A produção de couro é um dos mais antigos ofícios da civilização. A peça mais antiga encontrada data de mais de 5 mil anos atrás e mostra que o couro já era usado para diversas finalidades, como roupa, sandália e até na construção de artigos para luta.
Hoje, o couro é uma indústria que vale US$ 100 bilhões por ano (dado da Economist), além de ser um produto reconhecido por sua durabilidade.
Porém, cada vez mais, os consumidores ficam a par das etapas envolvidas na produção de lindas bolsas, sapatos, sofás e tantos outros artigos. Não apenas tem a questão do animal, mas também o uso de diversos processos químicos e centenas de milhares de quilômetros gastos em transporte.
Agora, chegou a hora da tecnologia fazer a grande virada nos hábitos de consumidores e empresários do couro. E o melhor: não será através de novos tecidos sintéticos, mas sim de um material que é, em muitos aspectos, igual ao couro. A principal diferença? Ele não vem de um animal e sim de “plantações” em fábricas.
Na ponta dessa descoberta, está a empresa americana Modern Meadow, que há alguns anos reúne cientistas, engenheiros, biólogos e designers trabalhando na criação do primeiro couro biofabricado, o Zoa. Os benefícios são muitos comparados ao couro natural: não vem do animal, é mais consistente e não causa desperdício, já que a pele natural normalmente vem com manchas, cicatrizes e formas irregulares.
Este ano, eles começaram os testes tendo como colaboradores grandes marcas de roupas, sapatos, móveis e carros que não podem ter seus nomes revelados ainda. Mas espera-se que estes produtos entrem no mercado a partir de 2018 e que em cinco anos já poderemos perceber uma grande mudança nos materiais usados por muitas indústrias.
A start-up arrecadou mais de US$ 50 milhões com investidores para realizar seu experimento, que deve ser um dos principais agentes de transformação dos próximos anos, junto a outras fábricas tecnológicas que estão surgindo.
“Capaz de ser qualquer densidade. Criar qualquer forma. Assumir qualquer textura. Combinar com qualquer outro material. Ser de qualquer tamanho. Um líquido. Um sólido. Uma anomalia. Crescido com a intenção de fazer coisas de valor real, que existem não apenas para servir os seres humanos, mas para coexistir com tudo”.
Como ele é feito?
Para fazer seu couro, o Modern Meadow começa com uma cepa de fermento geneticamente modificada para produzir uma proteína idêntica ao colágeno bovino, que é o que dá força e elasticidade à pele. “Temos robôs que fazem uma peneira por milhares e milhares de células e pegam somente as melhores para produzir a mais elevada qualidade de colágeno”, conta Andras Forgacs, CEO da empresa.
São cadeias longas de aminoácidos, enrolados em trio para formar hélices triplas que, por sua vez, são enroladas para produzir fibras. Uma vez que as fibras estão lá, são organizadas em camadas que são, para todos os efeitos, folhas de couro cru. Estes podem então ir para curtimento, tingimento e acabamento. “Controlando a composição do material, podemos controlar sua força, flexibilidade, durabilidade e estética”. Uma área pode, por exemplo, ser rígida enquanto outra é suave. “Normalmente, ao escolher entre tecidos naturais e sintéticos, ou você tem uma coisa ou outra. Tem conforto, mas não tem alta performance. Ou é algo super tech, mas sem a estética que você quer. É lindo, mas não veste bem… Com os tecidos biofabricados como o Zoa, você tem todas as capacidades técnicas, de alta performance e as funcionalidades do sintético junto com a estética e o conforto”, diz Suzanne Lee, Chief Creative Officer da Modern Meadow.
Adicione aí outros benefícios sustentáveis. “A forma como construímos o nosso material significa que podemos juntar vários processos separados em um, criando economias maciças de água, energia e produtos químicos, como corantes e tratamentos”, diz Suzanne.
É o couro feito fora dos abatedouros, que vem da natureza e não do animal. É a tecnologia permitindo a sustentabilidade. O próximo passo. E ele está mais perto do que imaginamos.