Você consegue imaginar uma centenária marca de luxo tradicionalmente reconhecida por suas bolsas e peças em couro da mais alta qualidade (e preços nas alturas) trocar sua matéria prima primordial por couro vegetal? Pois é, é o que parece que a Hermès começa a considerar.
A casa francesa acaba de anunciar que passou os últimos três anos trabalhando com a MycoWorks, uma empresa de ciência de materiais, para criar um material chamado Sylvania que se parece com couro, mas é significativamente mais sustentável porque é feito de cogumelos. Até o final de 2021, a bolsa “Victoria” da Hermès passará a ser produzida neste material.
O MycoWorks, com sede na Califórnia, cultiva o micélio de uma forma que imita o couro. Enquanto alguns couros alternativos no mercado comprimem o micélio para torná-lo resistente, a empresa diz que a resistência e durabilidade de seu material vêm de sua estrutura celular, que tem um padrão entrelaçado. O material havia sido lançado em 2016 e desde então as duas empresas vêm estudando a aplicação dele em produtos de luxo. No ano passado, a MycoWorks lançou o Reishi, que estará disponível para uso de qualquer marca de moda.
O futuro do couro
O couro é considerado um dos materiais mais nobres e luxuosos por sua beleza, durabilidade e versatilidade ao ser aplicado em diferentes objetos do cotidiano como calçados, roupas, bolsas e móveis. Porém, com o crescimento exponencial da indústria da moda, a produção de couro atingiu volumes altíssimos e seu processo de cultivo é bastante danoso ao meio ambiente, desde o gás metano produzido pelo gado ao processo de beneficiamento do couro que utiliza químicas fortíssimas e poluentes e muitas vezes são descartadas na água que abastece as populações.
Muitas marcas de moda adotaram o “couro vegano” como alternativa ao couro animal, porém ele é feito a partir do plástico que não é biodegradável e libera micropartículas de plástico que polui a água – podendo chegar até nossos alimentos.
Se o couro de cogumelos da MycoWorks vai substituir o couro animal ainda não sabemos. Dependerá de quão similar eles podem ficar em relação ao couro real para então ser adotado pelas marcas e, por consequência, por seus clientes.
A questão que fica é se os clientes perceberão o mesmo valor numa bolsa feita em couro de cogumelo e estarão dispostos a pagar até US$ 200 mil (preço de leilão) por uma Birkin desse material.
De qualquer forma, essa parceria já merece ser acompanhada de perto e, se e for bem-sucedida, poderá influenciar o resto da indústria de luxo a se abrir para alternativas mais ecológicas. A mudança está no horizonte.