Por Guilherme Meneghetti
Em Santana da Vargem, cidade no interior de Minas Gerais com cerca de 7.322 habitantes (segundo estimativa do IBGE de 2017), vivia Maria Oliveira. A mais velha de seis irmãos, começou a trabalhar cedo, aos 16 anos, como empregada doméstica para ajudar na renda familiar. Fazia de duas a três faxinas por dia. Seu sonho, na verdade, é ser médica. Porém, durante a infância, sempre ouviu dos amigos e familiares que tem tudo para ser modelo, já que possui 1.80m de altura – e até sofreu bullying na infância por conta disso.
Aos 18 anos, soube que na cidade vizinha aconteceria uma seleção de modelos. “Nunca imaginei que eu tinha esse potencial. Fui totalmente desacreditada, simplesmente fui, já que todos me diziam que eu levava jeito”, conta Maria ao FFW. Foi apenas uma resposta para sua vida mudar completamente. Trocou Minas por São Paulo e hoje é aposta da Way, mesma agência de Alessandra Ambrósio, Carol Trentini e Ana Claudia Michels.
Maria carrega no olhar sua história e inocência. É tímida, doce, mas nem por isso deixa de dizer o que pensa. Sente-se de longe a felicidade de suas conquistas. E foi entre um desfile e outro do SPFW que, rapidamente, conseguimos conversar com ela.
“Na minha cidade eu não fazia nada além da faxina e, morando em São Paulo, faço bastante coisa: trabalho, faço testes, castings, desfiles, ensaios, tudo isso conciliando com a aula de inglês. Saio com as amigas, vou a parques, malho, me divirto…”, diz ela que, aos 20 anos, já estrelou editoriais de revistas como Vogue, Elle e Marie Claire Brasil, campanhas da Natura e Renner, além de cruzar a passarela da Modem, Beira e LAB, apenas para citar algumas. “Minha vida mudou completamente pra melhor”.
Se um dia ela não se sentiu representada pela mídia, hoje se sente. Sua maior inspiração, por exemplo, é Naomi Campbell e Maria Borges, a angolana que se tornou a primeiro angel negra da Victoria’s Secret a usar seu cabelo natural. “Acho que é importante, porque isso abre portas para mais meninas e meninos como eu, que sonham em ser modelo ou ter qualquer outra profissão”, aponta ela sobre o momento atual, em que vemos mais diversidade em diferentes veículos. “Acho ótimo, até que enfim esse momento chegou”.
Na nova profissão, seu maior sonho é ser reconhecida mundialmente, embora ainda tenha vontade de ser médica. Pergunto o que mais mudou em sua vida. “Minha personalidade”, ela responde. “Hoje penso totalmente diferente, tenho mais maturidade”.
Ao longo de sua história, o que carrega até hoje é o amor pela família, que continua morando em Minas Gerais, mas sempre que pode, corre para vê-los. “Se Deus quiser, depois do fashion week irei pra lá”, sorri, feliz por conseguir ajudar ainda mais a família – que, aliás, era outro sonho. “Graças a Deus”, suspira.