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    Grandes mulheres: uma feminista nas montanhas sagradas do Tibete
    Grandes mulheres: uma feminista nas montanhas sagradas do Tibete
    POR Redação
    Alexandra David-Néel ©Reprodução

    Alexandra David-Néel ©Reprodução

    Por Fernand Alphen, especial para o FFW

    Sabe quando você chega em casa, depois de um dia longo e a única vontade que tem é de vegetar na frente da televisão? Sabe quando você vai dormir, tenta retroceder no tempo e percebe que ainda lhe restam 20, 30, 50 anos de vida?

    Então você pega um livro na cabeceira: muito prazer Alexandra David-Néel!

    Com dois anos de idade, seu pai, um ativista huguenote e maçom leva a pequena para assistir ao massacre de 147 resistentes revolucionários naquela que foi chamada a primeira experiência bolchevique da história (na época ainda cheia de idealismo e pureza), a Comuna de Paris, em 1871.

    Um batismo e tanto para quem se transformaria numa grande especialista do Oriente, Budista de primeira hora no Ocidente, tanto na teoria quanto na prática, gastando a sola do sapato e a coragem em longos périplos pelos mais inóspitos continentes. Isso depois de ter sido diva de ópera, cantado Violetta da Traviatta em Túnis e Hanoi por exemplo. Sem falar que ela foi uma das maiores feministas da Europa que não se contentou com desfiles burgueses e protegidos segurando cartazes com sacadas publicitárias, mas que acreditava que a mulher precisava provar antes de manifestar.

    Mas sua conquista mais inimaginável foi de ter sido a primeira ocidental a entrar na cidade santa de Lhasa, no Tibete. Este feito equivale mais ou menos a descobrir um outro planeta habitado por seres inteligentes.

    Alexandra, que se banhou na literatura mais intelectual do século, mas também na Doutrina Decreta de Blavatsky e no Livro dos Espíritos de Kardec, casa-se aos 36 anos com Philippe, engenheiro, homem de números. Não acreditam no casamento nem no amor, mas nunca se separam. Ou melhor dizendo, as cartas nunca os separam porque dez dias depois do casório, Alexandra viaja para a Índia onde fica dois anos em uma caverna com um Iogue tântrico. Depois vai para a China, Japão, Coréia. Ao todo, quatorze anos sem reencontrar Philippe.

    Mais tarde, Alexandra que já é uma das poucas mulheres lama, adota um discípulo, Yongden, que irá, com ela, penetrar o Tibete finalmente independente, mas sob influência inglesa. Várias vezes é expulsa, barrada, perde-se na neve e no frio. E depois de tentar despistar sua identidade, fazendo inacreditáveis desvios que a levam até o deserto de Gobi, acaba, quase por acaso, chegando em Lhasa, vestida de andrajos, tingindo a pele de cinzas e o cabelo de pelo de iaque. É dia de festa na cidade santa e uma explosão de cores e ritmos parecem recepcionar os dois fantasmas maltrapilhos. Mas Alexandra não consegue maravilhar-se e já planeja seu retorno.

    Se a extraordinária trajetória dessa mulher de letras, jornalista e exploradora é de tirar o fôlego e que pelo excesso de feitos nos desespera em vez de inspirar, nem por isso, ela não era como a gente, cheia de medos e fraquezas, sonhos e desejos, pecadinhos escondidos e grandezas superlativadas.

    Para a reverência iluminada nos templos sagrados de Lhasa ou para a glória alcançada nos quase 30 livros publicados, para enfrentar seus demônios ou lutar pela própria independência, para provar-se a si mesma ou mostrar a todos que só a coragem é capaz de vencer os papéis que nos atribuem, Alexandra morreu em 1969, aos 101 anos, refletindo nos olhos todos os brilhos dos Himalaias.

    Colaboraram com esse artigo Jean-Pierre Loctin Renato Duo

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