Este artigo faz parte da série Moda Circular do FFW sobre Economia Circular e o que ela signfica para a indústria da moda (e para o planeta). Hoje, cerca de 8% da economia do mundo é circular e, segundo analistas, este modelo de economia é uma oportunidade de US$ 4,5 trilhões por apresentar um enorme potencial para o crescimento econômico global e também como acelerador da sociedade em direção a um futuro sustentável. Vamos trazer iniciativas de negócios cuja missão é prolongar o tempo de uso de uma roupa e ressignificar o que é novo, do reuso, a guarda-roupas compartilhados, resale, brechós e aluguel.
A New Division é uma loja especializada em moda vintage brasileira criada por Fabio Bechepeche, um apaixonado pelo vintage. Tudo começou há três anos e meio pelo Instagram, de uma maneira informal vendendo somente peças de acervo pessoal. Hoje, a New Division tem uma loja física na galeria do Edifício Copan, no centro de São Paulo, em parceria com a designer de chapéus Cassia Cipriano.
Na conversa abaixo, Fabio explica melhor o projeto e a importância que a loja tem, não apenas por propagar uma cultura de reuso e longevidade de roupas e acessórios, mas também de manter viva a memória da moda brasileira, resgatando marcas que fizeram parte da história da moda nacional como Yes Brazil, Soft Machine, Company, Pakalolo, OP, entre outras.
Quando você começou a pesquisar e colecionar roupas vintage?
Quando eu morava em Londres, nos anos 1990, me apaixonei pelo vintage por ser único e, ainda por cima, sustentável. Mais tarde, acabei focando na moda vintage brasileira das décadas de 1980/90, que descobri ser uma grande paixão minha por causa das referências à minha história, além de ser um super nicho não explorado até então – acredito que somos a única loja no Brasil com esse foco.
Como você faz a pesquisa pra achar peças legais e em bom estado?
Minha pesquisa é feita pela internet, bazares, outros brechós e muitas vezes também garimpo peças incríveis através dos meus seguidores. Não paro um segundo, estou sempre procurando peças que me emocionam e também marcas que eu não conhecia pra comprar. Já descobri muita coisa absurda, com design sensacional, de marcas como Soft Machine, Gledson e Spy & Great.
Quais marcas você tem na loja?
Tenho mais de 30 marcas no acervo, desde as mais famosas como Yes Brazil, Company, Fiorucci, Zoomp, Pakalolo, Vicio, Chopper, Dijon, OP, etc até as mais raras e desconhecidas como Soft Machine, Boys & Girls, Gledson, Spy & Great, Conrado Segreto, Pier, Smuggler, Divina, Mr Wonderful, etc. Todas têm que ter sido necessariamente produzidas no Brasil antes dos anos 2000.
Quais as pérolas ou as peças mais emblemáticas da New Division?
Já tive muitas peças emblemáticas e importantes, mas que foram vendidas. No momento, pra mim, seriam a mochila jeans da Cantão, o macacão Soft Machine, a pochete da Company, camisa kids da Yes, Brazil e a camiseta da Bee.
Como uma peça vintage é precificada? O que determina quanto ela vai custar?
Esse é o maior desafio: colocar um preço que seja justo e que ao mesmo tempo valorize a história e a importância da peça. Bem difícil precificar, mas eu tento sempre ser justo e dar uma boa condição de pagamento. É uma equação que combina o valor que eu paguei e a raridade da marca/peça baseado no meu conhecimento e experiência. Na New Division o cliente não vai comprar somente uma peça com um design incrível, mas também história, sonho e memória afetiva.
Como é apresentar a New Division pra um consumidor jovem que não viveu essa época e não sabe a importância dessas marcas?
É um desafio. A vantagem é que eles se interessam pelas histórias que eu conto e, como as peças também possuem um design interessante, acabam comprando por esse motivo e também pelo que representam quando eu explico. Mas muitas vezes também eles já conhecem pelo pais que usavam e já chegam aqui procurando Pakalolo, Zoomp, Company, Fiorucci.
Hoje fala-se muito de moda e economia circular e sua loja, que começou como uma curadoria hoje também tem um outro propósito. Você pensa nessa questão?
Claro! Pra ser sincero, quando eu comecei a trabalhar com vintage no início do anos 2000 em Londres, não se falava nesse assunto porque o foco era mais em possuir peças únicas, se destacar e ser original. Mas agora, com esse novo propósito, faz mais sentido ainda consumir vintage, e falo sempre isso nas minhas vendas e nas redes sociais.
Você pesquisa/estuda esse mercado que fala muito sobre a longevidade das roupas. O que você pode falar sobre esse segmento?
A longevidade das roupas está associada a qualidade do material usado. Na época, o jeans era mais grosso e o tecido de melhor qualidade, por isso as peças duram tanto, diferentemente do fast fashion e até de peças de algumas grandes marcas que cobram caro mas terceirizaram tanto a produção que perderam o controle de qualidade.
Você também vende online?
Vendo sim! Todo post que faço no Instagram tem um link que vai direto pro site e por lá o cliente pode finalizar a compra. Ele pode também acessar o site pelo link na Bio e a gente não cobra frete em compras acima de R$ 200.
Quem é o seu público?
Meu público vai desde as pessoas que viveram e consumiram a moda nacional das décadas de 1980/90 e compram pelo apelo emocional até a nova geração que se interessa por moda de qualidade, que tenha uma história por trás, por serem peças únicas e que tem o apelo da sustentabilidade.
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New Division
Ed. Copan
Av. Ipiranga, 200, Centro Histórico de São Paulo