A Giovanna Nader comunicadora, ativista ambiental e apresentadora do programa “Se essa roupa fosse minha”, do GNT, lança seu livro “Com que Roupa?”. O livro, que está em construção há dois anos, fala sobre moda, consumo e sustentabilidade, mas principalmente, usa da moda, um assunto tão cotidiano, para introduzir o leitor a um mergulho mais profundo nas questões da sustentabilidade e na crise climática.
O livro ganhou novos contornos quando Giovanna se viu paralisada no ano passado, com a pandemia e as queimadas na Amazônia: “Em alguns momentos me senti fútil, senti que não tinha lugar para falar de moda, quando o problema é tão mais profundo” desabafa. Essa frustração, no entanto, acabou se tornando motor para finalmente “parir” essa obra, nas palavras de Giovanna. Ela entendeu que a moda, assim como foi para ela (e para quem escreve essa matéria) poderia ser a porta de entrada para discussões mais profundas em sustentabilidade para muita gente. Além disso, a moda está fortemente ligada aos desdobramentos da crise climática e da sustentabilidade: a moda representa de 8 a 10% das emissões de gases estufa, segundo o Global Fashion Agenda.
O livro tem a moda como pauta principal mas é principalmente “sobre usar a moda como fio condutor para uma expansão de consciência, porque isso aconteceu comigo”. Ao falar de consumo consciente, Giovana afirma que é importante questionar também até onde vai o papel do consumidor em um mundo capitalista, onde, por exemplo, o agronegócio é o maior responsável pelo gasto de água no Brasil (72% da água tratada vai para o agronegócio e apenas 4% para o consumidor, segundo a ANA).
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“Temos que culpar quem é culpado. E a culpa é do governo e da indústria, o consumidor é apenas o elo mais fraco dessa cadeia”.
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Quando o assunto é sustentabilidade na moda, é impossível deixar de falar sobre greenwashing: “Tem duas coisas principais que norteiam isso: mudanças sistêmicas na estrutura de uma marca e o desenvolvimento” afirma “Não existe desenvolvimento sustentável, não dá para todo país querer crescer um PIB de 4% ou 5% ao ano, o planeta é um só. E as grandes empresas têm que entender que elas já cresceram o suficiente, hoje já se fala da ideia de decrescimento” continua.
Nesse caminho, quem tem boa memória pode se retornar do ano passado, quando Giovanna viralizou ao ser uma das principais vozes a criticar o oportunismo na atitude da Osklen, de vender máscaras a altos preços no início da pandemia, uma história que ainda rendeu troca de farpas entre ela e Oskar Metsavaht, e a marca acabou tirando de circulação as peças. O incidente também colocou – ainda mais – Giovanna Nader no radar do ativismo de moda e sustentabilidade no Brasil.
Vemos hoje, também, que as empresas atuam cada vez mais como pessoas, até influenciadores, capazes de opinar, se posicionar e pressionar por mudanças, e Giovanna reafirma a importância disso: “São dois grandes brigando”, o impacto e a pressão de uma grande empresa sobre um governo pode ser maior do que o de um único consumidor.
“Eu poderia ser a pessoa que fala: só compra roupa usada, já tem roupa demais no mundo. Mas e aí? Como fica toda essa moda brasileira que fomenta uma cultura, trabalhadores, artistas, criativos, como é que faz?” questiona Giovanna “É tudo sobre equilíbrio, vejo novos designers entrando no mercado e tentando abraçar o meio ambiente. Existem tantas cadeias de moda no Brasil que são invisibilizadas e precisam ser valorizadas”.
Moda e sustentabilidade podem parecer dois tópicos opostos. Um setor tão latente, que tem novas coleções a todo tempo parece ir de embate direto às questões de sustentabilidade. Qual a solução? Alguns dizem que comprar de 2ª mão é o que vai nos salvar, mas nem tudo é uma ciência tão exata: “Eu também não tenho essa resposta! A gente tem sempre respostas prontas pra tudo, talvez a gente precise ficar no questionamento ainda” reflete.
O futuro da moda e da sustentabilidade é incerto e apenas ter esperança parece não suprir mais nossas necessidades, mas sim, apostar em um futuro melhor, mais igualitário e sustentável: “A gente precisa apostar em um novo país, em um novo mundo. Eu acredito mais no poder das revoluções, e revoluções são feitas por pessoas.” finaliza Giovanna Nader.