Foto da campanha da coleção “Exclusive Conscious” da H&M ©Terry Richardson/Reprodução
Já falamos anteriormente sobre uma das maiores apostas da indústria de moda para produzir conscientemente: a parceria entre grandes conglomerados e pequenas marcas surgidas na última década com o intuito de propor alternativas sustentáveis à fabricação, bem como pensar a reutilização de matérias-primas inutilizadas. No entanto, é possível observar também um movimento interno de algumas empresas na busca de reestruturar seus moldes organizacionais para colocar-se à frente, na vanguarda das novas exigências do mercado. A H&M, segunda varejista que mais lucra no mundo, logo atrás da Zara (grupo Inditex), já tem mostrado há algum tempo sua intenção de estabelecer-se como pioneira do “eco-fashion”. Além de desenvolver, desde 2011, linhas especiais a base de materiais orgânicos, a rede sueca lançou no dia 12 de abril um relatório onde apresenta as “ações conscientes” tomadas no ano anterior e algumas das medidas planejadas para o futuro.
A H&M pretende, como afirmou no início de abril Lucy Siegle em sua coluna hospedada no jornal britânico “The Guardian”, posicionar-se como a solução ética no inconstante mercado da moda. No já mencionado relatório de “ações conscientes”, assinado por Helena Helmersson, que ocupa o subjetivo cargo de Chefe de Sustentabilidade, a varejista coloca-se da seguinte forma: “Nós somos uma das companhias de moda líderes no mundo, e com a liderança vem a responsabilidade. H&M é moda e sustentabilidade – não apenas uma coisa ou outra”. Alegando transparência, a marca elenca uma série de números conquistados ao longo de 2011, como “mais de 442 mil trabalhadores em Bangladesh foram instruídos sobre seus direitos desde 2008”, “H&M economizou 300 milhões de litros de água na produção de denim”, “100% das nossas sacolas plásticas são feitas de materiais recicláveis” ou ainda “Mais de 2.3 milhões de peças foram doadas a causas de caridade”. Ademais, até o momento, aproximadamente 7,6% de todo o algodão que a H&M utiliza é orgânico; a empresa espera que até 2020 seja 100%.
Fotos da campanha da coleção “Exclusive Conscious” da H&M ©Terry Richardson/Reprodução
As medidas tomadas pela H&M são bem-vindas, mas, como a própria Helmersson afirmou ao “The Guardian”, não há garantias de que tais ações evitem todos os impactos ambientais e reclamações trabalhistas: “Eu não acho que garantia seja a palavra correta. Muitas pessoas pedem garantias: ‘Você pode garantir as condições de trabalho?’, ‘Pode garantir zero de produtos químicos?’. Claro que não podemos quando somos uma companhia tão imensa operando em condições tão desafiadoras. O que eu posso dizer é que nós fazemos o melhor que podemos com muitos recursos e direção clara do que devemos fazer. Nós estamos trabalhando realmente muito duro”. Para tentar diminuir quaisquer riscos, a H&M investiu em cerca de 100 profissionais de CSR (sigla de Corporate Social Responsability, responsabilidade social corporativa, em português), dos quais 75 são auditores que fiscalizam regularmente as fábricas dos fornecedores da rede sueca, além de ter produzido uma série de vídeos a respeito da moda sustentável.
– Vídeo “H&M sobre moda sustentável”, produzido pela própria varejista sueca:
Em matéria de 27 de março, a correspondente do FFW em Milão, Juliana Lopes, escreveu sobre uma palestra de Rebecca Earley, diretora do Textile Futures Research Centre (Centro de Pesquisa de Futuros Têxteis), entidade ligada à Central Saint Martins de Londres. Nesta ocasião, Lopes adiantou que, em conversa informal, a britânica mencionou que um grupo da instituição já está trabalhando com a varejista sueca e que “a H&M quer mudar o jeito de trabalhar”. Lopes, como a maioria de nós, não acreditou inicialmente nas “boas intenções” da H&M, mas só o fato da gigante do fast fashion ter iniciado o debate e se posicionado a favor da busca de formas de produção mais conscientes é algo infinitamente positivo para uma indústria acostumada a produzir sem freios em busca do lucro.
Além da preocupação com a fiscalização das fornecedoras, a H&M – e qualquer outra marca que se proponha a produzir “sadiamente” – enfrentará um empecilho talvez ainda maior: a demanda frenética por novidades. Se há 15 anos eram desenvolvidas duas grandes coleções (Outono/Inverno e Primavera/Verão), hoje as varejistas colocam quase que semanalmente peças novas à disposição do consumidor. O próprio conceito de “fast fashion” parece incompatível com o respeito à sustentabilidade. Então como instituir praticamente e disseminar esse modelo ético para outras empresas? Esta é uma questão que ainda não tem uma resposta unânime, mas Helena Helmersson pareceu sincera ao afirmar que estão trabalhando para descobrir uma solução viável. Já Earley se estendeu um pouco mais ao falar da dificuldade com nossa correspondente: “Estamos fazendo pouco a pouco, criando algumas peças isoladamente nos novos moldes de produção menos impactantes para a natureza e as pessoas”.
Acreditar ou não acreditar é uma questão de escolha, seja ela fundamentada em fatos ou pura ingenuidade. No entanto, como já dito acima, é um alívio perceber a cada dia um novo posicionamento de empresas e consumidores.