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18.05.2020 / Comportamento / por FFW

Texto do leitor: de símbolo anárquico e importante adorno cultural à peça de empatia comunitária

Máscara de tricô da designer da Islândia, Ýrúrarí / Reprodução
Máscara de tricô da designer da Islândia, Ýrúrarí / Reprodução

Por Melody Erlea, em colaboração para o FFW

Mercados e estabelecimentos em cujas portas estão afixadas placas que dizem “Proibido entrar de capacete ou qualquer cobertura que oculte a face” estão substituindo a lei estadual paulistana de 2013 por uma nova medida, em vigor na cidade de São Paulo desde o dia 7 de maio: a obrigatoriedade da máscara.

Uma sociedade que cresceu com preceitos de vigilância que remetem ao romance distópico de George Orwell, 1984 – com câmeras em todos os lugares e um grande medo de rostos ocultados e pessoas anônimas – de repente aceitando a máscara como elemento essencial da nossa convivência.

A máscara, que estamos usando quando saímos de casa como ferramenta de diminuição de contágio pelo Covid 19, esconde nossa principal ferramenta de sociabilização, o sorriso. Já há sugestões nas redes sociais sobre como demonstrar gentileza e educação enquanto estivermos de máscara. Pode parecer óbvio para alguns, mas a verdade é que é muito mais difícil expressar simpatia apenas com nossa voz e olhar, e é mais fácil ter a impressão de grosseria ou frieza quando não vemos nosso interlocutor sorrir. Como interpretar as dicas da linguagem não-verbal quando parte de nossa cara está escondida?

O uso da máscara subverte completamente essa ideia.

A máscara é um símbolo anárquico: ela esconde qualquer performance social que nossos rostos inadvertidamente expressam. Por baixo de uma máscara pode haver qualquer coisa – e é por isso que, mascarados, podemos ser quem quisermos. Não é à toa que super heróis mascarados fascinam nosso imaginário.

O escritor nigeriano Chinua Achebe, em seu romance Things Fall Apart, descreve uma cena em que homens importantes de Umuofia, a vila onde a história se passa, saem de uma casa secreta onde só homens entram, todos mascarados. Com aquelas máscaras, eles deixam de ser homens e passam a ser espíritos e divindade nigerianas, os Egwugwu. Eles se colocam em frente ao habitantes da comunidade para resolver conflitos familiares, questões de furto, acerto de contas e dívidas – funcionam como juízes, cuja autoridade é estabelecida pelos deuses que os incorporam. Dessa maneira, a decisão final de resolução é tomada pelo espírito que habita o corpo mascarado, e não pelo homem que usa a máscara. Isso ao mesmo tempo protege o homem de recriminações e sanciona a decisão, cuja responsabilidade é assumida pela entidade que a máscara representa.

Quando a vila é invadida por homens brancos cristãos, uma dessas reuniões do Egwugwu está ocorrendo. Um dos rapazes mascarados atinge um homem branco com um pedaço de pau, e ele arranca sua máscara num gesto de ódio. Para os habitantes de Umuofia, quando um Egwugwu tem sua máscara arrancada, aquele espírito morre.

Imagem que mostra cultura de mascarados da Nigéria / Reprodução foto Gwilym Iwan Jones
Imagem que mostra cultura de mascarados da Nigéria / Reprodução foto Gwilym Iwan Jones

A entidade só existe enquanto aquela máscara é vestida. O gesto do homem cristão expressa não apenas o pouco interesse cultural – e o pouco respeito – dos colonizadores, mas também carrega uma mensagem simbólica: máscaras religiosas que são desvestidas, à força, para que outra seja, também forçadamente, construída e ensinada.

Não era só nas comunidades da Nigéria que a máscara possuía esse papel de ponte entre o mundo material e espiritual. A característica principal – esconder e revelar identidades – está presente em basicamente qualquer máscara da história da humanidade. Os rituais de fazer e vestir uma máscara costumam ser altamente simbológicos – em muitas culturas acredita-se que o artesão da máscara está em contato muito próximo com o espírito que a habitará, e molda a aparência do acessório de acordo com as energias que recebe.

O psicólogo e neurocientista da Universidade de Princeton, Alexander Toderov, afirma que o ser humano é expert em interpretar rostos. Desenvolvemos essa habilidade constantemente ao longo da nossa vida. Toderov trabalha numa pesquisa que demonstrou que, em menos de 100 milisegundos, formamos julgamentos sobre o caráter, as emoções e as atitudes de alguém – só pelo que enxergamos em sua face. Nosso rosto é uma máscara: sinalizam quem somos no esquema social em que estamos estabelecidos, cria nossa identidade, nos distingue e nos encaixa em grupos, subgrupos, classes.

Ao cobrirmos nosso rosto, mesmo que por recomendação dos órgãos de saúde, estamos também, de alguma maneira, subvertendo a ordem social dos rostos à mostra e nos rendendo ao anonimato de uma outra máscara, física.

As máscaras sociais não se resumem ao rosto. Quando Billie Eilish usa roupas largas, sem forma, à parte das tendências de moda e das expectativas pro corpo feminino, ela tá usando uma máscara. Ao esconder seu corpo, ela se retira da performance de gênero que, muitas vezes, associa nosso sucesso ao nosso corpo. Ela subverte o que é esperado de uma jovem mulher e muda sua narrativa na dinâmica social.

Billie Eilish / Reprodução
Billie Eilish / Reprodução

Máscaras escondem nossa identidade social e nos dão liberdade pra resgatar desejos e personas diversas, para além de identidades de gênero e classe social. Mesmo quando usadas para proteção médica, podem ser customizadas e conter mensagens.

No caso do Covid 19, funcionam como um talismã: estamos frente-a-frente com um inimigo invisível, e para a maioria de nós não há maneiras de combatê-lo ativamente. Mais importante: usar a máscara atualmente é um sinal de empatia e solidariedade comunitária. As mensagens das máscaras e as identidades por trás delas podem ser muitas, mas uma é clara e constante: ao usar uma máscara as pessoas dizem, em silêncio, “eu cuido de você e você cuida de mim”. É uma atitude pelo bem do outro, primariamente, não pelo nosso próprio bem, e portanto é uma ação pela comunidade.

Que precisemos de uma ferramenta que nos torne anônimos e indistinguíveis para que tenhamos uma atitude pelo bem comunitário e não pelo nosso próprio bem é curioso, mas compreensível. Uma máscara que esconde nossas diferenças sociais acaba escancarando o óbvio: no grande esquema da universo, somos todos iguais, e não há máscara social de riqueza, classe, gênero ou escolhas políticas que nos resguarde de doenças, catástrofes ou do incrível poder da natureza.

*Melody Erlea é formada em Letras (USP) e pós-graduada em Comunicação, Cultura e Moda (Belas Artes), cursando mestrado em Moda e Traje de Performance. Trabalha como professora/palestrante, consultora de estilo, e colunista, atualmente na criação de conteúdo do @repeteroupa e responsável pela coluna de moda e cultura pop na Revista AzMina.

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião deste site.

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