagens, pontua a transformação feita em casa como um caminho para dar novos destinos aos tecidos. Desta maneira, é evitado o acúmulo de resíduo têxtil na natureza. As possibilidades vão além do clássico pano de chão, podendo ser também transformadas em novas roupas, no processo que foi batizado de upcycling.
Uma outra opção de destino para as peças é acionar instituições de descarte especializadas em resíduos têxteis que reciclam o material. Por meio de processamento químicos e físicos, as fibras se desfazem e tornam-se novas e podem ser utilizadas para fazer novos produtos. As fibras sintéticas, por exemplo, voltam ao estado glutinoso e podem depois se tornar plástico para engenharia, já as fibras naturais podem se tornar novos tecidos.
Recentemente foi lançado o aplicativo Cotton Move, que busca aproximar esses pontos de reciclagem ao consumidor. Trabalhando com logística reversa, o app dispõe de 200 pontos de descarte nas cinco regiões do país, que separam peças que podem ter suas fibras recuperadas e novamente inseridas no mercado pelas varejistas parceiras (atualmente C&A, Youcom e Reserva). Peças que não estão em boa qualidade serão recolhidas pela empresa Retalhar e destinadas para um novo processo que não utilize o método de aterramento. Parte desse material é destinado para o projeto COMAS, que oferece cursos de upcycling e consultorias sobre reciclagem têxtil, além da venda de produtos como camisas e chemises.
O download do aplicativo é gratuito na App Store e no Google Play, além de ser possível consultar pelo site.
Para reciclar pela plataforma, é necessário o seguinte passo a passo:
1. O consumidor deve organizar as roupas que deseja descartar por tipos de materiais
2. Separar as peças que são feitas de algodão
3. Higienizar as peças lavando e secando todas elas
4. Baixar o app ou acessar o site para conferir os pontos de coleta mais próximos, e ir até o local e deixar suas peças
Por enquanto, o Cotton Move ainda não coleta ítens de fibras sintéticas, dando preferência apenas para peças feitas de algodão, que posteriormente viram tecidos.