Este artigo faz parte da série Moda Circular do FFW sobre Economia Circular e o que ela signfica para a indústria da moda (e para o planeta). Hoje, cerca de 8% da economia do mundo é circular e, segundo analistas, este modelo de economia é uma oportunidade de US$ 4,5 trilhões por apresentar um enorme potencial para o crescimento econômico global e também como acelerador da sociedade em direção a um futuro sustentável. Vamos trazer iniciativas de negócios cuja missão é prolongar o tempo de uso de uma roupa e ressignificar o que é novo, do reuso, a guarda-roupas compartilhados, resale, brechós e aluguel.
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Propondo renovação com um olhar lúdico, a Estúdio Traça é uma marca de upcycling criada pelo designer Gui Amorim, 30 anos. Lançada em 2016, a marca partiu do interesse de Gui pelo jeans. “O jeans sempre foi minha matéria prima favorita e eu sou muito curioso com as possibilidades que esse tecido proporciona”, relata ao FFW.
Nascido em Cubatão (SP), Gui Amorim passou grande parte de sua vida no litoral até a conclusão da faculdade de Negócios de Moda pela Universidade Santa Cecília, na Baixada Santista. Sempre interessado em desenhar, descobriu em um curso de artes livres a afinidade com a moda ao desenhar roupas. Morando em São Paulo há oito anos, seu ateliê fica na sala de sua casa, onde pesquisa, desenha, modela e corta,no bairro do Bom Retiro, conhecida região do comércio atacadista de moda da capital.
Sua produção com o Estúdio Traça foi contínua até uma pausa de um ano em 2018, por não conseguir fazer dupla jornada – ele trabalhava paralelamente como vendedor das lojas da Handred e da Cotton Project. Quando retornou, em 2019, se viu imerso no mundo do denim, pelo contato com a indústria, onde pode conhecer melhor a produção, com a reorganização de resíduos e o nascimento de tecidos novos. A Traça então surgiu da ideia de reutilização de itens que seriam descartados pela indústria, mas que poderiam ter seu destino renovado, em uma perspectiva criativa e com papel social.
A marca desde então já trabalhou com parceiros importantes da indústria “atualmente contamos com parceiros como a Lunelli Têxtil e a Cataguases, que trabalham com tecidos certificados, com controle de água e reutilização de resíduos e reciclados”, pontua Gui. Ele dá preferência a tecidos sustentáveis e matérias primas que no processo de produção acabaram tendo algumas avarias que os levariam a ser descartados.
O processo criativo de Gui é insólito. O designer também conta com um vasto acervo de moldes e de denim que desenvolveu com o passar dos anos, onde busca referências, materiais e shapes para editar e reeditar. Ele diz ter muita dificuldade de manter as coisas de forma linear ou dentro do comum: “Meu pensamento não funciona assim, eu vou tendo insights em qualquer momento e risco, fotografo, printo, anoto. Daí desenvolvo as coleções em cima disso”.
Hoje a linha de upcycling é contínua na marca, tendo como identidade seus modelos de saias com babados e shapes futuristas. Com os tecidos do reuso, ele busca investir em aviamentos, recortes e na silhueta das peças, tratando o corpo feminino como uma tela, como ele mesmo diz.
Sobre seus clientes, que vão de amigos, pessoas interessadas pela identidade da marca e celebridades, ele diz que busca ter uma relação íntima com com cada um. A última celebridade que ele vestiu foi a cantora Maria Bethânia para a propaganda da série “O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder” do Amazon Prime Video. Além dela, Gui já vestiu estrelas como Duda Beat, Fe Paes Leme, Pabllo Vittar e Gloria Groove. “Por minha marca ser pequena, acabei criando uma relação muito próxima dos meus clientes. Alguns até saem comigo, recebo em casa ou me recebem”, comenta.
Gui produz sob encomenda com exceções de peças que têm maiores pedidos no site e em média as roupas levam até um mês para ficarem prontas. Ainda sem uma loja física, o ateliê é o espaço onde clientes são recebidos para experimentarem as peças e fazerem pedidos sob medida. Entretanto, ele diz que almeja futuramente levar suas criações para uma loja própria e um e-commerce mais estruturado, mas sem mudar sua filosofia e a forma que produz hoje.