Há três anos, a artista e artesã Carina Zagonel tomou uma atitude simples sem saber o quanto isso transformaria sua vida. Ela simplesmente deixou um par de tênis no muro de sua casa em Florianópolis com um recadinho onde se lia: “deixe aqui o que você não usa mais, mas que pode servir para os outros”. Em menos de uma hora, o tênis sumiu, mas a plaquinha permaneceu colada na parede. Embaixo dela, começou a surgir livros, louças, sapatos, roupas, sempre deixados no chão mesmo, na calçada. E durante um ano ela deixou essa plaquinha na rua sempre achando que uma hora ia acabar.
Exatamente o contrário aconteceu e Carina construiu um armário para poder armazenar as doações e levou para uma rua mais movimentada. A ação foi batizada pelos próprios moradores de Armário Coletivo. Nascia aí um projeto calcado na economia criativa e afetiva, de pessoas para pessoas, e um convite para o desapego e consumo consciente.
“Quando construímos o primeiro armário foi pra resolver um problema bem pontual da minha vizinhança. Não tinha noção do que se tornaria nem de que isso era necessário nos outros bairros. É necessário ter espaços de compartilhamento em todos os bairros. Hoje percebo isso de maneira muito clara”, conta em entrevista ao FFW.
O Armário Coletivo então é um movimento de intervenção urbana que utiliza armários para transformar espaços públicos e criar novos hábitos de consumo. Eles são construídos a partir de materiais coletados nas ruas, produzidos com a ajuda da própria comunidade. E ficam abertos 24 horas por dia. As únicas regras para usa-los são:
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Hoje o projeto é uma referência em Florianópolis, com 13 armários instalados pela cidade – e tem inspirado ações parecidas em outras regiões do país. A própria Carina não compra mais roupa nem para ela nem para o filho e marido – pega peças deixadas no armário. “O armário na rua é uma ferramenta pra que a gente faça a economia criativa girar. Mas ele é apenas uma etapa do processo. Temos outras frentes que o projeto abriu. É um movimento de cuidado com a nossa coisas, com a gente mesmo, com o nosso bairro, a nossa cidade. Também aproveitamos o recurso da costura para arrumar ou customizar as roupas e mostrar que temos que fazer durar”.
Carina tem um ateliê em Florianópolis onde produz produtos a partir de matéria prima de reuso e também faz mosaicos – são de Carina muitos dos mosaicos das lojas L’Occitane Brasil.
Agora, com sua iniciativa consolidada e ainda crescendo, ela espera que o Armário Coletivo continue sua função de agente transformador. “Espero que as pessoas passem a valorizar as coisas, que elas cuidem e que esse cuidado expanda pra fora das nossas casas para nossa rua, nosso bairro, nossa cidade. Que o compartilhar não é moda, não é uma tendência, é uma coisa permanente. O armário coletivo vem pra ampliar nosso olhar. Isso vai mudando nosso perceber das coisas, nosso mindset, que o que nos foi contado não é verdade”.
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