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    Veteranos da moda: “É a resistência que me leva pra frente”, diz Lino Villaventura
    Abertura do desfile de Lino Villaventura na temporada de Verão 2011 no SPFW / Zé Takahashi / Ag. Fotosite
    Veteranos da moda: “É a resistência que me leva pra frente”, diz Lino Villaventura
    POR Camila Yahn

    Lino Villaventura é o único estilista que participou de todas as edições do SPFW. Este ano ele celebra 40 anos na moda, mais de 20 desfilando – pensar que nesta edição temos designers de 22, 23 anos estreando com suas marcas no Projeto Estufa. “Existe uma parceria com o SPFW, nunca faltei uma edição. Com todas as complicações que acontecem, eu vou de qualquer maneira”, diz em um papo por telefone.

    Lino tem muitas histórias e um legado não só estético, mas também ético para passar para frente. Se a geração jovem pode aprender algo com ele, é ter coragem. Sua estética é particular e reconhecida como dele.  Com Lino, não existe em cima do muro: ou você gosta ou você não gosta. Mas independente de gosto pessoal, um de seus principais pontos fortes, tanto quanto seu talento, é que se trata de um estilista que nunca se dobrou ou se traiu. Ele sempre resistiu e fez as coisas do seu jeito.

    + Veteranos da Moda: veja também nosso papo com Reinaldo Lourenço e Amir Slama

    Abaixo, ele fala sobre sua maior paixão, a moda. De ontem e de hoje.

    Você tem 40 anos de moda e hoje no SPFW vemos marcas com estilistas de 20 e poucos. Como você se manteve firme no mercado por tanto tempo, passando por tantas transformações?

    Olha, trabalhar como eu trabalho, manter minha história e a minha família com uma moda autoral brasileira é muito complicado. Você sabe que brasileiro tem um deslumbramento com tudo o que acontece no mundo, mas tem baixa estima com o que é do Brasil.

    O que você vai mostrar hoje na passarela?

    A minha coleção de hoje tem retalhos históricos do meu trabalho. Um histórico desses 40 anos. Não vou fazer festa, nenhuma grande festa, pois não é o momento. O momento é de trabalhar forte e com afinco e saber que só o trabalho consegue manter o resultado o que a gente pretende. Mas tenho muito orgulho ter conseguido. Você olha e fala: o cara é doido, corajoso. É a resistência que me leva pra frente.

    Você é um dos mentores de alunos do Senai Cetiqt, uma turma que já nasce pensando na moda pro Instagram e que criam as coleções no computador, bem diferente de como você aprendeu. O que você fala pra eles?

    Nós lidamos exatamente com isso. Sinceramente, eu não sei o que eu seria se tivesse  começando agora . Venho de uma época que tinha essa coisa de você mesmo mexer na sua roupa. Era muito bacana. Sou coach de seis meninos e penso nesse excesso de informação que eles têm. Por mais que meu trabalho seja diferente do Alexandre Herchcovitch, Ronaldo Fraga e Lenny, os outros mentores, nós estamos nesse projeto pra ensinar essa turma a quebrar com a rigidez, quebrar paradigmas para poder criar seu próprio universo. Você tem que exercitar para que brote um trabalho original. É com originalidade que você vai conquistar mercados novos.

    Você sempre se manteve fiel a uma estética.

    Até hoje vou na contramão. Faço do jeito que eu quero, que eu gosto, sempre fui assim. Adoro ver o movimento da roupa, sua exuberância, o brilho do tecido. Hoje tenho clientes de todas as idades, do batizado ao casamento e depois ainda visto as filhas e as netas. Minha roupa é para uma mulher com personalidade.

    Como é o seu universo? O que te inspira pra te trazer o desejo de renovação?

    Eu, desde o começo, nunca comprei revista, nunca pesquisei nada. Se acontece alguma coincidência, é uma questão de sintonia, de às vezes a gente olhar pras mesmas inspirações. Eu não sou muito regrado em nada, mas consegui, desde criança, direcionar minha cabeça pras coisas que me emocionam. E quando acontece de não vir nada na minha mente, eu pego o tecido e vou mexer nele. Quando preciso alimentar meu espírito, vou pra um livro. Pra mim, inspiração é algo muito abstrato. Tem coisas que você registra na cabeça e um dia acende uma lâmpada e a ideia vem. Mas depois de 40 anos, você se auto surpreender com seu trabalho… Tem que saber que nem sempre vão acontecer aquelas surpresas que teve uma vez na vida.

    E a sua relação com as modelos? Elas gostam de desfilar pra você porque têm mais liberdade na passarela. Você dirige muito as meninas?

    Eu não gosto de mulher dura andado. E nesse casting que fiz agora, elas vieram todas assim. Uma delas disse: “Lino, posso ser eu mesma?”. Meu amor, você deve ser você mesma! O desfile em que a Isabel Hickmann e a Alicia Kuczman se beijam no final, não fui eu que pedi não. Eu só falei: vocês saíram de uma festa incrível e saem felizes e inebriadas com o clima da festa. Falei isso na hora do desfile porque eu nem ensaio faço. Elas entram na passarela do jeito que querem e acabam desfilando por prazer.

    Isabel Hickmann e Alicia Kuczman no desfile de Inverno 2014 / Agência Fotosite

    Isabel Hickmann e Alicia Kuczman no desfile de Inverno 2014 / Agência Fotosite

    Como é botar um desfile de pé hoje?

    Tá cada vez mais complicado porque está bem difícil de conseguir apoio e patrocínio. Em tempos tão conturbados como o atual, você precisa criar ânimo pra fazer um trabalho como esse. Tem que puxar fundo pela sua imaginação porque estamos numa fase complicada, lutando pra não cair num estado depressivo. Quando consigo fazer um desfilão, eu faço. Mas se não dá, faço do jeito que posso.

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