Por Mariah Cidral
Comprar uma jaqueta que não existe no mundo real? Usar um vestido que só existe nas redes sociais? Pode ainda parecer estranho para a maioria, porém já estamos vivendo nessa realidade virtual há muito mais tempo do que imaginamos. A brincadeira de vestir a Barbie em um jogo online ou trocar a roupa do Mario Bros nos anos 2000 se tornou um mercado gigantesco no mundo dos games, e há algum tempo passou a ser difundido no mundo da moda também. As chamadas skins, são roupas utilizadas pelos jogadores para adicionar poder e proteção, por exemplo, e assim como na vida real, as empresas que entenderam esse novo comportamento, estão comercializando produtos para um público vasto e exigente.
Em abril deste ano o cantor Travis Scott realizou um show ao vivo dentro do jogo Fortnite e quebrou o recorde de público, ao todo mais de 12 milhões de jogadores/espectadores assistiram a performance. Seu avatar gigante interagia com os jogadores e adivinhe, usava roupas digitais muito bem feitas incluindo um par de tênis gigante da Nike. Outro jogo que chamou a atenção dos designers foi o League of Legends, e ganhou collab com a Louis Vuitton que lançou uma série exclusiva de skins para seus jogadores em 2019. Para o mundo real, Nicolas Ghesquière, diretor artístico da marca para coleções femininas, lançou uma coleção cápsula inédita inspirada no famoso game.
skin louis vuitton para o game League of Legends
Falando em games, um exemplo famoso, é o caso do Animal Farm. No jogo, os usuários podem organizar encontros com outros jogadores onde cada um vai vestido como quiser e o melhor você pode até adquirir as roupas de seus amigos. Assim como Barbie Ferreira, uma das estrelas de Euphoria da HBO, que usa o jogo para criar looks incríveis com os amigos, usuários do mundo todo também se vestem de forma criativa e até vendem suas criações online – vale checar a lojinha da Nook Street Market que faz uma alusão a famosa multimarcas londrina Dover Street Market. Para os mais fashionistas, o game também conta com nomes renomados como Valentino, Marc Jacobs e Anna Sui que já oferecem looks lindos aos usuários desde o começo do ano.
Como você pode ter percebido, as roupas digitais têm intuito de serem usadas exclusivamente online e você deve estar se perguntando como isso funciona hoje em 2020. Bem, diferentemente dos jogos online, onde você cria o seu avatar em tempo real, o processo do uso de roupa digital hoje em dia funciona da seguinte maneira: você entra no site da marca, paga pela roupa e faz o upload de uma foto sua de corpo inteiro. Em 24h a empresa retorna a sua foto com a roupa adicionada para você poder realizar o download e postá-la nas redes sociais, por exemplo.
Para muitos a ideia pode parecer surrealista, afinal quem compraria uma roupa para ser usada apenas digitalmente? Porém, com a aceleração do uso de recursos e plataformas digitais, e com o atual impacto ambiental gerado pelas indústrias de fast fashion, roupas digitais podem ser uma ótima alternativa para influenciadores digitais e entusiastas da moda. Desde o surgimento das redes sociais e de influenciadores de moda, a produção da indústria têxtil cresceu 60%, gerando um tremendo impacto no ecossistema.
look digital da The Fabricant Dress. foto: reprodução
Uma alternativa mais sustentável, já que influencers podem assim postar incessantemente o #OutfitOfTheDay sem poluir tanto e sendo até mais criativos afinal, você pode ser quem quiser online, não podemos esquecer também que as roupas digitais além de não se esgotarem, sempre têm o seu tamanho. Em uma era onde a Realidade Aumentada (AR) abre as portas para novas tecnologias, empresas como a Carlings, que teve recorde de vendas no lançamento da sua primeira coleção digital e a The Fabricant, que foi a primeira no mundo a vender um vestido totalmente digital por quase $ 9.500, conseguem revolucionar o mercado em direção ao digital.
Além das empresas que aderiram ao digital, como no caso da Carlings, existem empresas que ja nascem totalmente voltada para o comércio de roupas digitais. A Tribute Brand, por exemplo, é especializada na “moda cibernética sem contato”, e oferece roupas para literalmente qualquer gênero, sexo ou tamanho O coletivo anônimo é formado por membros com experiência anterior em moda, modelagem CGI 3D, design UX e codificação. “Pretendemos melhorar o impacto social do mercado da moda, tornando-o mais acessível e justo, e aspiramos a uma mudança de comportamentos apenas de forma totalmente sustentável” dizem seu seu Instagram.
Filtros
Uma outra maneira de aderir ao uso da roupa digital é através de filtros e uma marca que desponta nessa área é a Ralph Lauren que firmou uma parceria de longo prazo com o Snapchat que permite aos usuários vestir seus avatares online. A Gucci também oferece aos usuários do Snapchat a chance de experimentar quatro tênis exclusivos por meio da nova função de Realidade Aumentada do aplicativo, a Lenses. Além disso, marcas de óculos também têm usado essa abordagem de produtos em forma de filtros em plataformas como o Instagram, como é o caso da By Karen Wazen que sempre disponibiliza os lançamentos online para serem usados nos Stories.
Na comunicação
Durante a pandemia do Covid-19, muitas marcas também têm recorrido ao uso de roupas digitais para serem usadas em desfiles digitais como no caso da Hanifa que realizou o desfile sem mesmo as modelos e todos amaram na internet. Esta é uma ótima alternativa para evitar o contato e ainda promover de maneira criativa uma nova coleção, já que os shows ao vivo foram cancelados em muitas partes do mundo. Aliás, no Brasil acontecerá pela primeira vez a BRIFW, que será totalmente digital (veja a programação aqui) e que merece todo o seu apoio.
Chegou o momento de rever o conceito de propriedade, como já abordado no artigo sobre o aluguel de roupas, as gerações mais jovens têm se habituado ao uso de serviços e produtos por meio de pagamento mensais. Aliado a isso, temos o forte desejo dos jovens em expressar sua criatividade online e a combinação da vida real com a virtual, que em sua maioria passam muito mais tempo em redes sociais e jogando do que interagindo fisicamente com outras pessoas. O interessante para as marcas e empresas é entender como criar essas experiências de maneira física e digita, o chamado phygital para atrair o consumidor nesses dois universos e se tornar “compartilhável”.