FFW
newsletter
RECEBA NOSSO CONTEÚDO DIRETO NO SEU EMAIL

    Não, obrigado
    Aceitando você concorda com os termos de uso e nossa política de privacidade
    FFW x Meio Fio: saiba tudo o que rolou na mostra do projeto no Teatro Oficina
    Festa que marcou o fim do projeto Meio-Fio 17 / Cortesia
    FFW x Meio Fio: saiba tudo o que rolou na mostra do projeto no Teatro Oficina
    POR Redação

    Mostra Meio Fio e Resistência

    Por Giuliana Mesquita

    2017 foi o ano de falar sobre diversidade e representatividade como nunca antes— e isso só tende a aumentar daqui pra frente. Na moda, na propaganda, no cinema, na tv e, por que não?, na arte. O conceito elitista de que arte é feita para poucos e por poucos vem caindo por terra. A mostra Meio-Fio 2017 é prova disso. Mapeando as expressões artísticas que vêm de todas as regiões da cidade, o projeto culminou em um dia de arte feito por todos e para todos. Skate, roupas garimpadas, design, funk, periferia, centro, som, ruídos, incômodo. Tudo pode ser arte na mão das pessoas certas.

    O Teatro Oficina é símbolo artístico dessa resistência contra o preconceito que a arte carrega por tantos anos – o palco perfeito para esse momento. Além disso, o espaço descentralizado possibilitou que as performances acontecessem de lugares inesperados.

    O dia começou com as apresentações do grupo 00:00, refletindo como o tempo se comporta de maneiras diferentes na cidade de São Paulo em instalações feitas por Anna Mascarenhas, Ariana Milliorini, Camila de Alexandre, Igi Ayedun e Renato Custódio.

    Anna Mascarenhas apodreceu flores, plantas e comida por dias na sua própria casa, deixando-os ao ar livre por dias. Essa matéria-prima amorfa refletia sobre como o tempo incide sobre o todo e foi exposta no último andar do Teatro Oficina junto dos sons que Ariana captou do processo e da cidade ao longo de dias.

    Já Renato Custódio construiu uma instalação skatável onde ele e os skatistas presentes realizaram, por quase uma hora, wallrides (manobra de skate em paredes de 90 graus). As marcas das rodas nas paredes formaram um desenho em um canvas, criando uma obra de arte fruto de sua performance. Enquanto isso, os sons eram captados por um osciloscópio que transformou o beat de cada movimento em ondas sonoras.

    Foto: Cortesia

    Foto: Cortesia

    Igi Ayedun e Camila de Alexandre entraram logo em seguida para cantar ao som das batidas de Ariana Milliorini. Do alto da parede de vidro do Teatro Oficina elas emitiam sons em um dueto que descreveram como a nova linguagem das deusas. Em um segundo momento, cartazes do artista Samuel d’Saboia foram expostos em sua performance. Neles, lia-se “Povo Preto resiste” e “A Líbia também é aqui”. Ariana fez a base ao vivo com os sons que captou da cidade de São Paulo durante as últimas semanas enquanto as meninas cantavam. O som ríspido foi feito para incomodar, assim como a escultura que Igi fez de argila após observar um morador de rua no centro da cidade. O boneco, colocado a altura dos olhos na fonte do teatro, é feito para que todos sejam obrigados a observá-lo.

    O segundo projeto a se apresentar foi o grupo Para Charlotte Maluf, obrigado por tudo, composto por Ivana Wonder, Ana Arietti e Flavia Madeira. Neste momento, o teto retrátil do teatro fechou. Um vídeo mostrando todas as atividades propostas pelo grupo na Casa Um começa a rodar nos telões: foi um mês de programação com vários workshops, aulas e debates com nomes como Dudu Bertholini e Renata Bastos. Em seguida, Bruno Mendonça recitou um texto ao lado de Leandrissima e Gui Kopanakis, moradores da Casa. “Até quando ficaremos tentando inventar o futuro? Porque 2049 se o futuro projetado em 1982 é tão 2017? O presente em si é o maior Estado de Atopia. Já a distopia pode ser pensada como uma espécie de reconciliação. E a utopia, um projeto que mantém uma relação estreita com o luto. Distopia e utopia, então, são quase intercambiáveis. Como lidar com o presente?”

    Ao fim do texto, Ivana Wonder emerge do último andar do Teatro Oficina, onde havia passado as últimas três horas se montando, cantando a música Minha Missão. Sua voz forte e melancólica ecoou entre as ferragens do Teatro enquanto todos olhavam extasiados. Ao fim de seu número, uma música da Beyoncé começa e Rodrigo, Reinaldo e Bárbara, também moradores do centro, entram fazendo voguing e entregando um “checão” de um trilhão de reais para o Teatro Oficina. O gesto simbólico mostra o apoio do grupo ao teatro, que está ameaçado pelo Grupo Silvio Santos pela possível construção de torres que tapariam a iluminação natural do Teatro e resultaria no seu destombamento.

    O grupo Deslokamento, da voz ao movimento, por outro lado, quis dar voz ao funk, movimento cultural que rompe as barreiras de classe social, é democrático e expressa a cultura da periferia. O vídeo inicial gravado por Marcelo Moraes, Badsista, Lidia Thays, Renatta Prado e Mel Duarte fala da influência que o movimento e o deslocamento têm em suas vidas. Em seguida, Mel entrou recitando uma poesia sobre o corpo negro, a mulher e o funk.

    @melduartepoesia / Cortesia

    @melduartepoesia / Cortesia

    Seguindo o baile, o Bonde do TNT, um dos precursores do Passinho do Romano – dança símbolo do funk paulista, originária da Cidade Tiradentes, extremo leste de SP – entrou em cena para uma apresentação. Todos vestiam Felipe Fanaia, com styling de Lídia Thays, enquanto Marcelo Moraes filmava tudo para o documentário que estão produzindo como parte do projeto. Renatta Prado, produtora da Batekoo, comandou um aulão de funk que levou todo mundo até o chão (figurativa e literalmente). Badsista, um dos nomes mais importantes da nova cena musical do país, fez o som do aulão, além de conduzir a trilha sonora da Mostra inteira.

    O último grupo a se apresentar foi o Identidades, do qual Ariel Nobre, Caroline Rycca Lee, Solenn Robic e Original Favela fazem parte. A performance começou com as luzes do teatro apagados e o som da máquina de costura de Rycca ecoando. Em seguida, Ariel Nobre entrou em cena para declamar Preciso Dizer que Te Amo, um poema que representa e explica a razão de existência do seu projeto. Uma bandeira de mais de oito metros costurada por Caroline com peças garimpadas pelo Original Favela e intervenção gráfica de Solenn cai do teto e invade o espaço. Lia-se Preciso Dizer que Te Amo quando a primeira modelo entrou na passarela. Com mood dos anos 80 e 90 misturado com uma alma de rua que poucos têm no mundo da moda, o desfile terminou com os participantes vestindo o último modelo em um look costurado por Rycca na hora.

    As roupas garimpadas em partes periféricas da cidade tiveram styling de Anne Oliveira e Iris Ingris, do Original Favela, e foram desfiladas com um casting diverso de transsexuais, negros, asiáticos, gordos, magros, crianças. O desfile Identidades mostrou que nem só de elitismo, de padrões de beleza e de roupas com preços absurdos se faz moda. Ainda bem.

    Foto: Cortesia

    Foto: Cortesia

    A Mostra Meio-Fio 2017 foi mais um ato do compromisso e busca do Melissa Meio-Fio em evidenciar o trabalho de artistas que estão comprometidos com as causas e o futuro das suas cidades e comunidades. A exposição-performance-mostra reuniu mais de 500 pessoas no Teatro Oficina com participação de pessoas de todas as idades, raças e orientações sexuais que se juntaram para ver o trabalho que os 18 participantes do projeto construíram nos últimos meses.

    Siga o @meiofio nas redes sociais e leia todas as colunas do projeto no FFW aqui.

    Não deixe de ver
    Moda e comida estão cada vez mais juntas
    Está todo mundo correndo? Como a corrida se tornou o esporte que mais atrai praticantes
    Beyoncé abre inscrições de bolsas de R$25 mil para empreendedores negros e indígenas do Brasil
    O livro é o mais novo acessório da moda. E também o mais cool
    Fresh Prince da Bahia e a revolução cultural da Batekoo
    Maturidade x Plasticidade: Supermodelos, retoques e a ilusão da juventude na moda
    Por que estamos nostálgicos do que vivemos há tão pouco tempo?
    Quiet Luxury: Por que todos querem se vestir como os bilionários?
    Stylists e influencers: até que ponto vai a personalidade quando se terceiriza um estilo pessoal?
    FFW